Campanhas solidárias

"Compaixão significa se colocar no lugar do outro", afirma padre

As baixas temperaturas desta época do ano despertam também a necessidade de ajudar aquelas pessoas que vivem nas ruas e sofrem com o frio

Thiago Coutinho
Da redação

Foto: Canva Pro

A temporada do inverno é apreciada por alguns por diversos aspectos. As temperaturas oferecem uma paisagem diferente, uma luz solar amena e agradável. A culinária traz pratos quentes e saborosos, como caldos, sopas, fondue ou os tradicionais cafés, que ficam ainda mais saborosos nesta época. Por outro lado, as baixas temperaturas podem causar muito desconforto e sofrimento — especialmente àqueles que vivem nas ruas, que não têm condições de se aquecer e fugir do frio.

As regiões Sul e Sudeste do país sofrem mais com a incidência do frio. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), São Paulo teve mínimas de 15°C na semana passada. A Capital Paulista registrou a madrugada mais fria do ano em 25 de junho, com média de 6ºC e mínima de -0,3ºC em Parelheiros.

Com tanto frio, os moradores de rua são as primeiras vítimas das baixas temperaturas. E para amenizar o sofrimento dessas pessoas, diversas campanhas são organizadas para arrecadar roupa, cobertores e alimentos. A Campanha do Agasalho 2025, por exemplo, atende 39 cidades da Região Metropolitana de São Paulo. Em parceria com o governo do Estado, pontos de coletas foram montados em diversos endereços, a fim de arrecadar roupas e cobertores.

Em São Paulo, os animais também não foram esquecidos e foi organizada uma campanha para arrecadar itens e alimentos para os bichinhos que vivem nas ruas. A campanha — que este ano atende pelo tema “Onde houver frio, que eu leve solidariedade”, em alusão à oração de São Francisco — leva os itens arrecadados aos animais da população em situação de rua durante a Operação Baixas Temperaturas, que é acionada sempre que os termômetros estão abaixo dos 13 graus na cidade.

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Comunhão fraterna

No interior do Estado, na cidade de Cruzeiro, o Fundo Social e a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social organizaram a campanha “Aquecendo Corações”. Diversos postos de coleta foram montados pela cidade. Além disso, a organização leva comida e agasalhos para quem está nas ruas.

Essa, aliás, é uma época propícia para a prática da caridade, como explica padre José Carlos de Melo, responsável pela Paroquia Santo Afonso Maria de Ligório, em Aparecida (SP). “No livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 2, 42, vemos um rosto ideal de comunidade querido por Deus que diz assim: ‘Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações'”, contextualiza o religioso.

“A comunhão fraterna era um sinal das primeiras comunidades cristãs diferenciando das demais comunidades e grupos naquela época. O que é comunhão fraterna? Tem a ver com a partilha de bens conforme a necessidade de cada um, em que, por meio da fraternidade, todos poderiam ter o básico para viver e buscar seus objetivos. Toda campanha solidária como a que temos no inverno é uma oportunidade de viver o que é próprio da comunidade cristã que é viver essa partilha”.

Amar a Deus é amar ao próximo

Para padre José Carlos, amar a Deus de verdade é amar o próximo com a mesma veemência. “Amar a Deus de verdade consiste em amar os irmãos de forma concreta em suas necessidades. A caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia exige a beneficência e a correção fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e liberal; é amizade e comunhão, porque afinal a finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o fim, é para alcançá-lo que corremos, é para ele que corremos; uma vez chegados, é nele que repousaremos”, observa.

E uma outra virtude também pode ser posta em prática nesta época. Chama-se compaixão. “A compaixão significa se colocar no lugar do outro e sentir na pele o que a pessoa está sentindo e vivenciando naquele momento. por isso nesse tempo de inverno rigoroso temos a oportunidade de vivenciar a caridade e a compaixão abrindo nossos guarda-roupas e verificando o que não nos serve mais ou que muitas vezes compramos por puro consumismo e nunca usamos e lembrar que aquilo que está parado em nossos armários deveria estar no corpo de quem não tem o básico para sobreviver”, reflete o padre.

“Sempre é tempo de abrirmos nossos corações à generosidade”, emenda Padre Rivelino Nogueira, responsável pela Basílica Imaculada Conceição, em Cruzeiro (SP). “Por isso as pastorais sociais são tão importantes”, afirma o padre. “Muitas pessoas, às vezes, até querem ajudar e não sabem como”.

A prática da caridade

Padre José Carlos comenta ainda os princípios que devem basear as campanhas de solidárias, como estas que acontecem no inverno. “As campanhas e todo tipo de ação solidária ao meu ver devem ter os seguintes objetivos: a) despertar o espírito comunitário e cristão na comunidade e em nós; b) educar para a vida de fraternidade a partir de nossa casa; c) é uma forma de viver o Evangelho na prática e nos faz sair do discurso para a prática; d) nos faz lembrar que sozinhos não conseguimos muita coisa e que sempre vamos precisar uns dos outros; e) é renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização e na promoção humana”, ensina Padre José Carlos.

“Acredito firmemente que a caridade deveria ser sempre lembrada e praticada, independentemente das condições climáticas ou situações extremas”, acrescenta Padre Rivelino. ” Jesus nos ensinou a amar ao próximo como a nós mesmos (Marcos 12:31)”, prossegue o sacerdote. “A caridade nos ajuda a desenvolver empatia e solidariedade, permitindo-nos entender e responder às necessidades dos outros de maneira eficaz”.

Dessa maneira, é essencial que a prática da caridade seja sempre praticada. “Não apenas em momentos de crise”, reforça Padre Rivelino. “Ao viver a caridade de maneira constante, podemos refletir o amor de Cristo e fazer uma diferença positiva no mundo ao nosso redor”.

Organize-se em sua paróquia

Se a motivação surgiu, mas a maneira para colocá-la em prática ainda não, um trabalho junto à paróquia, por exemplo, pode funcionar. “Procure saber as ações existentes em sua paróquia, caso ainda não exista, pode sugerir ao pároco e certamente será acolhido por ele. Sempre é tempo de olhar ao próximo com caridade, principalmente no inverno que tem sido tão forte nesses últimos dias”, aconselha padre Rivelino.

“As campanhas nas paróquias e nas comunidades, para darem certo, devem ser bem anunciadas com propósito claros e objetivos e com prestação de contas depois”, recomenda padre José Carlos. “As pessoas doam com muito carinho e atendem aos nossos pedidos, mas também querem ver se a sua doação chegou e cumpriu o objetivo. Numa campanha se precisa de muitas pessoas envolvidas e para que a campanha tenha bom êxito e não seja trabalhosa ou seja muito serviço para poucas pessoas, é preciso chamar a todos para colaborar, por isso a importância da prestação de contas e de ser objetiva e clara”, acrescenta.

Doar, como bem reforça padre José Carlos, não é se desfazer daquilo que não serve mais ou está danificado. “É bom lembrar que essas campanhas não são uma oportunidade de descartar o que está quebrado ou sujo ou rasgado, mas doar como se fosse para nós mesmos”, finaliza.

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