FRATELLI TUTTI

Cardeal Parolin: ‘Cultura da fraternidade, apelo ao amor’

O cardeal falou durante a apresentação da nova Encíclica do Papa: ‘por meio da cultura da fraternidade, o Papa chama todos e cada um ao amor’

Da redação, com Vatican News

O Cardeal Pietro Parolin durante a COP24, na Polônia / Foto: Vatican News

“A fraternidade não é uma tendência nem uma moda … mas o resultado de atos concretos”. Assim refletiu o Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, durante a apresentação da nova encíclica “Fratelli Tutti”, do Papa Francisco, na manhã deste domingo, 4. Afirmou que a nova Encíclica “traça uma cultura de fraternidade a ser aplicada nas relações internacionais”.

Diálogo

Se esta cultura for assim implementada, o Cardeal disse que servirá para recordar “a integração entre os países, o primado das regras sobre a força, o desenvolvimento económico e a cooperação e, sobretudo, o uso do diálogo, visto não como um anestésico ou um ocasional ‘band-aid’, mas como uma arma com um potencial destrutivo muito superior a qualquer outro armamento ”.

É o diálogo, continuou o Cardeal, que “destrói as barreiras do coração e da mente, abre espaços para o perdão e promove a reconciliação”. É a ausência que permite que “as relações internacionais degenerem ou sejam confiadas à mão pesada do poder, permitindo que a oposição e a força prevaleçam”. O diálogo, disse ele, geralmente não chega às manchetes. Em vez disso, como Fratelli tutti observa, “silenciosamente ajuda o mundo a viver muito melhor do que imaginamos” (Par. 198).

“O diálogo é uma visão que avança e perdura ao longo do tempo. O diálogo requer paciência e chega à beira do martírio. É por isso que a Encíclica se refere ao diálogo como um instrumento de fraternidade, que diferencia quem dialoga daqueles que ocupam cargos sociais importantes, mas carecem de preocupação real pelo bem comum, que não têm no coração o bem comum” (Par, 63).

Caminho ascendente

A fraternidade segue uma trajetória ascendente, explicou o Cardeal Parolin. Começa com o indivíduo, mas não é a mesma coisa que “maturidade individual, reservada exclusivamente para quem compartilha o mesmo caminho”.

“Segundo a Encíclica, o objetivo é um caminho ascendente impulsionado por aquele auxílio saudável que parte do indivíduo e se expande para abranger a família, depois as dimensões sociais e estatais, até a comunidade internacional”.

Se este caminho for empreendido, a fraternidade “pode contribuir para a renovação dos princípios que orientam a vida internacional”, observou o cardeal. Os aspectos negativos da globalização estão presentes e a pandemia os expôs de uma maneira cada vez mais clara. No fundo, a pandemia mostrou o que falta: “que existe uma incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estarmos hiperconectados, existe uma fragmentação que dificulta a solução dos problemas que afetam a todos” (Par 7).

O bem comum

Existe uma “contradição óbvia entre o bem comum” e os interesses nacionais. Isto significa que “a multidão dos abandonados fica à mercê da possível boa vontade de alguns”, disse o Cardeal citando a Encíclica (§ 165). A fraternidade atua como uma força oposta: “Ela introduz a ideia de interesses gerais, aqueles capazes de constituir uma verdadeira solidariedade e de mudar não só a estrutura da comunidade internacional, mas também a dinâmica das relações no seu interior”.

Com a adoção desta visão, “a soberania e a independência de cada Estado deixam de ser absolutas” e passam a estar sujeitas à “soberania de direito, sabendo que a justiça é condição prévia para a realização do ideal de fraternidade universal” (Par, 173).

A visão de fraternidade do Papa Francisco é a cultura que permite que a “vontade comum legitimamente expressa” seja respeitada. Assim, a fraternidade facilita a resolução de conflitos por meio da diplomacia e da negociação por um organismo multilateral. Tanto o bem comum como as nações mais fracas seriam, portanto, protegidos (ver Parágrafo 174) porque a fraternidade “substitui a centralização dos poderes por uma função colegial”, disse o Cardeal.

Substituindo paradigmas

Em seguida, o Cardeal Parolin destacou como essa cultura fraterna pode substituir gradativamente paradigmas “que não têm mais a capacidade de enfrentar os desafios e as necessidades que a comunidade internacional encontra em seu caminho atual”. Citando a nova encíclica, o Cardeal disse que a mudança é um processo “feito sobretudo pelos povos; cada pessoa pode atuar como um fermento eficaz pela maneira como vive cada dia. Grandes mudanças não são produzidas atrás de escrivaninhas ou em escritórios” (Par., 231).

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