CF 2025

Ecologia Integral: Igreja mantém preocupação com o cuidado da Criação

Antes de Francisco, o Papa João Paulo II e Bento XVI já alertavam para a necessidade de cuidar da Criação; aqui no Brasil, Campanha da Fraternidade apresenta o tema da ecologia pela nona vez

Kelen Galvan
Da Redação

Papa Francisco planta uma árvore no jardim da nunciatura apostólica em Vilnius, Lituânia, em 23 de setembro de 2018 / Foto: Abaca Press via Reuters

O tema da Ecologia não é uma novidade dentro da Igreja Católica. A Campanha da Fraternidade vem, pela nova vez, dar visibilidade à temática e conscientizar a respeito. Francisco também não é o primeiro Papa a se dedicar à causa, mas seguiu os passos de seus predecessores que há anos abordaram, de diversas formas, a importância de cuidar de toda a Criação.

O Papa João Paulo II tem vários escritos sobre o cuidado com a Criação. Em dezembro de 1989, por exemplo, afirmou que “o respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana inclui também o respeito e o cuidado pelo universo criado, que está chamado a unir-se com o homem para glorificar a Deus”. E em outro trecho do mesmo discurso disse ainda que “a gravidade da situação ecológica revela quanto é profunda a crise moral do homem. Se faltar o sentido do valor da pessoa e da vida humana, dá-se o desinteresse pelos outros e pela terra”.

Leia também
.: Chamado à santidade comporta a sensibilidade ecológica, diz sacerdote
.: Situação planetária é grave, mas mudança é possível, diz especialista

Também Bento XVI comentou em diversos textos sobre este tema, defendendo que o cuidado com a Criação é imprescindível. Em sua encíclica Caritas in Veritate, ele indica a necessidade de se reconhecer na natureza o “resultado maravilhoso da intervenção criadora de Deus” e usufruir dela respeitando o “equilíbrio intrínseco da própria criação”.

Em outra ocasião, na mensagem para o Dia Mundial da Paz, em 2008, Bento XVI destacou: “Devemos cuidar do ambiente: este foi confiado ao homem, para que o guarde e cultive com liberdade responsável, tendo sempre como critério orientador o bem de todos. Obviamente, o ser humano tem um primado de valor sobre toda a criação. Respeitar o ambiente não significa considerar a natureza material ou animal mais importante do que o homem; quer dizer antes não a considerar egoisticamente à completa disposição dos próprios interesses, porque as gerações futuras também têm o direito de beneficiar da criação, exprimindo nela a mesma liberdade responsável que reivindicamos para nós”.

A Ecologia Integral

Dando continuidade a esta preocupação, o Papa Francisco escreveu a primeira Encíclica dedicada ao tema, a Laudato Si’, que completa 10 anos em 2025. Francisco quis destacar a grandeza e a urgência dos desafios no cuidado com a Criação e apresentou o termo Ecologia Integral.

“Antes, se tinha uma noção de uma ecologia ambiental, ou seja, não poluir os rios, não desmatar etc. E quando se pensava no ser humano, nos pobres, na defesa da vida, na falta de saneamento básico…, falava-se de uma ecologia humana. Com o Papa Francisco, há uma fusão e surge o termo ecologia integral”, destaca o assessor da Pastoral da Ecologia da Diocese de Lorena (SP), Padre AIlton Evangelista.

O sacerdote explica que, com esse termo, o Papa Francisco quis mostrar que tudo está interligado, ou seja, a crise climática afeta o ser humano. “Por ecologia integral, ele consegue contemplar o ser humano na sua plenitude. Então, pensar uma ecologia integral é pensar numa boa educação, numa alimentação saudável, em saúde mental das pessoas, diz dessa comunhão de todas as coisas. Então, cuidar da criação é cuidar da natureza, mas é cuidar também do homem”.

Pensar uma ecologia integral é pensar numa boa educação, numa alimentação saudável, em saúde mental das pessoas, diz dessa comunhão de todas as coisas.

Padre Ailton Evangelista

Padre Ailton lembra que a Laudato Si‘ trouxe apontamentos a partir de pesquisas, não apenas dados religiosos, que ajudam a verificar a urgência climática deste tempo. Ele ressalta ainda que o documento consegue alcançar as pessoas de fora da Igreja. “Eu conheço grupos de outras religiões que estudam a Laudato Si’, grupos de psicólogos, e universidades que leem a Laudato Si‘. Então, de certa forma, o Papa, se comunica não só com os religiosos, mas com todos os homens de boa vontade”.

A proposta da CF 2025

“Fraternidade e Ecologia Integral” é o tema escolhido pela Igreja no Brasil para as reflexões da Campanha da Fraternidade 2025. Este é o nono ano, desde o início das campanhas, em 1962, que um tema de ecologia é abordado.
Padre Ailton lembra que a primeira referência foi em 1979, com o tema “Por um mundo mais humano: Preserve o que é de todos” e destaca que é possível perceber os frutos desse empenho em promover uma consciência ecológica.

“É um tema que foi sendo oxigenado, podemos dizer assim. Se fosse mais [abordado], haveria um empenho ainda maior. Há um histórico de algumas iniciativas já desde 79, tentando aproximar a campanha, essa temática e a movimentação da igreja em si, a partir das suas pastorais”, afirmou.

O sacerdote ressalta que, para o engajamento das pessoas com relação ao cuidado com a Criação, é preciso conhecimento. O grande desafio é conseguir mostrar para as pessoas que cuidar da Criação é cuidar do ser humano. “Uma vez que a gente consegue trazer esse ensino para as pessoas, elas conseguem naturalmente se engajar mais no cuidado com a Criação, não desperdiçando alimentos, não desperdiçando mais água, reciclando boa parte dos seus lixos e assim por diante”, exemplifica.

O trabalho da Pastoral da Ecologia

A Pastoral da Ecologia Integral teve início no Paraná e foi reconhecida oficialmente pela CNBB no ano de 2019. Trata-se de uma iniciativa da Igreja Católica em prol de promover a conscientização e a ação quanto a preservação da nossa Casa Comum.

Padre Ailton explica que, na Diocese de Lorena, há alguns núcleos da Pastoral da Ecologia, mas ele acredita que esta temática precisa estar em todas as outras pastorais e espaços religiosos e de educação, como as universidades. “Eu acredito que vale muito a pena estudar e se aprofundar nesse tema, porque há um certo profetismo no fato da Igreja conseguir dialogar sobre um tema tão atual”, defende.

O sacerdote lembra que às vezes as pessoas questionam o fato de tratar um tema de ecologia durante a Quaresma. Mas ele explica que, assim como a Ressurreição de Jesus trouxe um mundo novo, a Criação também precisa ser reflexo dessa Ressurreição.

“E quando nós olhamos para o desmatamento, para a poluição dos rios, para uma caça esportiva desenfreada, nós não vemos Ressurreição, mas a morte. Então nós, como bons cristãos, deveríamos fazer de tudo para que também a Criação  fosse tocada pela Ressurreição de Jesus, que é o caminho que nós fazemos agora na Quaresma”, concluiu.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo