Em entrevista, Secretário de Estado do Vaticano frisou: “é inaceitável a situação na Faixa de Gaza. O Hamas deve libertar todos os reféns. Não ao antissemitismo”
Da redação, com Vatican News

Foto: ALESSIA GIULIANIIPA/Sipa USA via Reuters
A guerra em Gaza, o atentado antissemita em Washington, as hipóteses de uma reunião pela paz na Ucrânia e os primeiros momentos do pontificado de Leão XIV. Esses foram alguns temas refletidos pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, em conversa com os meios de comunicação do Vaticano.
O primeiro tema, Gaza, teve como recorte a triste realidade das crianças que morrem de fome e a população exausta pela guerra. Os ataques a escolas e hospitais, além da falta de intenção da interrupção desses bombardeios também foram abordados. O purpurado afirmou que a situação é “inaceitável” e reforçou que o direito humanitário internacional deve ser sempre respeitado, por todos.
“Pedimos que os bombardeios cessem e que a ajuda necessária chegue à população: acredito que a comunidade internacional deva fazer tudo o que estiver ao seu alcance para pôr fim a essa tragédia. Ao mesmo tempo, reiteramos com firmeza o apelo ao Hamas para que liberte imediatamente todos os reféns que ainda mantém em cativeiro e devolva os corpos daqueles que foram mortos após o cruel ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel”, sublinhou.
Atentado em Washington
Parolin comentou o recente atentado ocorrido em Washington, com o assassinato de dois funcionários da embaixada israelense. “Fiquei profundamente abalado, assim como no dia 7 de outubro: são vítimas inocentes, e essas, além disso, estavam engajadas nas tratativas de paz e em iniciativas humanitárias. Devemos estar atentos para que o câncer do antissemitismo, que nunca foi totalmente erradicado, não volte a ressurgir”, frisou.
Rússia e Ucrânia
O secretário de estado do Vaticano recordou que o Papa Leão ofereceu plena disponibilidade da Santa Sé para acolher eventuais negociações entre Ucrânia e Rússia, oferecendo um local neutro e protegido.
“Portanto, não se tratava de uma mediação, pois uma mediação deve ser solicitada pelas partes. Neste caso, houve apenas a oferta pública de acolher um possível encontro. Fala-se agora também de outras possíveis sedes, como Genebra. De qualquer forma, não importa onde se realizará a negociação entre russos e ucranianos, que todos desejamos. O que realmente importa é que essa negociação possa finalmente começar, pois é urgente interromper a guerra”, enfatizou.
É urgente, reforçou o purpurado, em primeiro lugar, um cessar-fogo, para pôr fim às devastações, às cidades destruídas, aos civis que perdem a vida. E, depois, afirmou ser urgente alcançar uma paz estável, justa e duradoura, portanto aceita e acordada por ambas as partes.
“Leão XIV segue com determinação os passos de seus predecessores. Impressionou-me que em seu primeiro Regina Coeli, do balcão central da Basílica Vaticana – o mesmo lugar de onde o Papa Francisco abençoou os fiéis pela última vez falando de paz e desarmamento –, o Papa Leão tenha repetido as palavras de São Paulo VI na ONU: “Nunca mais a guerra!”. O Papa e toda a Santa Sé estão empenhados em construir a paz e favorecer qualquer iniciativa de diálogo e negociação”.
Pontificado de Leão XIV
Cardeal Parolin recordou as palavras profundas de Leão XIV na homilia da missa com os cardeais na Capela Sistina e na homilia da missa de início do pontificado, em que destacou aos cristãos: “devemos desaparecer, pois o protagonista é Cristo”. O purpurado comentou que os cristãos não se sentem superiores aos outros, mas são chamados a ser um “pequeno fermento na massa”, para testemunhar amor, unidade e paz.
Ao comentar as palavras ditas pelo Santo Padre em seu primeiro encontro com os jornalistas, o secretário de estado do Vaticano lembrou o pedido do Pontífice por uma comunicação que “não se revista de palavras agressivas” e “nunca separe a busca da verdade do amor com que humildemente a devemos procurar”.
“As palavras também podem se tornar instrumentos de guerra, ou podem ajudar a nos compreendermos, a dialogar, reconhecendo-nos como irmãos. A paz começa dentro de cada um de nós, e somos chamados a construí-la também a partir da forma como nos comunicamos com os outros. Como explicou o Papa Leão, devemos ‘rejeitar o paradigma da guerra’ também na comunicação”.
Prefeitos de Dicastério da Cúria diante de denúncias recebidas sobre casos de abuso
Quanto aos comentários e rumores sobre a atuação de alguns Prefeitos de Dicastério da Cúria Romana, em relação a denúncias de casos de abuso no tempo em que eram bispos diocesanos, as apurações realizadas pelas instâncias competentes, por meio da análise de dados objetivos e documentais, demonstraram que os casos foram tratados ad normam iuris, ou seja, de acordo com as normas vigentes, revelou o cardeal.
Os casos, prosseguiu, foram encaminhados pelos então bispos diocesanos ao Dicastério competente para exame e avaliação das acusações. As verificações feitas pelas autoridades competentes não constataram, em caráter definitivo, nenhuma irregularidade na conduta dos bispos diocesanos.
Leão XIV, a Rerum Novarum, revolução digital e a inteligência artificial
O Papa Leão XIV, a Rerum Novarum – do Papa Leão XVIII, revolução digital e a inteligência artificial também foram comentadas. Parolin acredita que o caminho adequado não seja nem a aceitação acrítica, nem a demonização. As possibilidades cada vez mais sofisticadas e eficazes que a tecnologia oferece, opina o purpurado, devem permanecer como instrumentos e ser sempre utilizadas para o bem, sem nunca esquecer que não se pode delegar a uma máquina decisões que dizem respeito à vida ou à morte de seres humanos.
“Devemos estar atentos para evitar — como infelizmente às vezes ocorre — que o digital, e portanto também a inteligência artificial, seja usado como instrumento de propaganda para influenciar a opinião pública com mensagens falsas. Leão XIV, ao lembrar dos jornalistas presos, falou da coragem ‘de quem defende a dignidade, a justiça e o direito dos povos à informação, porque só um povo bem informado pode fazer escolhas livres’”.