Sobre a Campanha da Fraternidade deste ano, coordenador de campanhas da CNBB destaca necessidade de buscar uma conversão integral, que contemple todas as dimensões da vida humana
Kelen Galvan
Da Redação

Foto: Canva pro
A Campanha da Fraternidade, lançada nesta Quarta-Feira de Cinzas, 5, quer aprofundar o tema da Ecologia Integral. Esta é a nona vez, desde seu início, em 1961, que um tema ecológico será abordado pela campanha.

Coordenador nacional de campanhas da CNBB, Padre Jean Poul Hansen / Foto: CNBB
“Ecologia Integral é um conceito cunhado pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si’. É uma abordagem diferente, pois não se ocupa apenas de um aspecto da ecologia, como já o fez com a terra (1986), os povos indígenas (2002), a água (2004) ou os biomas brasileiros (2017). Agora ela aborda as relações com o Criador, com o ser humano e com as outras criaturas, abarcando o conjunto total das condições necessárias para a vida no planeta Terra, nossa casa comum, não apenas na dimensão ambiental, mas também social, cultural, econômica e espiritual”, explica o coordenador nacional de Campanhas da CNBB, Padre Jean Poul Hansen.
Escolha do tema
Ele explicou que vários fatores motivaram a Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração a propor este tema, que foi aceito e assumido pelo Conselho Episcopal de Pastoral (CONSEP).
As principais motivações foram as seguintes:
– os 10 anos da publicação da Carta Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, de 24 de maio de 2015, primeira expressão do Magistério da Igreja integralmente dedicada ao cuidado da casa comum;
– a publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum, também do Papa Francisco, em 4 de outubro de 2023, na qual ele exorta para o fato de que a Laudato Si’ e seus ensinamentos ainda não foram acolhidos e a urgência do tempo;
– a celebração dos 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis e;
– a realização da COP 30 no Brasil, em Belém do Pará, no coração da Amazônia no próximo mês de novembro. A Igreja, como organização da sociedade civil e portadora do Evangelho da Criação, já se articula para este evento, em vista de fazer ecoar entre os governantes das nações o apelo por compromissos reais que conduzam a uma Ecologia Integral.
Conversão integral
O lema escolhido para a CF 2025 é a frase bíblica de Gênesis 1, 31: “Deus viu que tudo era muito bom”. Ao concluir a Criação, no sexto dia, Deus contempla o conjunto de sua obra e vê que “tudo era muito bom”. “O conjunto é harmonioso. Deus vê na sua obra os traços da sua perfeição”, enfatiza padre Jean Poul.

Cartaz da Campanha da Fraternidade 2025 / Foto: Reprodução CNBB
Contudo, afirma o sacerdote, atualmente não dá para repetir essa exclamação, pois nem tudo está bem, e a culpa é “do nosso pecado, que destrói a obra das mãos de Deus e prejudica enormemente a vida sobre a Terra”.
“Sofremos diversas e variadas catástrofes climáticas (enchentes, secas, super furacões, incêndios, chuvas pretas, ondas de calor extremo, etc.) e sociais (verdadeiras massas de pessoas excluídas dos bens da sociedade e da dignidade humana), uma verdadeira crise socioambiental”, exemplifica padre Poul.
Ele destaca que o ser humano não está realizando a missão que Deus lhe confiou: “cuidar e guardar a Criação” (Gn 2,15). “Esse é nosso pecado ecológico”, afirmou. Padre Jean Poul explica que os processos de conversão têm sido negligenciados e o desejo dos bispos com esta Campanha da Fraternidade é que a conversão seja integral, não apenas ecológica. Ou seja, “que contemple todas as dimensões da vida humana, inclusive a ecológica”.
Santidade comporta a sensibilidade ecológica
O cartaz deste ano traz em destaque São Francisco de Assis, que há 800 anos compôs o Cântico das Criaturas. Padre Poul explica que a imagem deste santo quer indicar que “o chamado à santidade, tão próprio da Quaresma, como tempo propício para a conversão, comporta no seu interior uma sensibilidade ecológica”.
Segundo ele, essa sensibilidade se expressa como louvor ao Criador por todas as suas criaturas, sem exceção, e ao mesmo tempo como compromisso de cuidado com a integralidade da obra criada.
“O Cântico das Criaturas é um hino de louvor de um homem plenamente reconciliado com o Criador, com o ser humano e com todas as criaturas, portanto, um hino à Ecologia Integral”, enfatizou.