Frei Roberto Pasolini conduziu a segunda das quatro pregações de Quaresma em preparação para a Páscoa
Da Redação, com Vatican News

Frei Roberto Pasolini / Foto: Reprodução Vatican News
“Hoje, a nossa saudação ao Santo Padre quase poderia chegar até ele, porque está aqui, perto de nós, mesmo que não possa estar conosco fisicamente. Mas estamos todos muito felizes pelo seu retorno à casa”. Foi com essas palavras que o pregador da Casa Pontifícia, Frei Roberto Pasolini, iniciou a segunda das quatro pregações de Quaresma nesta sexta-feira, 28. Abertas à participação do público, as reflexões são sobre o tema ”Ancorados em Cristo. Enraizados e fundamentados na esperança da Vida Nova”.
Depois da primeira reflexão, em 21 de março, centrada em “Aprender a receber – A lógica do Batismo”, frei Pasolini se deteve em “Ir para outro lugar – A liberdade no Espírito”. Ele traçou alguns episódios da vida pública de Jesus, nos quais se manifesta a sua profunda liberdade e o seu modo de levar a salvação ao mundo. Fiel à sua missão, de fato, Cristo é livre da tentação da onipotência e, através da oração, desmascara o risco de confundir o serviço autêntico com a busca de reconhecimento pessoal.
Não confiar imediatamente
A esse respeito, o frei Pasolini indicou três ensinamentos do Filho de Deus: não confiar imediatamente, saber decepcionar e não exigir. Para explicar o primeiro, o pregador se referiu a uma passagem do Evangelho de João (2, 23-25) na qual se narra como Jesus, embora seja aclamado por muitos em Jerusalém, não confia neles, porque “sabia o que havia no homem”. Essa reação de desapego, explicou o padre capuchinho, desorienta ainda hoje, em uma época em que o individualismo e a competição desenfreada dominam, e a necessidade de ser continuamente apreciado impulsiona a busca constante de likes e notificações.
Mas é justamente desse tipo de reconhecimento rápido e superficial que Cristo permanece distante, pois Ele sabe que o coração do homem, embora seja a morada do espírito e da voz de Deus, é também extremamente frágil, manipulável, inconstante, temeroso. Como Mestre, continuou o pregador da Casa Pontifícia, Jesus espera do homem uma resposta mais consciente e madura. Um crescimento, em suma, que não represente um processo evolutivo mecânico, mas sim a capacidade de avaliar as circunstâncias e de saber administrar a complexidade das relações. Porque as coisas importantes exigem tempo, paciência, compromisso e dedicação. Portanto, o que aparece em Jesus como um frio desapego, enfatiza o frei Pasolini, na realidade é sabedoria e profundo respeito por si mesmo e pelos outros.
Saber decepcionar
O segundo ensinamento de Cristo refere-se, em vez disso, à capacidade de saber decepcionar às expectativas. Para analisar esse tema, o frei Pasolini tomou como ponto de partida uma passagem do evangelista Mateus (15, 23b-24) na qual uma mulher pagã clama ao Senhor para curar a filha. No entanto, Ele “não lhe dirige sequer uma palavra”, nem a caridade de um olhar. A aparente insensibilidade de Jesus diante do sofrimento, explicou o pregador, deriva do fato de que Cristo não segue os passos do Salvador para se sentir importante e não tem medo de ser irrelevante aos olhos dos outros. Pelo contrário: paradoxalmente, Ele salva o mundo precisamente porque não precisa se sentir necessário, mas sempre e somente útil.
A indiferença pedagógica de Jesus
Quando a mulher pagã insiste e se aproxima de Cristo de forma obstinada e corajosa, sem se fechar em seu orgulho e vitimismo, então Ele reconhece a grande fé. Aquela, enfatizou o pregador, capaz de esperar que as coisas possam mudar para melhor. A aparente indiferença de Jesus, então, nada mais é do que uma pedagogia que traz à tona a confiança no coração do homem, a confiança em uma vida melhor.
A esperança que traz paz
O terceiro e último ensinamento de Cristo é sua capacidade de se distanciar do consenso das multidões. Um exemplo disso é o episódio da multiplicação dos pães e peixes, narrado no Evangelho de João (6, 14). Um evento que desperta muito entusiasmo entre as pessoas presentes; no entanto, Jesus se distancia dele, retirando-se para segundo plano, sozinho. Porque Ele conhece – ressaltou o frei Pasolini – a fragilidade interior do homem, que se considera insignificante e é manipulado por todos os tipos de influências e de influencers, em vez de enfrentar o esforço de acreditar em si mesmo.
Jesus retorna aos discípulos somente mais tarde, quando eles estão em apuros, arrastados por uma tempestade enquanto atravessam o Mar da Galileia. Uma tempestade que representa – destacou o padre capuchinho – todos os medos do homem e sua incapacidade de reconhecer a força escondida na fragilidade. No entanto, mesmo nas noites mais escuras, Jesus é a esperança que nunca decepciona e que acalma a tempestade e traz paz.
A importância da liberdade interior
Quando Cristo explica o profundo significado da multiplicação dos pães e peixes, ou seja, o significado do alimento que leva à vida eterna por meio da doação de si mesmo, muitos de seus discípulos o abandonam. Nesse momento, Jesus pergunta aos Doze, aos seguidores mais próximos: “Vocês também não querem ir?” E essa pergunta, disse o frei Pasolini, não é irônica ou chantagista, porque Jesus não precisa de confirmação para continuar seu caminho e não perde a direção de sua escolha de vida. Pelo contrário, sua pergunta é o espelho de uma profunda liberdade interior que não pede a ninguém, a não ser a si mesmo, o preço do próprio desejo.
Não se fechar nas complacências inúteis
Esse aspecto, continuou o pregador, também é evidente nas modalidades verbais recorrentes nos Evangelhos, nos quais há uma mudança gradual do imperativo para o hipotético, de modo a colocar no centro as exigências de uma escolha, de um amor livre e consciente. O Senhor, de fato – acrescentou o frei Pasolini -, não pretende ter sempre filhos prontos e dispostos a fazer a sua vontade; ao contrário, Ele se preocupa se esses filhos não são livres para expressar os próprios sentimentos, acabando fechados no recinto de complacências inúteis, escravos de si mesmos e das expectativas dos outros. Ter a coragem de expressar sinceramente os próprios desejos, por outro lado, abre para uma vida melhor e aproxima do Reino de Deus. Porque a verdade e o amor não precisam se impor, conclui o pregador da Casa Pontifícia, mas sabem esperar que as coisas amadureçam, em plena adesão e liberdade. E é assim que Cristo salva o mundo.