Saudação do arcebispo Stanisław Gądecki e o pronunciamento do cardeal Seán Patrick O’Malley abriram a Conferência Internacional sobre a Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis nas Igrejas da Europa Central e Oriental
Da redação, com Vatican News
A conferência que tem como tema “Nossa missão comum de proteger os filhos de Deus”, foi aberta em Varsóvia na tarde deste domingo, 19. Ela foi iniciada com a saudação do presidente da Conferência Episcopal da Polônia, de Dom Stanisław Gądecki, que recordou as palavras de Jesus citadas no Evangelho:
“E quem acolher em meu nome uma criança como esta, estará acolhendo a mim mesmo. Quem provocar a queda de um só destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos. É inevitável, sem dúvida, que eles ocorram, mas ai daquele que os provoca” (Mt 18,5-7).
Curar da indiferença
Jesus, disse Dom Gądecki, “usa palavras muito duras contra quem faz mal às crianças, mas também contra aqueles que poderiam ignorar este mal”: “Cuidado! Não desprezeis um só destes pequenos! Eu vos digo que os seus anjos, no céu, contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus. Porque o Filho do homem veio salvar o que se havia perdido” (Mt 18: 10-11).
“Estamos aqui reunidos – disse ele – para sermos curados da indiferença e mais ainda do desinteresse pela injustiça”. “O Santo Padre também nos lembra que não se trata somente de abusos sexuais, mas também de abusos de poder e de consciência. Quando encontrei as vítimas, muitas vezes ouvi histórias em que o abuso sexual foi precedido por uma manipulação que voltada a obter uma confiança ilimitada e, portanto, um poder sobre a vida da pessoa, que se encontra indefesa contra tal manipulação”.
Abusos sexuais e abuso de poder
Aquele que abusa, acrescentou o presidente da Conferência Episcopal polonesa, “não raramente convence a vítima de que aquilo que a exorta e a força a fazer não é errado, na verdade é certo. Desta forma, o abuso sexual muitas vezes está vinculado a um abuso de poder e de consciência, aprofundando a devastação que esse crime causa não só no psiquismo, mas também na alma da pessoa lesada”.
Em seguida, o arcebispo Gądecki descreve o compromisso da Igreja na Polônia no campo da proteção das crianças, na prevenção dos abusos e na escuta e acolhida das vítimas. Cada diocese e congregação religiosa masculina tem um delegado com a tarefa de receber e relatar casos de abuso. Após a publicação do Motu Proprio do Papa Francisco Vos estis lux mundi, seu papel aumentou ainda mais.
Reconhecer erros
“Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que este processo de mudança se deve não somente ao trabalho persistente de muitas pessoas e instituições da Igreja, mas também à pressão da opinião pública, que justamente exige de nós atitudes e ações claras em este assunto”.
O prelado disse que existe o perigo de pensar “que já estamos fazendo muito”, enquanto a realidade é que “diante da enormidade da dor e dos grandes prejuízos, muitos esforços heroicos permanecem insuficientes” e “novas tragédias são descobertas”.
“Também temos necessidade de reconhecer honestamente que cometemos muitos erros e também negligenciamos aqueles que foram feridos na Igreja. Este enfrentar a verdade, entretanto, não deve nos levar ao derrotismo ou ao desespero. É necessária a conversão pastoral de que fala o Papa Francisco, uma mudança de pensamento e de ação em que acolher e proteger a criança e ajudar as vítimas setorne uma prioridade”.
Um compromisso comum
Por fim, Dom Gądecki convidou à esperança na consciência do compromisso comum de toda a Igreja: “Estamos aqui como leigos, consagrados, sacerdotes e bispos. Somente assim poderemos assumir de forma frutífera e eficaz esta importante e exigente tarefa. Antes que possamos dar àqueles que foram injustiçados a sensação de não estarem sendo abandonados, devemos experimentar isso também nós. O Senhor ressuscitado e a comunidade do seu povo estão conosco. Nós não estamos sozinhos”.
Cardeal O’Malley: é preciso corações que escutem
Depois da saudação de Dom Stanisław Gądecki e da projeção da mensagem em vídeo do Papa Francisco por ocasião do encontro organizado pela Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores e pelas Conferências dos Bispos da Europa Central e Oriental, tomou a palavra o cardeal Seán Patrick O ‘Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores.
O purpurado, aprofundando o tema da necessária conversão pastoral, disse que se trata de um “caminho essencial para o que o Papa Francisco chama de transformação missionária da Igreja”. Este caminho de “conversão reconhecendo a verdade do ocorrido” não pode prescindir da abordagem “de um coração que escuta”.
“As pessoas que ouviram os testemunhos dos sobreviventes – disse o cardeal – sabem como são difíceis essas experiências e como representam um desafio”. “Pessoalmente – acrescentou – conheci centenas de sobreviventes: seus testemunhos são de partir o coração, especialmente quando dizem que ninguém queria acreditar neles quando relataram o abuso pela primeira vez”.
Reconhecer os sobreviventes e pedir seu perdão
O presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores sublinhou que quando as pessoas vítimas de abusos por parte de um sacerdote, religioso ou outra pessoa da Igreja contam a sua história, devem receber “eles e o seu testemunho com o mais profundo respeito”. É preciso também ter consciência do fato de que há muitas pessoas, “que sofreram a tragédia dos abusos sexuais na Igreja”, que “nunca falaram com ninguém sobre sua experiência”.
Para alcançar a conversão pastoral, é preciso “reconhecer de maneira honesta e transparente as pessoas foram abusados”. “Ouvir a dor dos outros, os sofrimentos do povo de Deus leva a admitir o mal cometido e o sofrimento infligido”. E é importante “pedir desculpas sinceras aos sobreviventes”. Mas ‘pedir perdão’, sublinhou o Cardeal O’Malley, “requer mais do que fazer uma declaração ou realizar um encontro”. Trata-se de um processo “que raramente acontece em um momento e que às vezes nunca será concluído”. “Ouvir os sobreviventes, reconhecê-los e pedir-lhes com sinceridade o seu perdão – concluiu o purpurado – são passos indispensáveis neste caminho de renovação”.