Patriarca de Jerusalém dos Latinos celebrou a Assunção de Maria em mosteiro de Abu Ghosh; em sua homilia, pediu que cristãos continuem semeando a vida
Da Redação, com Vatican News

Cardeal Pizzaballa / Foto: Reprodução Christian Media Center
A dor deste tempo, observou o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, “não nos permite fazer discursos adocicados e abstratos – e portanto não credíveis – sobre a paz, nem de nos limitarmos a mais uma análise ou denúncia. Em vez disso, trata-se de estar como crentes neste drama, que não está destinado a terminar tão cedo”. Foi o que afirmou o purpurado, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, em sua homilia da Missa da Solenidade da Assunção na Abadia beneditina de Abu Ghosh. Na ocasião, ele meditou sobre o texto do Apocalipse, uma passagem que tem acompanhado a comunidade cristã e tem sido fonte de reflexão em muitas ocasiões, “nestes meses dolorosos”.
Pizzaballa refletiu sobre o poder de Satanás, retratado como o dragão no texto do Apocalipse. Satanás, que “nunca cessará de se impor e de se enfurecer contra o mundo, especialmente ‘contra aqueles que guardam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus’. Todos nós gostaríamos que o mal fosse derrotado o quanto antes, que desaparecesse de nossa vida”, mas não é assim, lamentou.
“Sabemos disso, mas devemos sempre aprender a conviver com a dolorosa consciência de que o poder do mal continuará presente na vida do mundo e na nossa. Não podemos derrotar o enorme poder desse dragão apenas com a nossa força humana. É um mistério, por mais duro e difícil que seja, que pertence à nossa realidade terrena. Não é resignação. Pelo contrário, é uma consciência da dinâmica da vida no mundo, sem fugas de nenhum tipo, mas também sem medo, sem compartilhá-la, mas também sem escondê-la”.
Terra Santa
O cardeal, à luz da Solenidade desta sexta-feira, 15, afirmou que o dragão não pode prevalecer sobre a semente da vida, fruto do amor. Ele recordou que, na Bíblia, o deserto não é um lugar de ausência, mas um lugar onde Deus provê. “Em nossa experiência atual, tão dura e difícil, Deus continua a prover para nós, alertando-nos, antes de tudo, sobre o poder do mal, sobre o poder mundano que realmente parece prevalecer nesta terra e neste tempo”.
Pizzaballa foi claro quando afirmou que não se deve viver a ilusão. O fim da guerra não marcará, contudo, o fim das hostilidades e da dor que elas causaram. “O desejo de vingança e a raiva continuarão a emergir dos corações de muitos. O mal que parece governar os corações de muitos não cessará sua atividade, mas estará sempre em ação, até mesmo com criatividade, eu diria. Por muito tempo, teremos que lidar com as consequências desta guerra na vida das pessoas”, sublinhou.
“Parece realmente que esta nossa Terra Santa, que contém a mais alta revelação e manifestação de Deus, é também o lugar da mais alta manifestação do poder de Satanás. E talvez precisamente por isso, porque é o Lugar que preserva o cerne da história da salvação, que também se tornou o lugar onde o ‘Antigo Adversário’ busca se impor mais do que em qualquer outro lugar”.
Ser o refúgio de Deus
Diante de um contexto de morte e destruição, o patriarca encorajou a ter confiança, a firmar a aliança com aqueles que desejam e semeiam o bem, e a criar com eles contextos de cura e vida. Amargamente consciente de que o mal continuará a se expressar, ele convidou a ser lugar de vida, para que o “dragão” não tenha a última palavra.
“Portanto, não seremos o centro da vida no mundo. Não seguiremos a lógica que acompanha grande parte da vida dos poderosos. Provavelmente seremos poucos, mas sempre diferentes, nunca alinhados, e Talvez por isso nos tornaremos também incômodo. Seremos, comunque, o lugar onde Deus provê, um refúgio guardado por Deus. Melhor ainda, somos chamados a nos tornar um refúgio para aqueles que desejam salvaguardar a semente da vida, em todas as suas formas”, disse.
O sangue dos inocentes não é esquecido
Continuando com a metáfora bíblica, o cardeal afirmou que, mais cedo ou mais tarde, o dragão cairá, mas que agora é preciso perseverar, que o sangue dos inocentes, não apenas na Terra Santa, em Gaza ou em qualquer outro lugar do mundo, não seja esquecido.
O sangue “não é jogado fora em algum canto da história”, ele corre sob o altar, “misturado com o sangue do Cordeiro, que também participa da obra de redenção à qual estamos associados. Devemos estar lá. Este é o nosso lugar, o nosso refúgio no deserto”, frisou.
A vida cristã subverte os critérios do mundo, concluiu o patriarca, recordando também o testemunho de Santa Francisca Romana, obstaculada por Satanás em seu desejo de viver para Deus, mas que, no final, realizou a obra de Deus. “É precisamente este o modo de Deus agir com todos: Ele entra e promove uma reviravolta. Olhemos, portanto, para o mistério da Assunção da Virgem Maria”, finalizou.