Simpósio em Roma marca quarto aniversário da Declaração de Havana entre o Papa Francisco e o Patriarca de Moscou
Da redação, com Vatican News
O dia 12 de fevereiro tornou-se uma importante ocasião ecumênica de comemoração em função do histórico encontro ocorrido em Havana entre o Papa e o Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, Kirill, no início da 12ª Viagem Apostólica que levaria o Pontífice ao México, mas que teve uma etapa no Aeroporto José Martí, em Cuba, local do abraço entre irmãos. Foi um momento intenso, privado, resumido nos poucos pronunciamentos finais, para reafirmar a fraternidade entre as duas Igrejas, seguido então pela assinatura de uma Declaração Conjunta com indicações sobre o caminho futuro.
O histórico abraço em Cuba
“Somos bispos, conversamos sobre nossas Igrejas, concordamos que a unidade é construída no caminho”, foram as palavras do Papa, enquanto o Patriarca Kirill se referiu a um trabalho comum em algumas frentes, como a paz, o respeito pela vida, a família e a dignidade humana.
E é exatamente sobre esses temas que as etapas sucessivas do caminho comum foram articuladas, sempre no dia 12 de fevereiro de cada ano. O primeiro ano foi em Freiburg, seguido por Viena e Moscou nos anos sucessivos.
O martírio e o empenho dos cristãos no Oriente Médio, o despovoamento da região, o fim da vida e a dignidade do enfermo estiveram no centro dos encontros entre o cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e Metropolita Hilarion, chefe do Departamento das Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou.
O encontro de Roma e o tema dos Santos
Quatro anos após aquela histórica Declaração, Roma acolhe o simpósio organizado sobre outro tema de interesse comum: “Os Santos – sinais e sementes da unidade”. O programa tem início às 15h30 desta quarta-feira, 12, com a conferência na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino e um concerto noturno na Basílica de São João de Latrão, onde o Coro Sinodal de Moscou se apresentará junto com o Coro da Capela Musical Pontifícia Sistina.
Ao Vatican News, o cardeal Kurt Koch falou sobre os frutos amadurecidos nesses quatro anos de caminhada entre as Igrejas Católica e Ortodoxa de Moscou, as razões da escolha do “ecumenismo dos Santos” para o Simpósio em Roma, mas também o que o Papa, que compartilha o caminho em andamento passo a passo, tem no coração:
Sim, podemos falar de frutos, porque ter um melhor conhecimento uns dos outros é muito importante para o progresso do ecumenismo. Devo mencionar a este respeito duas coisas: a primeira é a transferência da relíquia de São Nicolau para Moscou e São Petersburgo, um grande evento, porque representou a oportunidade para todos os crentes participarem do movimento ecumênico, e muitos russos ortodoxos e católicos foram para a veneração desta relíquia. E depois temos uma tradição já iniciada, ou seja, uma troca recíproca de visitas, em que um grupo de sacerdotes ortodoxos de Moscou vêm a Roma para visitar a Igreja Católica, para conhecer melhor a realidade da Igreja Católica e um grupo de sacerdotes católicos, por sua vez, vai a Moscou para encontrar a Igreja Ortodoxa. Parece-me uma excelente oportunidade para superar preconceitos que acumulamos na história e para ter um melhor conhecimento uns dos outros. Esses são para mim os frutos mais importantes.
Este ano o aniversário do encontro, depois de Freiburg, Viena e Moscou, é realizado em Roma, e a escolha do tema recai sobre os “Santos como sinais de unidade”. O senhor poderia explicar a escolha do local e do tema, se faz referência ao “ecumenismo dos santos” do qual o senhor já falou em diversas ocasiões?
Organizamos o terceiro aniversário em Moscou sobre o tema crucial da eutanásia e estabelecemos que a próxima vez seria em Roma. Em Roma, escolhemos o tema dos Santos como sinais de unidade, porque em Roma temos a veneração de muitos Santos e sobretudo dos Santos da Igreja indivisa, que une Oriente e Ocidente. Nesse sentido, o ecumenismo dos Santos ajuda muito a incluir os povos, os crentes, porque é muito belo que os chefes das Igrejas se encontrem e também é necessário que os teólogos discutam as problemáticas teológicas, mas é importante incluir os crentes nesse movimento ecumênico e a veneração dos Santos e a reflexão sobre a santidade são temáticas muito importantes.
