COLETIVA DE IMPRENSA

Cardeal ressalta aspecto pastoral de mensagens de Medjugorje

Em coletiva de imprensa, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé apresentou documento sobre tema e destacou análise positiva do fenômeno espiritual

Da Redação, com Vatican News

Cardeal Victor Manuel Fernández durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 19 / Foto: Reprodução Vatican News no YouTube

Nesta quinta-feira, 19, foi realizada uma entrevista coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé para apresentar o documento “A Rainha da Paz”. O texto traz considerações do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre a experiência espiritual ligada a Medjugorje.

Durante a coletiva de imprensa, o prefeito do Dicastério, Cardeal Victor Manuel Fernández, recordou a história que envolve a espiritualidade de milhões de fiéis e através da qual “Deus, em seus desígnios misteriosos, mesmo em meio às imperfeições humanas, encontrou uma maneira de fazer fluir um rio de bondade e beleza”.

Ele não deixou de mencionar, contudo, os “problemas” importantes que “em uma pequena porcentagem (cinco ou seis dioceses)” no mundo ocorreram e que impedem de “falar de efeitos apenas positivos” em Medjugorje. O cardeal citou o longo “conflito” entre os franciscanos rebeldes e os bispos e, com grande clareza, o caso controverso do padre Tomislav Vlasic, famoso por ser considerado “pai espiritual” dos seis videntes e depois, em 2009, ser reduzido ao estado laical por vários crimes.

As perspectivas de João Paulo II, Bento XVI e Francisco

Além disso, o prefeito do Dicastério retomou a perspectiva dos últimos três Papas sobre o fenômeno de Medjugorje. São João Paulo II manifestou, em cartas privadas, o “intenso desejo” de visitar o local. Em 1985, Bento XVI, ainda prefeito da então Congregação para a Doutrina da Fé, expressou um “pensamento claro” sobre a separação da possível “sobrenaturalidade” do fenômeno de seus frutos espirituais.

Por fim, Francisco afirmou no voo de retorno da viagem a Fátima em 2017 que “o núcleo” é “o fato espiritual, o fato pastoral, pessoas que vão lá e se convertem, pessoas que encontram Deus, que mudam de vida (…), esse fato espiritual-pastoral não pode ser negado”.

O Cardeal Fernández destacou que os Pontífices adotam “uma atitude de grande respeito diante de uma devoção tão difundida no povo de Deus”, que se traduz em “uma análise do fenômeno espiritual positivo” e não “em uma conclusão sobre a origem sobrenatural ou não do fenômeno”.

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé também revelou que o Papa Francisco, em um recente encontro entre eles, reiterou que é “absolutamente suficiente” o nihil obstat (“nada consta”) e que “não há necessidade de ir além com uma declaração de sobrenaturalidade”. Isso significa que, na visão do Santo Padre, é suficiente “dizer aos fiéis: bem, vocês podem rezar, o culto é público, podem ser feitas peregrinações e essas mensagens podem ser lidas sem perigo”.

Interpretação das mensagens

Sobre as mensagens da “Gospa”, o cardeal explicou que a maioria delas tem um “belo conteúdo” que pode “estimular” a conversão. Muitas retomam palavras mais próximas à linguagem popular, mas algumas, porém, contêm “frases que não são exatamente de Santo Tomás de Aquino”. Desta forma, as mensagens não devem ser lidas como “um texto magisterial”, mas deve-se captar “o pensamento profundo” por trás de algumas “imperfeições nas palavras”.

Fernández acrescentou que essas mensagens não devem ser acolhidas como revelações privadas, porque não há certeza de que sejam mensagens da Virgem Maria, mas como textos edificantes que podem estimular uma verdadeira e bela experiência espiritual. Ele citou também “pontos fracos”, começando pela “frequência” ou insistência na necessidade de ouvi-las. “A Virgem Maria fala de seus planos de salvação – ‘meus planos’ – que devem ser acolhidos como se fossem diferentes dos de Deus. Isso confunde, cria o perigo de uma dependência excessiva das aparições e das mensagens”, observou.

Ao abordar a possibilidade de futuras mensagens, o prefeito do Dicastério salientou que, se houver, elas deverão ser avaliadas e aprovadas para eventual publicação, e enquanto não forem analisadas, recomenda-se que os fiéis não as considerem como textos edificantes. Ele sublinhou que é sempre necessário ter “prudência”, com a consciência de que Nossa Senhora “não ordena que algo seja comunicado necessariamente ou imediatamente”.

Apelo pela paz

O cardeal também quis ressaltar a difusão mundial da devoção à Rainha da Paz, com “tantos grupos de oração e devoção mariana”, e as obras de caridade para órfãos, dependentes químicos, alcoólatras e deficientes. “Um fenômeno popular” que não se baseia em mensagens ou discussões sobre a origem sobrenatural: “o que atrai é a Rainha da Paz e a presença de sua imagem nos lugares mais diversos”, afirmou.

Por fim, quanto à relação com os videntes, Fernández explicou que “não é proibida, mas também não aconselhável” até mesmo para eles. “O espírito de Medjugorje não é seguir os videntes, mas rezar à Rainha da Paz”, frisou. Fernández relatou que não teve contato com eles nesse período, mas enviou uma pequena carta “com alguns conselhos ou palavras”, destinada a permanecer confidencial.

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