Padre Paulo Renato de Campos recorda orientações da Igreja aos eleitores, como a busca por candidatos preocupados com o bem comum e a dignidade humana
Julia Beck
Da redação
No dia 15 de novembro, 147,9 milhões de eleitores irão às urnas para eleger o prefeito e os vereadores de seus respectivos municípios. Sempre atenta à sociedade, a Igreja Católica, como de costume, dá orientações, a partir de cartilhas e outros meios, sobre a importância do voto consciente.
Segundo a tradição da Igreja, as eleições fazem parte do bom exercício da política, explica o assessor político da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Paulo Renato de Campos, da Diocese de São José dos Campos. O sacerdote recorda que, já teria dito Papa Paulo VI, em sua encíclica “Octogesima Adveniens”: “a política é uma maneira exigente, não que seja a única, de viver o compromisso cristão a serviço dos outros”.
“A participação política significa o exercício da cidadania. O exercício da cidadania corrobora com a busca do bem comum e valoriza a dignidade da pessoa humana”, comenta padre Paulo.
Estes princípios são princípios da doutrina Social da igreja, também citados pelo Papa Francisco, em seu twitter, em 2014, quando afirmou: “peço a todos que tenham a responsabilidade política e que não se esqueçam de duas coisas: a dignidade humana e o bem comum”.
“Os católicos devem ser contra o aborto, contra a eutanásia mas também contra tudo que afronta os direitos humanos e sociais. Na prática precisamos buscar candidatos que se comprometam com a defesa da vida, principalmente dos mais necessitados” – padre Paulo Renato
O assessor político da CNBB destaca que a principal orientação da Igreja para as eleições 2020 é, além do voto consciente, a busca por candidatos comprometidos com a dignidade humana, o bem comum e que valorizem a vida como um todo, desde a concepção até a morte natural.
O sacerdote reafirma também que de nada adianta um católico ser contra o aborto e não valorizar todo aquele que já nasceu e precisa de uma saúde, educação, segurança, condição de trabalho e salário dignos. “Esses direitos sociais e humanos também fazem parte da vida e da defesa da vida. Também de pouco valeria defender esses direitos sociais e humanos, e descartar a vida na sua necessidade maior, que é no ventre”.
Padre Paulo sublinha que o ser humano é digno e não pode ser submetido à indignidade. “Tudo que é indigno deve ser combatido, toda a forma de expor o ser humano a situações indignas devem ser combatidas”, frisou.
Sobre o bem comum, o assessor político da CNBB comentou que os católicos não devem procurar candidatos que não têm um compromisso com o bem comum. Outro critério que é muito importante, de acordo com o sacerdote, é a competência.
“Não adianta votar por amizade, ou porque conheço, ou porque é primo de alguém, ou porque é meu parente. Precisamos nos perguntar: esta pessoa tem competência para exercer este cargo? Precisamos sempre pensar que existem pessoas que dependem do bem público, principalmente os mais pobres, os mais necessitados. Eles precisam de políticas públicas eficientes, então se eu coloco alguém que não tem competência para fazer esta gestão o preço é muito alto”.
Por que se preocupar ou se envolver com a política?
Muitos cristãos se perguntam por que devem se preocupar com a questão política ou se envolverem com ela. De acordo com padre Paulo, isso deve acontecer porque a política é a busca do bem comum, é a busca do bem de todos, da causa comum.
O cristão deve se envolver porque esse ambiente é um ambiente necessário, onde os critérios do Evangelho precisam ser valorizados, frisou padre Paulo. O assessor político da CNBB afirma que é preciso acreditar que o humanismo cristão, Jesus, a antropologia teológica e a forma como a Igreja valoriza a vida e a pessoa pode contribuir para uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.
“A política não é ruim, ela se torna ruim quando pessoas sem valores assumem o controle político, a política ganha valores quando pessoas com valores assumem a política” – padre Paulo Renato
Padre Paulo ressalta ainda que o católico faz sua experiência de fé 24 horas por dia, não se reveste da fé quando está rezando e deixa a fé quando está agindo. Por isso, ao estar no meio da sociedade, os católicos precisam compreender que a política é uma realidade que faz parte da construção de uma sociedade que quer ser civilizada, que quer ser humanizada, que quer ser mais próxima da fraternidade e da justiça, da paz, esclarece o sacerdote.
Veja mais
.: Justiça Eleitoral define Plano de Segurança Sanitária para as eleições
.: Com a pandemia, TSE cria protocolos de segurança para as eleições
O padre alerta para a necessidade da preocupação com o voto. “Precisamos estar preocupados em quem estamos votando, precisamos saber quem são as pessoas que irão cuidar das coisas públicas, saber se aquele que eu estou depositando meu voto no meu município tem um compromisso com o bem comum ou apenas com coisas pessoais, com as suas coisas ou com os interesses de um grupo que ele representa”.
Católicos contra as Fake News
Sobre o tema “Fake News”, o assessor político da CNBB esclarece: “As Fake News na verdade são instrumentos de manipulação. A primeira coisa que devemos saber é que a Fake News não é uma matéria inocente. Ela tem alguém que lucra com ela, seja elogiando demais uma pessoa que não merece um elogio, ou seja deteriorando a imagem de uma outra pessoa que não merecia aquele tipo de avaliação”.
Muitos se perguntam como identificar uma Fake News ou como devem se portar diante dela, reflete padre Paulo. Diante disso, o sacerdote dá algumas dicas práticas:
– Ao receber uma notícia procure qual é o site que a veiculou, quem é o autor e qual é a data de publicação;
– Leia a notícia inteira, não leia só o cabeçalho ou o título;
– Veja se você encontra esta mesma notícia em outros meios de comunicação, como os meios de comunicação que você confia ou nas mídias de inspiração católica. Pesquise, procure saber se aquilo é verdade, verifique se não é uma piada;
– Não dissemine discursos de ódio. Católicos não apoiam o ódio. O apóstolo João diz que Deus é amor, e a palavra mais importante para nós é o amor. Nós não podemos compactuar, muito menos divulgar discursos de ódio;
– Nem sempre a notícia é 100% falsa, às vezes ela começa com uma verdade e depois é manipulada. Muita atenção. Na dúvida não repasse.
O assessor político da CNBB convida os católicos a não divulgarem conteúdos duvidosos e a combaterem as Fake News denunciando.
Leia também
.: TSE está de olho nas fake news nas mídias sociais