MÊS DA BÍBLIA

Como surgiu a Bíblia: professor Felipe Aquino explica processos da Igreja

Inaugurando série especial para o Mês da Bíblia, professor de História da Igreja explica origem das Sagradas Escrituras e condução da Igreja neste processo

Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: codyphotography de Getty Images

Em sua missão de anunciar o Evangelho, a Igreja no Brasil dedica um período especial à Palavra de Deus. Trata-se do Mês da Bíblia, celebrado anualmente em setembro com o objetivo de promover ações em torno da Sagrada Escritura.

Diante disso, o noticias.cancaonova.com apresenta uma série especial que, a cada semana do mês, traz informações para maior conhecimento da Bíblia, quais são os livros que a compõem e como é possível compreender melhor a Palavra do Senhor. Nesta primeira matéria, entenda como surgiu e foi organizada a Bíblia do jeito que é conhecida hoje.

Professor Felipe Aquino / Foto: Arquivo pessoal

Professor de História da Igreja, Felipe Aquino explica que a Bíblia foi escrita durante um período que vai, aproximadamente, de 1220 a.C. a 100 d.C. A Sagrada Escritura é dividida em duas partes: o Antigo Testamento, que tem 46 livros; e o Novo Testamento, que tem 27 livros.

Os primeiros textos começaram a ser escritos desde os tempos anteriores a Moisés, que foi o primeiro a codificar as leis e tradições orais e escritas de Israel. “Essas tradições foram crescendo aos poucos por outros escritores no decorrer dos séculos, sem que houvesse uma catalogação rigorosa das mesmas. Assim foi se formando a literatura sagrada de Israel em sua tradição muito forte e bem conservada”, afirma.

Aquino observa que, até o século XVIII, acreditava-se que Moisés havia escrito o Pentateuco – o grupo dos cinco primeiros livros da Bíblia composto por Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Contudo, nos últimos séculos, estudos mostraram o contrário.

Surgimento dos primeiros livros

O professor explica que a teoria aceita pela Igreja Católica é de que, a partir do rei Salomão (972-932 a.C.), passou a existir na corte dos reis um grupo de escritores que zelavam pelas tradições de Israel, eram os escribas e sacerdotes. Do seu trabalho surgiram quatro coleções de narrativas históricas – os códigos javista, eloísta, deuteronomista e sacerdotal –, posteriormente reunidas de forma a dar origem ao Pentateuco.

Os demais livros da Bíblia, prossegue o professor, foram escritos em várias épocas distintas da história do povo hebreu, podendo ser divididos em diversos grupos:

  • Livros históricos: Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas e II Crônicas;
  • Livros escritos durante o Exílio da Babilônia (587-538 a.C.): Lamentações, Ezequiel, Abdias e segunda parte de Isaías (capítulos 40 a 55);
  • Livros escritos após o Exílio: Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, I Macabeus e II Macabeus e terceira parte de Isaías (capítulos 56 a 66);
  • Livros sapienciais: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos, Eclesiástico (ou Sirácida) e Sabedoria;
  • Livros dos profetas maiores: primeira parte de Isaías (capítulos 1 a 39), Jeremias, Ezequiel e Daniel;
  • Livros dos profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;
  • Depois de Cristo (Novo Testamento): Evangelhos, as Cartas dos Apóstolos e o Apocalipse.

Guardada pela Tradição

Citando a constituição dogmática Dei Verbum, promulgada durante o Concílio Vaticano II (1962-1965), Felipe Aquino aponta que foi a tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados. “Sem a Tradição da Igreja não teríamos a Bíblia”, frisa.

Tal seleção, inspirada pelo Espírito, foi realizada até o século IV, sendo confirmada por diversos Concílios – Hipona (ano 393), Cartago II (397) e Cartago IV (419) –, no tempo de São Jerônimo. Foi ele quem produziu a Vulgata, traduzindo a Bíblia dos escritos originais em grego e hebraico para o latim no século IV.

Após o Concílio de Trento (1545-1563), a Vulgata foi oficialmente reconhecida como a Bíblia autorizada da Igreja, o que levou à criação da Vulgata Clementina (1592). Posteriormente, no Concílio Vaticano II, surgiu a Neovulgata, uma versão oficial da Bíblia em latim e promulgada em 1979 pelo então Papa João Paulo II.

“A Igreja Católica sempre teve um cuidado muito especial para que a Bíblia chegasse até nós da maneira mais autêntica possível”, destaca Felipe Aquino. “Foram estudos exaustivos dos documentos, analisados à luz das ciências: história antiga, arqueologia, paleontologia, análises químicas do carbono 14, estudos especializados para entender os papiros, etc”.

Além dos Concílios que definiram o cânon da Bíblia, outros o confirmaram: Trulos (692), Florença (1442), Trento (1543-1565) e Vaticano I (1870). “Isto dá total segurança da autenticidade dos textos bíblicos”, conclui.

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