NICARÁGUA

Carta conjunta denuncia perseguição religiosa e pede libertação de bispo

Mais de 80 personalidades católicas assinam o documento que fala sobre as ações realizadas pelo governo de Ortega contra a Igreja na Nicarágua

Da Redação, com Vatican News

Dom Rolando Álvarez / Foto: Reprodução Diocesis de Matagalpa

Após o bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez, voltar a ser preso pela polícia da Nicarágua na quarta-feira, 5, mais de 80 personalidades católicas da Espanha e de países latino-americanos (em sua maioria religiosos, teólogos e jornalistas) assinaram uma carta conjunta pedindo o fim da perseguição religiosa no país e a libertação do religioso.

No texto, são denunciadas as ações realizadas pelo governo liderado por Daniel Ortega contra a Igreja católica. “A comunidade cristã nicaraguense está experimentando hoje uma perseguição (…) por aqueles que afirmam trabalhar em nome do amor, da paz e do próprio Deus, que prenderam padres, mataram coroinhas, sitiaram seminaristas, expulsaram religiosas e levaram crentes e não crentes diante de juízes venais com falsas acusações, e que mantiveram Dom Rolando Álvarez em isolamento e detenção injusta por 335 dias”, registra o documento.

O bispo foi preso em agosto do ano passado e condenado a 26 anos de prisão em fevereiro. No último dia 27 de junho, a Corte Interamericana de Direitos Humanos ordenou a libertação do religioso até a sexta-feira, 7 de julho. O regime de Ortega libertou Dom Rolando Álvarez nesta semana, mas diante da sua recusa em deixar o país, ele tornou a ser detido.

Denunciar constantemente

Os signatários da carta elogiam a Igreja local por sua determinação em acompanhar a população nicaraguense diante do “autoritarismo” do governo de Daniel Ortega. Eles também denunciam “os atos repressivos da família Ortega Murillo contra os bispos Silvio José Báez e Rolando Álvarez, religiosos e religiosas expulsos ou impedidos de retornar ao país, sacerdotes cuja cidadania foi retirada e seminaristas que foram privados de sua formação sacerdotal”.

Por fim, o documento exorta ações concretas em prol da Igreja na Nicarágua. “Se quisermos ser fiéis ao caminho de Jesus, a denúncia constante de todas as violações dos direitos humanos na Nicarágua e em outras partes do mundo também deve implicar um amor efetivo que se concretize no acolhimento humanitário das centenas de milhares de migrantes que deixaram o país, no acompanhamento dos mais de 300 apátridas, exilados e desnacionalizados pelo regime, e na exigência contínua e incessante da libertação de Dom Rolando Álvarez, na salvaguarda de seu direito de permanecer em seu país e na libertação dos mais de 50 prisioneiros políticos ainda detidos”, expressa o texto.

Entenda a situação da Igreja na Nicarágua

A relação do governo da Nicarágua, liderado por Daniel Ortega, com a Igreja Católica, não é nada amistosa, e se tornou cada vez mais tensa nos últimos tempos. Em julho do ano passado, missionárias da Caridade foram expulsas do país e alguns veículos de comunicação católicos foram fechados.

Em agosto, o bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez, foi preso – primeiro, na Cúria diocesana, e depois, em prisão domiciliar –, acusado de “conspiração”. Em fevereiro deste ano, ele foi formalmente condenado a 26 anos de prisão, após se recusar a embarcar em um avião com outras 222 pessoas, deportadas para os Estados Unidos. No veredito, dado antes do início do julgamento, o bispo foi chamado de “traidor da pátria”.

Após a condenação, diversos órgãos da Igreja se manifestaram e prestaram solidariedade ao religioso. A Conferência da Espanha, na época, expressou seu pesar e preocupação pelos “bispos da Conferência Episcopal Nicaraguense que sofrem perseguição pelo governo por defender a liberdade dos nicaraguenses”.  Os bispos do Chile, por sua vez, rejeitaram “a situação vivida pelo bispo Álvarez e pela Igreja na Nicarágua, que viola os direitos humanos, a dignidade essencial da pessoa e a liberdade religiosa”.

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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também se manifestou, escrevendo que, em prece, “suplica o fortalecimento dos nicaraguenses na busca pelo respeito e pela dignidade. Fraternal e solidária, reza, por nosso irmão bispo, Dom Rolando Álvarez, condenado a 26 anos de prisão. A cada pessoa seja concedida a liberdade de se expressar com responsabilidade e viver sua fé. As autoridades de todo o mundo, da América Latina e, especialmente, da Nicarágua, possam se sensibilizar”.

“Ditadura grosseira”

Em 8 de março, duas universidades foram “confiscadas” pelo governo nicaraguense e o estatuto jurídico da Caritas no país foi cancelado. Depois, o representante da Santa Sé na Nicarágua, Monsenhor Marcel Diouf, precisou deixar o país no dia 19 de março após “solicitação” do fechamento da Sede Diplomática, datada de 10 de março. Desde maio, algumas contas bancárias de dioceses locais foram congeladas, com a alegação de investigação por parte da polícia nicaraguense.

Em entrevista concedida ao fundador do site de informação on-line argentino Infobae, Daniel Hadad, o Papa Francisco classificou Ortega como “desequilibrado” ao ser questionado sobre a situação política da Nicarágua. “É algo que está fora do que estamos vivendo, é como trazer a ditadura comunista de 1917 ou a ditadura de Hitler de 1935, trazendo as mesmas aqui… São um tipo de ditadura grosseira”, afirmou o Santo Padre.

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