Na Semana Nacional da Vida, coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa critica mentalidade retrógrada de que a pessoa idosa está em uma fase de “inutilidade”
Julia Beck
Da redação
Com o tema “Idosos, memória viva da nossa história” e o lema “Na velhice darão frutos” (Salmos 92, 15), a Igreja vive até a próxima terça-feira, 8, a Semana Nacional da Vida. Com 86 anos, Maria Antônia da Silva Braz afirma que nem sempre a sociedade reconhece e valoriza a pessoa idosa. No entanto, ela sublinha que muitas pessoas e famílias compreendem o papel dessas pessoas: a transmissão da sabedoria do passado.
“Como idosa, sou muito feliz, graças a Deus! Sinto-me amada pelos meus familiares, principalmente”, conta. Maria Antônia cita o Papa Francisco e a defesa feita pelo Pontífice quando o assunto é a pessoa idosa. “Louvo a Deus pela atenção que o Papa Francisco nos dá”, acrescenta. Ela também ressalta a necessidade de os católicos defenderem a vida: reflete “o amor de Deus para conosco”.
Pessoa idosa não é inútil
A coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, Sandra Michellim, frisa que a sociedade está cruelmente valorizando a cultura da produtividade, ou seja, se a pessoa produz tem valor. Com isso, ela sublinha que a pessoa idosa é vista em uma fase de “inutilidade”, esquecendo de toda a bagagem que ela traz de conhecimento, experiência, contribuição e fé.
“É um desafio para todos nós mudar essa mentalidade retrógrada a partir de atitudes e ações. Como cristãos, somos desafiados a lutar por políticas públicas efetivas que garantam seus direitos”, defende.
Para Michellim, é preciso cuidar e respeitar as pessoas idosas da própria família, olhar com misericórdia para as que estão fragilizadas, em situação de vulnerabilidade e, principalmente, ensinar aos mais novos valores como cuidado, respeito e proximidade.
Cultura do descarte x cultura do cuidado
Na mesma linha da cultura da produtividade, a cultura do descarte é duramente criticada pelo Papa Francisco e deve ser “erradicada veementemente”, indica a coordenadora nacional da Pastoral da Pessoal Idosa. Ela lembra que o Santo Padre considera essa “cultura” uma ameaça à sociedade, um sinal de pobreza humana.
“Ele [Papa] afirma que é preciso substituir a cultura do descarte pela cultura do respeito e do cuidado, que não deve ser permitida, pois cada pessoa é um presente sagrado e único”. Desse modo, Michellim aponta que toda a sociedade é convidada a ver o valor da pessoa idosa.
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A cultura do cuidado contrapõe então a cultura do descarte. “Todos nós somos merecedores de cuidados, desde o nascimento até quando as limitações chegam na idade avançada”. Ela lembra que todos foram e são criados à imagem e semelhança de Deus. Sendo assim, nenhuma pessoa deve passar por restrições, sejam elas alimentares ou de cuidados.
“Enquanto Igreja, nós devemos defender a vida em todos os estágios. É importantíssimo compreender que envelhecer é um privilégio negado a muitos”, alerta.
Pastoral da Pessoa Idosa
A Pastoral da Pessoa Idosa é um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e tem como idealizadora a médica pediatra e sanitarista, Zilda Arns. Sua fundação é datada de 5 de novembro de 2004.
O grupo surgiu através dos líderes da Pastoral da Criança. Ao visitarem famílias em todo o Brasil, eles eram questionados sobre assuntos relativos às pessoas idosas – tema que não tinham conhecimento suficiente. Ao tomar conhecimento dessa demanda, Michellim recorda que Dra. Zilda viu a necessidade de criar uma pastoral que atendesse também essa faixa etária.
“A partir daí, começou o processo de fundação. Vários fatores contribuíram para a efetivação da pastoral, como o Ano Internacional da Pessoa Idosa, a Carta aos Anciãos escrita pelo Papa João Paulo II e a Campanha da Fraternidade de 2003, que tinha como tema: “’Vida, dignidade e esperança’”.
A coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa sublinha os acompanhamentos de forma sistematizada e mensal que os membros do grupo realizam através das visitas domiciliares. “Levamos o afeto e a ternura de Deus, além de orientações e prevenção”, pontua. Ela acrescenta que o acompanhamento por parte dos líderes consiste na criação de vínculos afetivos e sociais. “Eles se tornam a ponte entre a pessoa idosa, a comunidade e as redes de apoio”.