SANTO AGOSTINHO

Comunhão, interioridade e serviço: conheça a espiritualidade agostiniana

No dia em que a Igreja celebra a memória de Santo Agostinho, conheça a ordem inspirada pelo Doutor da Graça e na qual o Papa Leão XIV iniciou sua vida religiosa

Da Redação, com Vatican News

Santo Agostinho. Philippe de Champaigne, óleo sobre tela.

Reconhecido em todo o mundo por sua capacidade intelectual, Santo Agostinho tem sua memória celebrada nesta quinta-feira, 28. Em meio ao vasto legado que o Doutor da Igreja deixou, uma carta em específico deu origem a uma regra de vida que influenciou completamente a vida monástica no Ocidente.

Santo Agostinho viveu entre 354 e 430. Filho de Santa Mônica, recebeu da mãe a fé católica, mas não seguiu seu exemplo. Após anos de uma vida de prazeres, algo ainda o inquietava, e ao empreender uma busca pela verdade, voltou-se novamente para Deus.

Frei Caio Pereira, OSA / Foto: Arquivo pessoal

A vida de Santo Agostinho transformou-se completamente. O secretário de animação vocacional e juvenil da Província Agostiniana Nossa Senhora da Consolação do Brasil, frei Caio Pereira, OSA, observa que a vida e as experiências do santo, em sua jornada de conversão, levaram-no à decisão de viver como servo de Deus. Diante disso, decidiu viver uma vida comunitária com um grupo de amigos, em comunhão.

“Agostinho compreendia que, para buscar a Deus, apesar de este ser um processo também pessoal, não se tratava de um processo sozinho”, afirma o frade. Ele conta ainda que a experiência despertou o interesse de uma comunidade feminina, que desejava viver como Santo Agostinho e seus irmãos. A carta que ele enviou como resposta deu origem à chamada Regra de Vida de Santo Agostinho.

Os pilares da espiritualidade agostiniana

Frei Caio destaca como uma das principais características da espiritualidade agostiniana traduzidos na Regra a busca da comunhão. Em sua visão, este aspecto resume toda a teologia de Santo Agostinho e se expressa também nos três pilares desta espiritualidade: a vida interior, a vida em comunidade e a vida a serviço à Igreja e à humanidade.

Em relação ao primeiro pilar, o religioso comenta que a vida interior é um espaço para a experiência de Deus e dos irmãos, mas também se torna o lugar de discernimento das ações, de onde deriva o fundamento da vida comum e da comunhão.

“Agostinho convidava as pessoas a entrar dentro de si mesmas, a retornar ao coração, para dele elevar o coração. É um movimento quase ‘de queda para o alto’, de fora para dentro, de dentro para o alto, retornando para dentro de nós, no contato com o nosso interior, do qual nós conseguimos sair melhores e também estar mais próximos de Deus”, indica frei Caio.

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Sobre a vida à serviço, o agostiniano sinaliza que a comunhão na espiritualidade agostiniana leva a um impulso apostólico que se estende a todos. “O objetivo é que a comunidade religiosa sirva como modelo para a comunidade eclesial e esteja disponível à comunidade eclesial como fez Santo Agostinho”, aponta.

Origem da Ordem de Santo Agostinho

Apesar de a Regra de Santo Agostinho ter surgido no século V, a ordem religiosa que carrega o nome do bispo de Hipona só foi fundada séculos mais tarde.

Em 1244, o Papa Inocêncio IV proclamou a bula Incumbit nobis. Por meio deste documento, ele convocou todas as comunidades eremitas que seguiam a Regra de Santo Agostinho a se unificarem em uma única comunidade, que, primeiramente, recebeu o nome de Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho.

Frei Caio explica que essa decisão se deu no contexto do evangelismo, um movimento de reforma dentro da Igreja com o objetivo de retornar às fontes evangélicas. Foi neste período que surgiram as ordens mendicantes, em uma iniciativa encabeçada por São Domingos de Gusmão e São Francisco de Assis.

“Nós surgimos nesse cenário de crescimento das fraternidades apostólicas; são essas comunidades que, vivendo da mendicância, fizeram um trabalho apostólico nas cidades que, na época, estavam surgindo na Europa”, detalha frei Caio.

Um filho de Santo Agostinho na Cátedra de São Pedro

Foto: Reprodução Vatican Media

Séculos se passaram desde então, e a Ordem de Santo Agostinho segue com o seu serviço à Igreja e à humanidade. Contudo, essa história ganhou, recentemente, um novo capítulo, no qual um agostiniano se destaca ao assumir a missão de suceder São Pedro e liderar a Igreja: trata-se de Robert Francis Prevost, eleito Papa Leão XIV.

Em seu primeiro discurso após ser escolhido como Pontífice no Conclave, fez questão de frisar: “Sou agostiniano, um filho de Santo Agostinho”. Diante disso, afirmou aos católicos do mundo inteiro que “podemos caminhar todos juntos em direção à pátria que Deus nos preparou”.

Todos juntos. Segundo frei Caio, o Papa Leão XIV poderá contribuir com a Igreja, enquanto agostiniano, desde essa perspectiva de uma eclesiologia de comunhão. Em linhas mais simples, o Santo Padre “traz uma experiência missionária muito grande de serviço à Igreja, uma experiência de disponibilidade a compartilhar a vida e também compartilhar a sua existência no serviço ao próximo e à Igreja”.

“Isso nos orienta que a Igreja vai continuar sendo em saída, em missão”, prossegue frei Caio. “Em um momento de tantos conflitos e tantas guerras, o pedido por paz e unidade do Papa vem, desde a sua existência, desde a sua opção de vida como agostiniano. Então, acho que ele pode contribuir muito com isso também”, conclui.

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