Passo a passo

Conclave, eleição e início do ministério petrino: entenda próximos passos

Padre lembra fatos históricos em torno do Conclave e explica papel dos cardeais na eleição do novo Papa

Julia Beck
Da redação, com colaboração de Jéssica Marçal

Foto: Joyce Mesquita

Além do Tempo Pascal, a Igreja vive dias de oração pela alma do Papa Francisco e os preparativos para o Conclave – que já tem data marcada: 7 de maio. Com a morte do Pontífice argentino, o doutorando em História da Igreja e membro da Diocese de Cornélio Procópio (PR), padre Eduardo Guimarães, lembra que a sede está vacante, ou seja, a Igreja Católica está sem um pastor.

Após o primeiro sentimento de tristeza e luto pela perda de Francisco, “um pastor tão amado”, como recorda o sacerdote, viveu-se o velório e o sepultamento. Agora, começa-se a vislumbrar uma continuidade da sucessão apostólica. Iniciada com São Pedro, a Igreja prepare-se para viver um novo momento.

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Para uma melhor compreensão do Conclave, padre Eduardo recorda algumas informações históricas. A primeira é que nem sempre o Papa foi eleito por um grupo. “No início da história da Igreja, os Papas eram eleitos de formas diferentes. Muitas vezes, eram indicados pelos seus predecessores, outras por governantes civis, algumas poucas vezes, com a participação maior dos leigos e leigas, por aclamação”, recorda.

Cardeais na história da Igreja

Depois, a partir do século XXI, no ano de 1059, o Papa Nicolau II estabeleceu que a eleição do Romano Pontífice seria reservada apenas aos cardeais. “É muito importante lembrar que essa figura do cardeal, ela já aparece no século IV. O cardeal era aquele que servia a Cristo, que servia à Igreja fora da sua igreja local, como acontece ainda hoje”, enfatiza o presbítero.

Do século IV em diante, o sacerdote lembra que foram vários os momentos em que os cardeais tiveram uma grande importância. Unidos e juntos com o Papa, os cardeais constituem um consistório – que é uma reunião onde eles ajudam o Papa a decidir e a deliberar sobre algumas situações na Igreja, frisa padre Eduardo. Além disso, a partir do século XII, do ano 1150, esse grupo de cardeais foi chamado de “Colégio Cardinalício”.

O doutorando em História da Igreja explica que o Colégio Cardinalício foi composto de diversas maneiras ao longo dos anos. Inicialmente, não havia um número pré-estabelecido de cardeais. No período medieval, o grupo era composto por 20 cardeais. Depois, em 1586, com uma reforma do Papa Sisto V, o número de cardeais foi elevado para 70. Já no século XX (século passado), o Papa João XXIII estabeleceu que todos os cardeais deveriam ser bispos – deste modo, caso um padre seja nomeado cardeal, ele deve ser primeiramente ordenado bispo.

Em 1971, padre Eduardo conta que o Papa Paulo VI estabeleceu que os cardeais que tivessem mais de 80 anos não participariam do Conclave, ou seja, da eleição do próximo Sumo Pontífice. Então, hoje, quem tem direito a voto no conclave são os cardeais até 80 anos.

Reforma de João Paulo II

“Depois, a outra grande reforma dos nossos tempos no Conclave, no Colégio Cardinalício, foi realizada pelo Papa João Paulo II, em 1996, com o documento Universi Dominici Gregis (1996)”, revela padre Eduardo. Papa João Paulo II estabeleceu várias coisas para o período do Conclave, a primeira delas foi o segredo. Os cardeais não são autorizados a contar para outras pessoas aquilo que acontece durante os dias da eleição do próximo Papa.

No período de “Sé Vacante”, como este que está em vigor, João Paulo II definiu que o Colégio de Cardeais deveria agir somente em situações urgentes. Decisões que “podem esperar” devem ser deixadas para o próximo Papa, enfatiza o sacerdote. Como exemplo, o doutorando em História da Igreja citou a canonização do beato Carlo Acutis. “Ela foi suspensa e será o próximo Papa a definir a nova data”, complementa.

