O padre iraquiano Ragheed Ganni foi assassinado pelo Estado Islâmico após celebrar a Santa Missa. O jovem sacerdote enfrentou por cinco anos ameaças constantes de morte do ISIS para não celebrar a Eucaristia
Da Redação, com Agências
Em 3 de junho de 2007, logo após o final da missa de Pentecostes, em sua paróquia do Espírito Santo em Mosul, o padre Ragheed foi assassinado pelos terroristas do Ísis junto com três jovens diáconos, Basman Yousef Daud, Wahid Hanna Isho e Gassan Isam Bidawed, depois de afastar a esposa deste último.
Em seguida, os assassinos colocaram explosivos ao redor de seus corpos para que ninguém pudesse chegar perto. Somente à noite, a polícia de Mosul conseguiu retirar os explosivos e recolher os corpos. Padre Ragheed Ganni, um iraquiano de Karemlesh, uma aldeia da Planície de Niníve, tinha 35 anos e era reconhecido na comunidade por seu exemplo de vida cristã e amor pela Eucaristia.
“Quando tenho a hóstia na mão, é Cristo que segura a mim e a todos nós juntos no Seu amor”, testemunhou o jovem sacerdote na vigília do Congresso Eucarístico Italiano em Bari, dia 28 de maio de 2005, que tinha como tema a frase dos 49 mártires de Abitene, massacrados durante a perseguição de Diocleciano “Sem domingo não podemos viver”.
Algumas testemunhas dizem que o líder dos terroristas, antes de atirar, dirigiu-se a ele: “Eu disse para fechar a igreja, por que você não a fechou?”. O jovem padre respondeu: “Eu não posso fechar a casa de Deus”.
“Os terroristas – disse padre Ragheed naquela noite em Bari – pensam em nos matar fisicamente ou pelo menos espiritualmente, fazendo-nos afogar no medo. Por causa da violência dos fundamentalistas contra os jovens cristãos, muitas famílias fugiram. Em tempos de paz, tudo é óbvio e se esquece o grande dom que recebemos. Com a violência do terrorismo, descobrimos que a Eucaristia, o Cristo morto e ressuscitado, nos dá a vida. E isso nos permite resistir e ter esperança”.
Concluída a fase diocesana para a beatificação
Ragheed nasceu em Karemlesh dia 20 de janeiro de 1972. Formou-se em engenharia na universidade local em 1993; de 1996 a 2003, estudou teologia em Roma na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, obtendo a licença em teologia ecumênica. Além do árabe, ele era fluente em italiano, francês e inglês. Foi correspondente da agência internacional “Asia News” do Pontifício Instituto para Missões Estrangeiras.
Em 22 de abril de 2017, na celebração em memória dos novos mártires na Basílica de São Bartolomeu em Roma, o Papa Francisco usou a estola vermelha do padre Ragheed. Em 1º de março de 2018, a Congregação para as Causas dos Santos aprovou o encaminhamento da causa de beatificação para ele e seus diáconos, solicitada pelo Bispo caldeu de Detroit, Monsenhor Francis Kalabat.
Em 27 de agosto de 2019, terminou a fase diocesana da causa. A Igreja Caldeia o recorda ao lado de seu bispo, Dom Paulos Faraj Rahho, sequestrado em 29 de fevereiro de 2008, e encontrado morto duas semanas depois.
Um mártir da Eucaristia
O padre Rebwar Basa, seis anos mais jovem do que o padre Ragheed Ganni, foi seu aluno em Bagdá; e, em 2017, por ocasião dos 10 anos da morte do sacerdote mártir, escreveu o livro “Um sacerdote católico no Estado Islâmico: a história do padre Ganni”. O livro foi publicado pela “Ajuda à Igreja que Sofre”. Para o padre Basa, ele foi “um mártir da Eucaristia”.
“Certamente podemos defini-lo como um novo mártir da Eucaristia, porque, antes de tudo, a Eucaristia está no centro da vida de todo cristão, especialmente na vida de um sacerdote. Padre Ragheed viveu isso perfeitamente: celebrou a Missa mesmo nos momentos mais difíceis, quando sua vida estava ameaçada”, conta Basa.
O sacerdote conta ainda que, muitas vezes, sua igreja foi atacada, ele perdeu seus entes queridos, seus fiéis, mas, apesar disso, ele continuou a celebrar a Missa, porque sabia que sem a Eucaristia não há vida para um cristão, não há unidade, não há comunhão com Cristo e com toda a Igreja. É por isso que padre Ragheed sempre celebrou a Santa Missa com alegria, e deu um grande testemunho, mesmo nos momentos de perseguição.
“Durante cinco anos, ele resistiu e sua última ação foi a Santa Missa: ele deu a comunhão aos seus fiéis e, logo em seguida, foi morto com os três diáconos. Assim, ele também deu seu sangue por Jesus, pela Igreja e por seus fiéis. Portanto, ele é, verdadeiramente, um mártir da Eucaristia”, testemunha.