Em sua primeira visita ao país, em 1979, religiosa encontrou Santa Dulce dos Pobres e fundou missão; no mesmo ano, “Mãe dos Pobres” recebeu Prêmio Nobel da Paz
Gabriel Fontana
Da Redação
Nesta quinta-feira, 5, a Igreja celebra a memória de Santa Teresa de Calcutá. A fundadora da Congregação das Missionárias da Caridade desenvolveu um trabalho de assistência social na Índia tão abrangente que chamou a atenção de todo o mundo, levando-a a ser considerada uma das pessoas mais marcantes do século XX.
O reconhecimento fora do âmbito religioso foi tão grande, que a religiosa recebeu, em 1979, o Prêmio Nobel da Paz. A motivação para a premiação foi “seu trabalho para levar ajuda à humanidade sofredora”.
Em seu discurso, ao receber o prêmio, Santa Teresa de Calcutá frisou que as Missionárias da Caridade não são assistentes sociais. Por meio de seu trabalho, explicou, contemplavam a Cristo nos pobres. “Há tanto ódio, tanta miséria, e nós com nossa oração, com nosso sacrifício, estamos começando em casa. O amor começa em casa, e não importa o quanto fazemos, mas quanto amor nós colocamos naquilo que fazemos”, afirmou.
A religiosa também falou sobre o aborto, descrito por ela como “o maior destruidor da paz hoje”. “Jesus deu até a sua própria vida para nos amar. (…) Qualquer país que aceite o aborto não está ensinando as pessoas a amar, mas a usar qualquer violência para conseguir o que eles querem”, expressou.
Visita ao Brasil
No mesmo ano de 1979, Santa Teresa de Calcutá também visitou o Brasil pela primeira vez. A pedido do então Papa João Paulo II, ela visitou o bairro dos Alagados, em Salvador, onde vivia uma comunidade carente e marginalizada. No local, ela inaugurou a primeira casa de missão das Missionárias da Caridade no país, que segue em atividade.
A atual superiora da comunidade é a irmã Lélia. Ao recordar o prêmio recebido por sua fundadora, ela enfatiza que a paz começa no coração de cada um. “Nós temos que cultivar a paz no nosso coração, na nossa família, no nosso bairro, no nosso país e no mundo inteiro”, exprime, indicando como Santa Teresa de Calcutá deixou seu exemplo de paz para a humanidade.
Leia mais
.: Papa visita as Missionárias da Caridade: a fraternidade é uma profecia
.: Papa recorda Santa Teresa de Calcutá: “levemos no coração seu sorriso”
Vivendo diariamente o legado deixado por Santa Teresa de Calcutá, a religiosa cita que a visita dela é uma demonstração de como Jesus ama a todos, “especialmente os mais pobres, marginalizados e esquecidos, onde Ele está presente”.
Diante disso, irmã Lélia expressa sua alegria em dar seguimento a esta missão, “continuando a ser presença de Jesus e tentando irradiar a luz de Jesus que a Madre irradiava”.
Para ela, o legado de Santa Teresa de Calcutá é simples: basta viver o Evangelho. “Fazendo coisas pequenas com muito amor e amando até doer, como Jesus na cruz, para a salvação e santificação das almas: o legado de madre Teresa não é fazer assistencialismo, mas levar as pessoas, pobres e ricos, a conhecer a Jesus e a amar Jesus”, manifesta.
Exemplo de caridade
A gestora social Hilda dos Santos trabalhou por 20 anos como secretária da Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II. A igreja foi construída por ocasião da visita do então Pontífice ao país em 1980. A passagem de três santos (Santa Dulce dos Pobres, Santa Teresa de Calcutá e o próprio Wojtyla) chamou a atenção de Hilda, que passou a pesquisar a relação entre os três e o bairro na capital baiana.
Durante este processo, a gestora social ouviu relatos de diversos moradores da região sobre a visita da religiosa em 1979. Hilda destaca como Santa Teresa de Calcutá “veio trazer essa caridade que levou o Cristo aos seus irmãos do outro lado do mundo, aqui em Salvador”.
Ela conta como um diácono da paróquia que testemunhou o encontro entre Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres foi importante para a região, constituindo-se como um fato histórico. Juntas, elas andaram entre as casas de palafita e por cima das pontes, visitando as famílias e se fazendo próximas.
Milagre no Brasil
A relação de Santa Teresa de Calcutá com o Brasil, contudo, vai além da obra que ela iniciou no país ao visitá-lo. O milagre reconhecido pelo Vaticano, que levou a religiosa a ser canonizada, elevando-a à honra dos altares, aconteceu justamente com um brasileiro.
Marcilio Andrino relata que, em 2008, começou a apresentar alguns problemas de saúde. Após realizar os devidos exames, foi diagnosticado com uma infecção no cérebro, com poucas chances de cura.
“Durante o ano, minha situação de saúde piorou ao ponto de eu ser internado para tratamento. No dia 9 de dezembro, acordei com uma dor de cabeça insuportável. Os médicos diagnosticaram hidrocefalia causada pelos abscessos cerebrais, e minha vida estava por um fio”, conta Marcilio.
O pesquisador e engenheiro mecânico recorda que já havia algum tempo que ele e sua esposa, Fernanda, rezavam pedindo a intercessão de Santa Teresa de Calcutá. Diante daquele momento crítico, Fernanda intensificou as orações, pedindo por um milagre.
Elevada à honra dos altares
Após ser levado ao centro cirúrgico, “milagrosamente os abscessos começaram a reduzir drasticamente, e a hidrocefalia desapareceu sem explicação médica”, explica Marcilio. “A cirurgia foi cancelada”, prossegue, “e três dias depois, uma tomografia revelou que os abscessos haviam desaparecido, restando apenas cicatrizes. Os médicos ficaram perplexos, mas eu sabia que Deus, através das orações de Fernanda e da intercessão de Madre Teresa, havia me salvado”.
Posteriormente, a graça alcançada por Marcilio pela intercessão de Santa Teresa de Calcutá foi reconhecida pelo Vaticano, configurando-se como o milagre que restava para a canonização da religiosa. A cerimônia aconteceu em 2016, na Praça São Pedro, e o brasileiro esteve presente.
Nessa relação entre Brasil e Santa Teresa de Calcutá, Marcilio frisa ainda que “a ligação está na ação pela caridade aos mais necessitados, aos não amados e não queridos”. “Que esse serviço de amor, oração e doação ao próximo seja inspiração a todos”, conclui.