Missionárias capuchinhas

Brasileira partilha missão no santuário que abriga corpo de Carlo Acutis

Irmã Francisca Erineuda Firmino, missionária capuchinha, conta como mudou a rotina do Santuário do Despojamento em Assis após a beatificação de Carlo Acutis e o crescimento das peregrinações

Jéssica Marçal, com colaboração de Émerson Tersigni
Da Redação

O corpo de Carlo Acutis no Santuário do Despojamento em Assis / Foto: Divulgação do Santuário

O corpo do beato Carlo Acutis, que será proclamado santo neste domingo, 7, fica exposto no Santuário do Despojamento, em Assis, na Itália. O santuário conta com o trabalho missionário de três religiosas brasileiras.

A irmã Francisca Erineuda Firmino Bento, missionária capuchinha, é uma delas. Em entrevista ao Jornalismo Canção Nova, ela partilhou sobre a rotina no santuário, especialmente após a beatificação de Carlo e o aumento das peregrinações. Ela também conta como foi receber o corpo do santo – trasladado para o Santuário em abril de 2019 – e o que mais a inspira na história do jovem.

Como começou a missão das senhoras no Santuário do Despojamento em Assis, na Itália?

Ir. Francisca – A nossa congregação foi convidada para uma missão na Itália, juntamente com os frades capuchinhos. Nós começamos a fazer esse trabalho em 2014. Em janeiro de 2017, padre Carlos, que se tornou pároco da paróquia Santa Maria Maior em Assis, nos convidou para ser uma presença missionária ali em Assis, naquele local (que iria se tornar santuário) e nós fomos para lá. Em maio de 2017, no dia 20 de maio, se tornou Santuário do Despojamento de São Francisco, para poder lembrar e recordar o despojamento de São Francisco, porque ali foi o ponto de partida do santo. E em 6 de abril de 2019, foi transladado o corpo de Carlo Acutis para o nosso santuário. Foi um presente de Deus para nós a presença do corpo do nosso querido Beato.

Como foi recebida a oportunidade de cuidar do corpo do Beato Carlo Acutis?

Ir. Francisca – No início eu lembro muito que o túmulo era fechado, então a gente não via corpo. Poucas pessoas conheciam o santuário, celebração eucarística durante a semana, pouquíssimas pessoas. Aí a gente foi começando a acolher aquela missão de cuidar do corpo. Quando teve a beatificação, abriu o túmulo e pra gente foi, primeiro, um impacto. Depois, foi esse sentir muito próximo, né? Mas também uma responsabilidade, por estar ali bebendo daquela espiritualidade todos os dias. Aquela santidade tem que passar pelas nossas mãos também.

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O que mudou no santuário após a beatificação do Carlo, com o crescimento das peregrinações ao local?

Ir. Francisca – Mudou tudo, porque antes não tinha tantas pessoas, então era uma coisa bem mais restrita. Muito mais paroquial, porque ali também é uma paróquia, então era um trabalho paroquial. A gente cuidava mais na questão dos sacramentos, missas diárias, era muito paroquial. Com a presença do Carlo e se tornando santuário, tem dia que nós temos 10 celebrações diárias no nosso santuário, então mudou muita coisa. Tem a adoração também de grupos que vem ao santuário.

Como é a rotina no santuário que abriga o corpo de Carlo Acutis?

Ir. Francisca – Na prática é o seguinte: nós somos três irmãs. Nós estamos responsáveis pela secretaria, a gente faz rodízio entre nós para passar por todos os setores. Então é a secretaria, acolher os peregrinos, fazer prenotação de celebrações. Se tem 10 celebrações, nós estamos ali. Preparamos todos os paramentos litúrgicos, a questão da preparação das celebrações e acolhemos também os peregrinos. Ajudar na organização da fila também é nosso papel, cuidar também das flores, tudo a gente tem que pensar, né? A mulher tem esse toquezinho bem feminino que dá a beleza. Então nós temos essa missão também lá no santuário. E damos bastante catequese para quem chega. Os grupos que pedem também a catequese, seja criança, seja adulto. É explicar um pouco da história do santuário e de quem foi Carlo Acutis.

O que mais te inspira na história do jovem santo?

Ir. Francisca – Uma das coisas que me encanta no Carlo, que às vezes para mim é, assim, um “tapa na cara”, é em relação à adoração. Quando o pai o convidou para ir para Jerusalém e ele disse que não queria ir e o pai achou estranho, né, e disse: “Como você, católico, catequista, vai à missa todos os dias, não quer ir para Jerusalém?”. E ele disse: “Não preciso ir onde Jesus esteve. Eu preciso ir onde Jesus está. Cada igreja em que temos Jesus sacramentado”. E hoje a comunicação oferece tantas oportunidades para as pessoas terem o contato direto com Jesus sacramentado através da comunicação, através das adorações. Então é uma missão. Como Carlo gostava muito de comunicação, de vídeo, eu sempre disse “graças a Deus que Carlo deixou isso para nós”. Uma prova pra gente ver que a santidade não é impossível, ela é possível. Por que quem já viu um santo que quando criança se vestia de homem-aranha? Esse jovem não fez nada de extraordinário, ele fez o ordinário da sua vida, ordinário no extraordinário, porque ele conseguiu colocar Deus no centro. A santidade é possível para cada um de nós, mas cabe a nós fazer diferença.

Como a canonização de Carlo Acutis também é sinal de esperança?

Ir. Francisca – Quando o Papa Francisco escolheu o Ano da Esperança, a gente não sabia o que era que ele queria dizer pra gente. Quando o Papa ficou doente, eu fui uma das pessoas que chegou no túmulo do Carlo e disse assim “Carlo, cuide do nosso Papa”. E a gente é preocupado, né, porque já tinha toda uma programação também para a santificação. Quando o Papa morreu, na segunda de Páscoa, nós estávamos na missa no santuário. Eu voltei lá no Carlo e disse: “Você não fez nada? O que aconteceu? E agora?”. Era essa preocupação muito humana de pensar “e agora como vai ser sua festa?”. Eu falei isso para ele, mas era como se ele falasse para mim: “Eu não ofereci o meu sofrimento para a Igreja, o Papa? Ofereço agora minha santificação. Não é ele que diz: “Não eu mas Deus” ?. Não é que ele queria aquela multidão por ele, mas pela igreja. E as pessoas foram obrigadas a irem para para o velório do Papa porque não houve a canonização, não poderiam cancelar os voos e os hotéis. E as pessoas foram. Nós trabalhamos no santuário como se tivesse acontecido a santificação e Carlo passou a ser mais conhecido porque as comunicações que saíam diziam: “Não teve a santificação do Beato Carlo porque o Papa morreu”. E ele passou a ser mais conhecido. E os peregrinos estão chegando no santuário já perguntando: “Ah, esse é o jovem que o Papa não conseguiu santificar, né?” Então tudo é um sinal de Deus. A esperança ela tem que nascer no nosso coração todos os dias, ela tem que ser renovada. Mesmo diante da morte. Nós somos cristãos, acreditamos nessa ressurreição.

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