Com a aproximação do Consistório e do início da assembleia do Sínodo, entidade criada pelo Papa Francisco denuncia abusos e clama por colaboração da Igreja
Da Redação, com Vatican News
Em ocasião da proximidade do Consistório para a criação de novos cardeais, no sábado, 30, e da abertura da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos na quarta-feira, 4, a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores lançou um apelo ligado à sua área de atuação na prevenção de abusos na Igreja e prestação de auxílio às vítimas.
A nota publicada nesta quarta, 27, indica três caminhos: a solidariedade para com as vítimas e os sobreviventes, à luz das contínuas revelações de abusos; a intensificação do compromisso e dos recursos para promover a proteção contra os abusos em todos os lugares pelas lideranças da Igreja; e a tomada de consciência de que a proteção representa uma prioridade no Sínodo sobre a Sinodalidade.
Antes de tudo, a Pontifícia Comissão expressa sua profunda dor e a sua incondicional solidariedade às vítimas e aos sobreviventes de tantos crimes ignóbeis cometidos na Igreja. “Cada abuso envolve a angústia e a dor de uma terrível traição, não só por parte do abusador, mas também por parte de uma Igreja incapaz ou até mesmo não disposta em aceitar a realidade das suas ações”, registra o texto.
Na sequência, o documento aponta a “perturbação” com alguns relatos das ações de indivíduos que ocupam cargos de responsabilidade dentro da Igreja e o sofrimento daqueles que foram afetados. Também é reconhecido o atraso “na correção das lacunas nos procedimentos”, e reiterado o “firme compromisso de trabalhar para garantir, na medida do possível, que tais atos abomináveis e reprováveis sejam erradicados da Igreja”. Solicita-se “aos outros representantes da Igreja que têm a responsabilidade de enfrentar estes crimes, para que cumpram eficazmente a sua missão, minimizem ao máximo o risco de novas transgressões e garantam um ambiente respeitoso para todos”.
“Conversão” dos líderes da Igreja
A Pontifícia Comissão relembra parte de sua história, especialmente a supervisão, junto ao Colégio Cardinalício, de uma série de iniciativas que revelaram a realidade dos abusos sexuais e a necessidade de reformas firmes para enfrentar tanto os abusos quanto a sua gestão inadequada por parte dos líderes da Igreja, exortados a uma “conversão”.
Contudo, a nota denuncia que nos anos após a Cúpula de 2019 sobre a Proteção dos Menores, que reuniu lideranças da Igreja de todo o mundo, “permanecem profundas frustrações, especialmente entre aqueles que buscam justiça pelos erros sofridos: ninguém deveria ter de implorar por justiça na Igreja”.
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O texto alerta que somente poderá haver uma mudança eficaz com a conversão pastoral dos líderes da Igreja. “A criação de novos Cardeais é um momento oportuno para a reflexão, o arrependimento e a renovação do nosso compromisso inquebrantável de proteger e defender os mais vulneráveis, utilizando todos os meios possíveis”, acena.
Diante disto, é feito um apelo para que os membros do Colégio se recordem das vítimas e suas famílias, e se comprometam a permanecer firmes no propósito de honrar aqueles que foram afetados por abusos sexuais, unindo-se a eles na busca comum pela verdade e pela justiça. “Juntamente com todos aqueles que sofreram abusos e suas consequências, dizemos: ‘Basta’!”, exorta a Pontifícia Comissão.
Apelo por mudanças
Estes esforços, afirma o documento, encontram no Sínodo sobre a Sinodalidade o espaço adequado para serem promovidos. Assim, é pedido que o abuso sexual na Igreja permeie as discussões sobre formação, ministério, treinamento e governança. “Mesmo que às vezes possa parecer um conjunto desencorajador de questões a serem abordadas, pedimos a vocês para se unirem no enfrentar o desafio para que se possa enfrentar a ameaça que o abuso sexual representa à credibilidade da Igreja no anúncio do Evangelho”, sinaliza o texto.
Por fim, a nota é concluída como uma série de exortações. Entre elas estão a solicitação para que os cardeais dediquem “tempo e espaço significativos para integrar o testemunho das vítimas/sobreviventes” nos trabalhos do Sínodo e trabalhem para que hajam, na Igreja, “locais de acolhida, empatia e reconciliação para aqueles que foram afetados por abusos”, para que chegue o “dia em que todas as crianças serão protegidas por políticas e procedimentos de segurança adequados, conhecidos e consolidados”.