Portanto Santos que atraem os povos e que zelam também pela unidade?
Sim, porque eu penso que os Santos, no Oriente e no Ocidente, já encontraram a unidade no céu e podem ajudar a encontrar unidade na terra, são portanto, os apoiadores desse caminho ecumênico nesta terra.
No programa em Roma, além dos pronunciamentos, estão previstos dois testemunhos de vida dados pela unidade. O que nos ensinam e por que foram incluídos nesta ocasião?
Todos somos chamados a nos tornar Santos, todos nós batizados. Tornar-se Santos quer dizer viver com Deus e, se encontramos a unidade em Deus, também encontramos unidade entre nós. Nesse sentido, como disse o Papa Francisco em um congresso, “não há ecumenismo sem santidade”. O caminho da santidade é o fundamento de todo o movimento ecumênico, na santidade podemos reencontrar a unidade em Cristo, porque Cristo quis a unidade. O fundamento de todo o movimento ecumênico é a oração sacerdotal de Jesus em João, capítulo 17, na qual Jesus reza pela unidade dos discípulos. Para mim, isso é muito tocante. Jesus não ordena a unidade e não diz aos discípulos: “Vocês devem fazê-la”, mas ele reza. Nesse sentido, também nós cristãos não podemos fazer nada melhor do que a oração pela unidade no caminho da santidade.
O senhor havia indicado duas outras direções do caminho comum a ser seguido após Havana: o ecumenismo cultural e o ecumenismo da ação comum. Existem progressos também nesses campos?
Sim. Quarta-feira de manhã temos a reunião do Comitê Cultural entre a Igreja Ortodoxa de Moscou e a Igreja Católica. Queremos discutir quais projetos podemos organizar para o futuro. Para mim é muito importante o ecumenismo cultural, porque na história, por exemplo, pela divisão entre Ocidente e Oriente, não estavam em primeiro plano as temas teológicos, mas sim temáticas culturais, porque no Oriente e no Ocidente as pessoas não se entendem mais uma com a outra e aprofundar um melhor conhecimento da cultura do outro ajuda muito a reencontrar a unidade e também uma colaboração social é muito importante, porque muitos desafios que temos neste mundo hoje são comuns e dar um testemunho comum sobre esses grandes desafios é muito importante, como fizemos no ano passado em Moscou sobre a eutanásia, que é um grande desafio nos países da Europa.
A situação dos cristãos no Oriente Médio – cada vez mais complicada, cada vez mais delicada, outro tema de preocupação comum – de que maneira interpela hoje quem trabalha com o ecumenismo, em nível de comprometimento, em nível dos projetos?
Eu penso que o principal desafio é que muitos cristãos deixam o Oriente Médio e vão embora e isso é uma coisa importante, porque o Oriente Médio é a terra de origem do cristianismo. O Oriente Médio sem cristãos não é mais o Oriente Médio e também um Oriente Médio com poucos cristãos não é mais o Oriente Médio. Nesse sentido, nós cristãos de todo o mundo temos a responsabilidade de dar nossa contribuição para que os cristãos possam permanecer. Isso é importante não somente para os cristãos do Oriente Médio, mas para o cristianismo de todo o mundo.
Imagino que o Papa Francisco acompanhe vocês neste caminho comum que está sendo realizado. Sabe-se se há algo em seu coração, um desejo, uma preocupação em particular?
Você sabe que o Santo Padre sempre faz referência a essa realidade trinitária: caminhar juntos, rezar juntos, colaborar juntos. Essas três coisas estão muito a peito do Santo Padre e, sobre este caminho deseja caminhar no futuro em todas as relações ecumênicas. Mas devo dizer que para alcançar a plena comunhão, a plena unidade, também temos necessidade de diálogo teológico, mas há a decisão das Igrejas Ortodoxas de fazer esse diálogo não de forma bilateral, mas multilateralmente, e para isso temos a Comissão internacional mista para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas, e não podemos fazer esse diálogo somente em nível bilateral com Moscou.