Bispos da África, Ásia, América Latina e Caribe escrevem aos líderes da ONU pedindo ação urgente sobre a crise climática antes da COP30, que será realizada no Brasil
Da redação, com Vatican News

Os gases emitidos pelas indústrias são um dos responsáveis pelo aquecimento global / Foto: Freepik.com
Bispos que representam as Igrejas Católicas da África, Ásia, América Latina e Caribe lançaram um forte apelo aos líderes mundiais reunidos em Nova York para a Assembleia Geral da ONU e o Evento de Alto Nível sobre Ação Climática.
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Em carta endereçada ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, à Presidente da 80ª Assembleia Geral, Annalena Baerbock, e a Simon Stiell, Secretário Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), os bispos expressam “boa vontade e grande preocupação” com o futuro do planeta e exortam os líderes a não ficarem aquém do limite de 1,5°C acordado em Paris.
“Nós, Bispos do Sul Global, temos a honra de apresentar a Mensagem… por ocasião da COP30 – Um Apelo à Justiça Climática e à Casa Comum: Conversão Ecológica, Transformação e Resistência a Falsas Soluções”, afirma a carta. A declaração, acrescentam, já foi apresentada ao Papa Leão XIV e às Igrejas locais, como um sinal de “responsabilidade compartilhada e compromisso com a nossa casa comum”.
Uma voz profética
Recordando as palavras do Papa Francisco na Laudato Si’ e o apelo do Papa Leão XIV por uma ecologia integral enraizada na justiça, os bispos enfatizam que a urgência da crise não deixa espaço para atrasos ou meias-medidas.
“A Igreja não permanecerá em silêncio”, escrevem. “Continuaremos a levantar a nossa voz ao lado da ciência, da sociedade civil e dos mais vulneráveis, com verdade, coragem e coerência, até que a justiça seja feita.”
Os bispos sublinham que o aquecimento global, que atingiu 1,55°C em 2024, não é meramente “um problema técnico: é uma questão existencial de justiça, dignidade e cuidado com a nossa Casa Comum”.
Rejeitando falsas soluções
A carta denuncia o que chama de “falsas soluções”, como o capitalismo verde, a tecnocracia, a mercantilização da natureza e o extrativismo, que, alertam os bispos, “perpetuam a exploração e a injustiça”.
Em vez disso, eles pedem políticas que priorizem a equidade, a justiça e a proteção. “As nações ricas devem pagar sua dívida ecológica com financiamento climático justo, sem endividarem ainda mais o Sul Global”, exigem os bispos, insistindo na necessidade de uma transição justa que não deixe os mais vulneráveis para trás.
Demandas aos líderes mundiais
Em seu apelo, os bispos instam os governos a:
– Cumprir o Acordo de Paris e se comprometer com o aumento das Contribuições Nacionalmente Determinadas, em linha com a meta de 1,5°C;
– Fornecer financiamento climático suficiente para apoiar comunidades resilientes no Sul Global;
– Colocar o bem comum acima do lucro e eliminar gradualmente os combustíveis fósseis;
– Proteger os povos indígenas, a biodiversidade e as gerações futuras.
Apelo ao diálogo e à cooperação
Dirigindo-se aos líderes mundiais em preparação para a COP30 no Brasil, os bispos expressam confiança no poder do diálogo:
“Continuamos confiantes de que o diálogo genuíno, baseado na verdade e na justiça, pode guiar a comunidade internacional rumo às profundas transformações necessárias”, diz a carta. “A urgência deste momento não deixa espaço para atrasos, concessões ou meias-medidas.”
A declaração é assinada pelo Cardeal Jaime Spengler, do Brasil, Presidente do CELAM; pelo Cardeal Filipe Neri Ferrão, da Índia, Presidente da FABC; e o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, da República Democrática do Congo, Presidente do SECAM.