“Podemos pedir tudo ao anjo da guarda”, explica Padre Fidelis sobre a devoção que cada um pode manter com seu anjo protetor; veja exemplos de como os santos se relacionavam com eles
Kelen Galvan
Da redação

Pintura “Anjo da Guarda”, de Bartolomé Esteban Murillo (h. 1665), na Catedral de Sevilha, Espanha / Foto: José Luis Filpo Cabana by wikimedia commons
“Um protetor e pastor para guiar na vida”, essa é a missão do anjo da guarda, colocado ao lado de cada pessoa. “Desde o seu começo até a morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão”, afirma o Catecismo da Igreja Católica (CIC n.336).
A Festa dos Santos Anjos da Guarda, celebrada neste dia 2 de outubro, é uma ocasião para agradecer a Deus por este dom, afirma o membro da Obra dos Santos Anjos, Padre Fidelis Stockl, ORC. “Deus, na sua infinita bondade e misericórdia, deu a cada ser humano um anjo da guarda pessoal para o conduzir no caminho da salvação, porque Deus quer a salvação de todos”, enfatizou.

Padre Fidelis Stockl / Foto: Gabriel Fontana
O sacerdote explica que esse vínculo com o anjo é fortalecido após o batismo. “Podemos dizer, a partir do batismo, que o anjo da guarda assume plenamente sua missão. E como ele faz? Primeiro, nos transmite a luz de Deus para que possamos entender o que Deus quer de nós. E, assim, ele nos dá inspirações, bons conselhos, mas também nos exorta para que não nos desviemos do caminho. É importante invocar o anjo da guarda, pedir a sua ajuda”, explica Padre Fidelis.
São Padre Pio teve a graça sobrenatural de conseguir ver seu anjo da guarda desde sua infância e o considerava um amigo e um professor, pedia sua ajuda em diversas tarefas, como a tradução de cartas que recebia em outros idiomas e também era acordado pelo seu anjo para rezar, e rezava com ele.
Muitas vezes, ele dizia aos seus filhos espirituais (aqueles que ele dirigia espiritualmente) que, se precisassem dele, mandassem seus anjos da guarda. E isso realmente acontecia, pois o santo relatou em outros momentos: “Não viu todos aqueles anjos que estavam aqui ao meu redor? Eram os anjos da guarda dos meus filhos espirituais que vieram trazer-me suas mensagens”.
Um relacionamento espiritual
A graça de ver o anjo da guarda é um privilégio dado a poucos, conforme o propósito do Senhor, mas cada pessoa tem ao seu lado o seu anjo e pode cultivar um relacionamento com ele. “Nossa relação com o anjo da guarda é pela fé, pela certeza de sua presença e também da ação do anjo da guarda”, destaca Padre Fidelis.
O sacerdote explica que o relacionamento com o anjo da guarda acontece espiritualmente. “É importante saber silenciar, afinar o ouvido interior para podermos ouvir sua voz em nosso consciência e, depois, seguir seus conselhos. Por isso é importante aprender a silenciar, escutar e obedecer, como fez Maria na anunciação”.
Padre Fidelis destaca que o episódio da anunciação, narrado na Bíblia (cf. Lc 1, 26ss), mostra o caso ideal da relação do anjo da guarda com uma pessoa humana. “Maria estava no silêncio, o anjo entrou e a saudou. Ela ficou em silêncio, e o anjo revelou sua vocação. Maria refletiu e perguntou ao anjo como aconteceria, e ele explicou que o Espírito Santo viria sobre ela. E, depois, ela disse sim. Vemos como nós deveríamos nos relacionar e comunicar com nosso anjo da guarda”, explicou.
O sacerdote da Ordem dos Santos Anjos explica que para conversar com o anjo da guarda não é necessário falar em voz alta, pode-se falar com ele interiormente. “Quando eu penso nele e falo mentalmente com ele, ele entende perfeitamente. Ele, até certo ponto, pode ler os meus pensamentos, na medida em que eu abro os meus pensamentos a ele e o faço participar deles”, esclarece.
Cultivar a devoção ao anjo