Congregações Gerais

Neste período que antecede o Conclave, acontecem em Roma as Congregações Gerais dos cardeais – até esta terça-feira, 29, foram seis. As Congregações Gerais, frisa padre Eduardo, são reuniões consideradas preparatórias. Nelas são definidas pontualmente três coisas: o traslado do corpo do Papa (da sua residência até a Basílica de São Pedro); as celebrações e os horários relacionados ao sepultamento do Santo Padre; e os preparativos para a eleição do próximo Pontífice.

O sacerdote enfatiza que com a morte do Papa, as funções dos cardeais que trabalham na Cúria são retidas, permanecendo apenas dois cardeais em suas funções: o Camerlengo e o Penitenciário-Mor. “O Camerlengo é quem preside os ritos fúnebres do Papa e o Penitenciário-Mor é o responsável pelas questões ‘urgentes’ da Misericórdia e da Penitência”, complementa. No Pontificado de Francisco, o Camerlengo é o Cardeal Kevin Joseph Farrell, enquanto o Penitenciário-Mor é o Cardeal Angelo De Donatis.

Início do Conclave

Papa João Paulo II estabeleceu que o Conclave deveria começar até 15 dias após a morte do Sumo Pontífice, no entanto, em 2013, o Papa Bento XVI modificou o documento de seu antecessor, por meio do Motu Próprio Normas Nonnullas. Entre as mudanças, foi retirada a necessidade de esperar 15 dias para o início do Conclave. Deste modo, a data pode ser antecipada (se constar a presença de todos os Cardeais eleitores), por razões justas, ou prorrogada – no entanto, não mais do que 20 dias.

Após o sepultamento, a Igreja vive nove dias de missas pelo Romano Pontífice falecido, o chamado “Novendiali” – período em vigor. O lugar do conclave é sempre o território do Vaticano. Padre Eduardo destaca que os cardeais se hospedam na Casa Santa Marta e participam das votações na Capela Sistina (já fechada para as votações), em absoluto sigilo. Além disso, o Conclave tem início na Basílica de São Pedro, com uma missa na intenção do Papa que será eleito. Na sequência, acontecem dois momentos de meditação para os cardeais, também sob sigilo.

Para que o novo Papa seja eleito, ele precisa de dois terços dos votos de todos os cardeais votantes presentes no Conclave (este ano, serão 133 cardeais eleitores). No primeiro dia, acontece apenas uma votação, que é no período da tarde. Nos dias seguintes, acontecem até quatro votações, duas no período da manhã e duas no período da tarde.

Eleição e início do Ministério Petrino

“Quando o Romano Pontífice é eleito, ele então deve aceitar aquela eleição. Depois, recebe a homenagem dos cardeais votantes e aparece [da sacada do Palácio Apostólico] diante de todos os fiéis presentes na Praça São Pedro”, afirma o doutorando em História da Igreja.

Após a eleição e apresentação aos fiéis, existe uma data de início do Ministério Petrino. Padre Eduardo recorda que o novo Papa é Bispo de Roma, por isso deve tomar posse em sua diocese. Essa cerimônia acontece em uma celebração na Basílica de São João de Latrão, em uma data definida pelo novo Pontífice.

Panorama do atual Colégio Cardinalício

O Colégio Cardinalício tem 135 cardeais eleitores e 117 cardeais não eleitores, com mais de 80 anos. No total, são 252 membros. Dos cardeais eleitores, dois não irão participar do Conclave por motivo de saúde (a informação foi divulgada nesta terça-feira, 29), por isso, este ano a eleição do novo Papa contará com 133 cardeais votantes.

Entre os cardeais eleitores, 108 foram criados pelo Papa Francisco, 22 pelo Papa Bento XVI e cinco pelo Papa São João Paulo II. Em um panorama mundial, a Europa conta com 53 cardeais, a América, 37; a Ásia, 23; a África, 18; e a Oceania, quatro cardeais. A Itália é o país que tem o maior número de cardeais eleitores, são 17. Depois, os Estados Unidos, com 10, e em terceiro lugar, o Brasil, com sete cardeais eleitores. O Conclave que vai eleger o sucessor do Papa Francisco será o 26º que acontecerá na Capela Sistina.

“Esse momento é de oração pela Igreja, pelo futuro Papa, pelos cardeais, para que possam estar atentos à voz do Espírito Santo, que dará à Igreja, a todos nós, um Papa que o nosso tempo, que a Igreja precisa”, incentiva padre Eduardo.

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