Desiderio Desideravi

Carta do Papa sobre liturgia traz preciosas indicações, comenta bispo

Dom Walmor de Oliveira Azevedo destaca contribuição da Carta Apostólica Desiderio Desideravi, do Papa Francisco, sobre liturgia

Mauriceia Silva
Da Redação

Para bem celebrar a liturgia, conforme indica o Papa Francisco, deve-se reafirmar o compromisso com a unidade da Igreja, tão bem zelada pelo Sucessor de Pedro. / Foto: Zolnierek – IStock photos

“Preciosas indicações” do Papa Francisco, é como o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, recebe a recente Carta Apostólica Desiderio desideravi. O documento foi publicado na solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29 de junho, e aborda a formação litúrgica do povo de Deus, recordando o significado profundo da celebração Eucarística, tal como emergiu do Concílio. 

Segundo o arcebispo, a carta do Papa contribui para que o Povo de Deus aprofunde nesta reflexão necessária. E isso deve ser feito de modo cotidiano, reafirmando a importância de bem celebrar a liturgia, vencendo perspectivas individualistas e subjetivistas. Ele ressalta que o documento não apresenta novas normas, mas sim sublinha a importância daquelas estabelecidas na reforma litúrgica pós-conciliar para orientar.

Retomada do Concílio

A liturgia é expressão viva da unidade cristã-católica, define Dom Walmor. “Contribui para que cada discípulo de Jesus, ao participar de uma celebração, independentemente do lugar, sinta-se em casa, reconheça que aquela comunidade é ‘lugar familiar’, todos reunidos ao redor de Cristo”. 

Para o professor de história da Igreja Felipe Aquino essa carta é muito importante, pois se nota que, muitas vezes, a liturgia é mal celebrada, especialmente a santa missa. Segundo ele, o Papa quer que se retome realmente a importância da celebração correta da liturgia, especialmente da missa.

“E ele chama a atenção para que a gente retome aquilo que o Concílio Vaticano II decidiu, encontrou de importante e trouxe de relevante, sobretudo no documento que fala da reforma litúrgica, as modificações que houve, a Sacrosanctum Concilium.”

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Felipe Aquino destaca o fato do Papa Francisco retomar essa questão que, na verdade, já foi abordada por todos os papas, sobretudo o Papa João Paulo II. “Ele [Francisco] deixa claro que não é uma nova instrução, apenas ele quer que se entenda o significado profundo da missa, de acordo com o Concílio Vaticano II, de acordo com a sagrada congregação do culto divino. Ele quer que essa carta seja também uma meditação, que as pessoas meditem sobre o que está acontecendo.”

A formação nos seminários

Para o vice-presidente da Comunidade Canção Nova, padre Wagner Ferreira, uma boa preparação compreende também a formação de todos os fiéis, sobretudo os ministros que presidem, em nome de Cristo, a ação litúrgica.  “Tal formação visa uma compreensão mais profunda do sentido teológico da liturgia, o que ajudará na participação ativa e frutuosa dos fiéis.”

Dom Walmor reforça a necessidade da formação em liturgia, na perspectiva teológica, como algo indispensável no caminho de preparação para a vida sacerdotal. “O seminário é onde são estabelecidas bases essenciais que nortearão toda a vida no ministério presbiteral”, sublinha Dom Walmor.

“Os seminaristas são aqueles que, depois, como sacerdotes, vão celebrar a Eucaristia. Então é muito importante que a formação seja teológica, porque toda a teologia é uma vivência teológica. A Igreja reza conforme ela acredita. Ela crê conforme ela reza. Então, a liturgia tem um papel fundamental na vida da Igreja”, complementa Felipe Aquino. 

Para padre Wagner, os seminaristas têm a oportunidade de estudar sobre Liturgia, justamente porque se preparam para assumir o ministério ordenado para que também possam prestar o serviço litúrgico ao povo de Deus.

“Como seria maravilhoso se todos os fiéis, e não somente os seminaristas, descobrissem a liturgia como elemento fundamental da própria vida, ou seja, que no “altar” do próprio coração se encontrassem de tal forma o mistério cristão celebrado na liturgia e o viver quotidiano, que este mesmo viver fosse impregnado da graça redentora de Cristo, tornando os fiéis testemunhas do Reino de Cristo no mundo.” afirmou o sacerdote.

Abandonar polêmicas e ouvir o Espírito

O Papa Francisco encerra a sua carta com um pedido: “Abandonemos as polêmicas para ouvirmos juntos o que o Espírito diz à Igreja, mantenhamos a comunhão, continuemos a nos maravilhar com a beleza da liturgia”.  

Sobre este trecho, Dom Walmor explica que o Papa, na maestria de seu magistério, sempre contribui para, cada vez mais, abrir a Igreja à ação amorosa do Espírito Santo de Deus. Assim, ajuda a comunidade eclesial a enxergar. 

“As polêmicas nascem de subjetivismos, da defesa, muitas vezes cega, de perspectivas individualistas, ou mesmo de grupos que se orientam simplesmente por suas preferências, fechando-se nas suas próprias visões. A Igreja não é assim.”

O arcebispo reforça que o Santo Padre tem sublinhado a dimensão sinodal que caracteriza a vida eclesial, todos protagonistas, ninguém pode ser excluído.  Para ele, essa convivência sobre as bases da fé, que gera inclusão, precisa ser orientada por incansável trabalho no horizonte da unidade. E isso não significa apagar diferenças de cada um, mas respeitar o magistério dos Sucessores de Pedro, a colegialidade daqueles que continuam a missão dos apóstolos, a comunidade episcopal.

“Uma Igreja em que todos precisam se reconhecer servidores, humildemente abertos à ação amorosa do Espírito Santo de Deus”, conclui.    

 

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