São Padre Pio / Foto: domínio público
Em uma carta escrita por Padre Pio a uma de suas filhas espirituais, Annita Rodote, em 15 de julho de 1915, ele deu algumas orientações sobre como se relacionar com o anjo da guarda.
“Esforça-te por ter uma grande devoção a esse anjo tão benéfico”, indicou Padre Pio. Na carta, ele destacou quanto é consolador saber que, perto de cada pessoa, há um espírito que, do berço ao túmulo, nunca a abandona, “nem mesmo quando nos atrevemos a pecar!”.
O santo afirma que o anjo “nos guia e protege como um amigo, um irmão”, e “ora sem cessar” pela pessoa que guarda, oferecendo a Deus todas as suas boas ações, pensamentos e desejos, se são puros. “Por caridade, não te esqueças desse companheiro invisível, sempre presente, sempre pronto a nos escutar e mais ainda a nos consolar”, enfatiza.
Pedi e recebereis
Padre Fidelis explica que, nesta relação com o anjo da guarda, vale o princípio ensinado por Jesus: “pedi e recebereis” (cf. Mt 7,7), e indica que o anjo ajuda, muitas vezes, de maneira silenciosa e a pessoa nem percebe sua proteção afastando de certos perigos. Ele enfatiza que é importante pedir sua ajuda concretamente por nós mesmos ou por outras pessoas.
O sacerdote citou dois exemplos desta ajuda concreta, quando recorremos ao anjo da guarda. Um aconteceu com ele mesmo. Certo dia, não estava encontrando um documento que precisava com urgência, então ajoelhou-se e rezou ao anjo da guarda. No mesmo instante, o telefone tocou, era um frade franciscano convidando padre Fidelis para rezar a Missa em sua comunidade na semana seguinte e também o informando que, na última vez que esteve lá, esqueceu um envelope. E era justamente o envelope que continha o documento que ele estava procurando.
“Quando pedimos ao anjo, ele atende na medida em que aquilo realmente corresponde à vontade de Deus”
Outro caso foi de uma senhora que não era casada na Igreja e queria receber o sacramento, mas seu marido não queria e ficava bravo quando ela falava sobre isso. Ela passou a rezar, todos os dias, pedindo ao anjo da guarda que dissesse ao esposo para casar-se com ela. Passaram-se alguns meses e chegou o aniversário dela. O marido a convidou para comer em um restaurante, e ali abriu uma caixinha com as alianças que tinha comprado e disse: “Meu amor, eu sei o que você mais deseja, e eu vou lhe pedir em casamento”.
Padre Fidelis explica que “podemos pedir tudo ao anjo da guarda”, desde coisas simples como arrumar uma vaga para estacionar o carro, como nos lembrar do momento de oração, sobretudo coisas importantes. “Quando pedimos ao anjo, ele atende na medida em que aquilo realmente corresponde à vontade de Deus”, destaca.
Nesse sentido, é importante desenvolver uma familiaridade com o anjo da guarda, indica padre Fidelis. “Tratá-lo como um amigo, como um irmão, conversar com ele, aconselhar-se com ele, pedir sua ajuda, agradecer-lhe, saudá-lo etc.”.
Jesus tinha um anjo da guarda?
O Catecismo da Igreja Católica, nº 333, afirma: “Da Encarnação à Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é rodeada da adoração e serviço dos anjos. Quando Deus introduziu, no mundo, o seu Primogênito, disse: ‘Adorem-nO todos os anjos de Deus’”.
Padre Fidelis destaca que São Tomás de Aquino responde que Jesus tinha vários anjos para servir-lhe durante a sua vida, mas não teve um anjo da guarda pessoal. “Jesus é pessoa divina, o filho de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, por isso não era conveniente Ele ter só um anjo da guarda, porque Ele precisava do serviço dos anjos”.
Nas palavras de São Tomás: “Não era de um anjo da guarda, enquanto superior, que Ele necessitava, mas de um anjo que O servisse como inferior”.
“Como Deus, os anjos O adoram, mas ,como homem, Ele precisava da ajuda dos anjos para poder cumprir a sua missão como nosso Salvador”, explica padre Fidelis.
Conheça algumas experiências dos santos com seu anjo da guarda

