Sacerdote explica que, especialmente na Quaresma, os cristãos são chamados a dar esmolas, enxergando “Cristo no irmão necessitado”
Kelen Galvan
Da Redação

Foto: Oleg Troino’s Images via Canva Pro
Uma prática presente em várias religiões, mas que no Cristianismo tem uma importância especial. Dar esmolas não deve ser considerado um simples gesto de caridade, mas uma atitude concreta de solidariedade. Seguindo os passos de Jesus Cristo, que ensinou a amar o próximo como a si mesmo, os cristãos são convidados a partilhar e ajudar os mais necessitados.
Para a Igreja Católica, a esmola é um ato de caridade. “A virtude teologal da caridade tem como uma de suas consequências a liberalidade ao ajudar o próximo (cf. Mt 22,39), que se efetiva na ajuda espontânea, pontual e concreta chamada de ‘esmola’”, destaca o pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Cachoeira Paulista (SP), Padre Rafael Beck.

Padre Rafael Beck / Foto: Arquivo Pessoal
Ele destaca que a esmola deve ser fruto da caridade do coração e afirma que o ideal é doar “vendo Cristo no irmão necessitado”, conforme disse Jesus no Evangelho de São Mateus: “Estive com fome e me deste de comer” (Mt 25, 35).
“Não é um estranho, um outro que está me importunando: trata-se de Cristo! A esmola deve ser acompanhada de um tratamento humano e digno com o indigente, não um ato público de vanglória ou um gesto frio para cumprir uma regra. O Papa Francisco disse certa vez, provocando-nos: “Não se trata de jogar uma moeda nas mãos de uma pessoa necessitada. Para aqueles que dão esmolas, faço duas perguntas: vocês tocam as mãos das pessoas ou jogam a moeda sem tocá-las? Vocês olham nos olhos da pessoa que estão ajudando ou desviam o olhar?”, explicou.
Esmola é também um ato de penitência
Padre Rafael lembra que o Catecismo da Igreja Católica (CIC) cita a esmola como uma obra de misericórdia, “um dos principais testemunhos da caridade fraterna” e “uma prática de justiça que agrada a Deus” (cf. CIC 2447)
Além de um ato de caridade, a esmola também é um ato de penitência, especialmente durante a Quaresma. Padre Rafael destaca que ela é um remédio contra a avareza e a ganância, e nos aproxima do ideal de santidade.
“Há muitos cristãos que reduzem o pecado às violações contra a moral sexual, mas são apegados ao dinheiro. Colocam o dinheiro na frente das outras pessoas, dos funcionários e até de familiares. (…) [A esmola] é um remédio contra o veneno do apego ao dinheiro. Os pecados contra a moral normalmente são públicos, circulam nas rodas de fofoca e são estigmatizantes: ‘vejam fulano, está vivendo assim, escorregou!’. Mas o acúmulo e a avareza são aplaudidos como sinônimos de sucesso e esperteza”, alerta.
Questionamentos sobre a esmola
O hábito de dar esmolas tem sido deixado de lado nestes tempos, muito por se considerarem pobres demais para doar algo. Sobre isso, padre Rafael afirma que “mesmo quando não temos bens materiais para compartilhar, podemos ofertar nossa atenção, carinho e olhar”.
Outros preferem não dar esmolas devido à desconfiança de que aquele dinheiro será usado indevidamente. Nesse caso, o sacerdote afirma que o ideal é que a esmola seja bem direcionada, e sirva para ajudar e edificar o irmão.
“Conhecer a vida daqueles que precisam realmente ou das instituições que necessitam é muito importante, algo que, por exemplo, muitos vicentinos fazem ao visitar o lar das famílias que são assistidas. Isso humaniza a esmola. Porém, há casos em que não há possibilidade disso. Quando encontramos com um irmão e a necessidade é urgente, então, é preciso liberalidade do coração e boa-fé em sua palavra”, aponta.
Padre Rafael recorda que no século XIII, com o surgimento das Ordens Mendicantes, muitos frades sobreviviam da esmola das pessoas nos centros urbanos. Eles subsistiam basicamente “confiando na Providência de Deus”. “A esmola era valorizada, portanto, porque mantinha Santos! Dar esmola significa ajudar homens e mulheres de Deus”, enfatizou.