Santa Gemma Galgani / Foto: domínio público
Santa Gemma Galgani
Santa Gemma Galgani via, frequentemente, seu anjo da guarda e o considerava como um amigo. Eles rezavam juntos e ele lhe prestava ajuda, até mesmo levando mensagens ao seu confessor. Além disso, ela tinha seu anjo como “um mestre de vida espiritual”, acolhendo seus ensinamentos para proceder retamente.
Ela tinha o costume de, antes de dormir, pedir ao anjo que velasse por ela junto à cabeceira de sua cama e que lhe fizesse o sinal da Cruz em sua fronte.
(Fonte: Biografia “Santa Gemma Galgani, Vergine Lucchese”, escrita por Germano di San Stanislao)

São João Bosco / Foto: domínio público
São João Bosco
Não há relatos de que Dom Bosco pudesse ver seu anjo, porém, ele cultivava uma grande devoção ao seu anjo da guarda, ensinado por sua mãe. Ela o saudava várias vezes ao dia, e confiou em sua proteção em cada passo de sua vida.
Dom Bosco aconselhava seus jovens a ter um profundo amor e respeito pelo próprio anjo. Ele ensinava: “Invoque seu Anjo nas tentações. Ele deseja ajudá-lo…”, ou ainda: “se você se encontrar em algum perigo grave para sua alma ou corpo, invoque-o…”, ou ainda: “Se você quer agradar a Jesus e Maria, obedeça às inspirações do seu Anjo da Guarda”.
Entre muitos testemunhos, um jovem pedreiro, seguidor de Dom Bosco, trabalhava em um alto andaime, quando este cedeu e ele começou a cair do quarto andar. Na queda, ele se lembrou das orientações do santo e pediu: “meu anjo, me ajude”. O jovem caiu e levantou-se sem nenhum arranhão. E continuou seu trabalho normalmente, para espanto de todos.
(Fonte: Memórias Biográficas, vol 2, nº264 e 266)

São Josemaria Escrivá / Foto: reprodução youtube
São Josemaria Escrivá
Aprendeu a devoção ao Anjo da Guarda com seus pais. Na Festa do Santos Anjos da Guarda, em 1928, São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, afirmou que o “trato e a devoção aos Santos Anjos da Guarda está no âmago do nosso trabalho apostólico”.
Ele disse experimentar a ajuda constante e imediata do anjo da guarda, até em detalhes pequenos. Certa vez, sem dinheiro para mandar consertar seu despertador, pedia ao seu anjo para lhe acordar à hora prevista. Nunca lhe falhou, por isso lhe chamava carinhosamente de “meu relojoeirinho”.
O santo tinha o costume de cumprimentar sempre o anjo da guarda das pessoas com quem se encontrava. Quando ia a uma capela, adorava a Jesus no Sacrário e, depois, agradecia aos anjos que permaneciam ali adorando continuamente o Senhor.
(Fonte: site Opus Dei)

Santa Faustina / Foto: domínio público
Santa Faustina
A mística polonesa Santa Faustina Kowalska via seu anjo com frequência. Ela o descreve em seu Diário como “um espírito de grande beleza”. “Esse espírito é muito belo e a sua beleza provém da estreita união com Deus. Esse espírito não me abandona por um momento sequer, acompanha-me por toda parte” (cf. Diário nº 471).
O anjo da guarda mostrava-se como uma proteção em momentos que se sentia em perigo (cf. nº 1271), em situações que ela era afligida pelo demônio (cf. nº 419), acompanhando-a no dia a dia, como em uma viagem que fez a Varsóvia (cf. nº 490 e 630), e ajudando-a na oração, por vezes indicando por quem devia rezar (cf. nº 820).
(Fonte: Diário de Santa Faustina)