PALESTINA

As crianças palestinas precisam da paz, afirma Vigário da Terra Santa

Pe. Ibrahim Faltas, Vigário da Custódia da Terra Santa, descreve a dor que a guerra infligiu às crianças na Terra Santa e apela a esforços renovados

Da redação, com Vatican News

Moradores do bairro de Shuja’iyya migram para o centro de Gaza com o que puderam levar devido aos ataques do exército israelense / Foto: Anadolu via Reuters

A guerra, recentemente retomada em Gaza, é cada vez mais marcada pelo número impressionante de crianças mortas. Em uma entrevista concedida ao o L’Osservatore Romano, o Padre Ibrahim Faltas, Vigário da Custódia da Terra Santa, explorou as cicatrizes deixadas nas famílias de Gaza e os esforços da Igreja para apoiar e abrigar as crianças de Gaza o máximo possível.

O Vigário da Custódia da Terra Santa, padre Ibrahim Faltas / Foto: Reprodução Youtube

L’Osservatore Romano — Padre Ibrahim, nenhuma outra guerra viu uma porcentagem tão alta de vítimas infantis. Você pode nos ajudar a entender o por quê?
Pe. Faltas — Acredito que seja em grande parte porque as famílias em Gaza são tipicamente grandes e a população é muito jovem. Embora seja difícil apontar as razões exatas, estou profundamente familiarizado com a dor dos pais em Gaza que perderam um filho — e frequentemente mais de um. A matança de crianças inocentes, que são inocentes e incapazes de causar danos, é uma mancha que a humanidade nunca será capaz de apagar de sua história. O grande número de crianças mortas em Gaza é horrível, e é de partir o coração pensar nas cicatrizes que tantos sobreviventes carregarão — em seus corpos, seus corações e suas mentes — pelo resto de suas vidas. A mídia relata menos sobre a crescente violência na Cisjordânia, onde mortes, ferimentos e prisões também estão aumentando. Lá, também, muitas das vítimas são crianças.

L’Osservatore Romano — Os números do Ministério da Saúde Palestino são impressionantes: 15.613 crianças mortas e 33.900 feridas desde o início da guerra. Entre os mortos, estão 876 recém-nascidos e 4.110 crianças menores de cinco anos. Não há dados sobre o número de órfãos. Você tem alguma informação? Quantas crianças se acredita terem perdido os pais? Quem está cuidando delas?
Pe. Faltas — Estimativas sugerem que cerca de 20.000 crianças ficaram órfãs. Infelizmente, esse número pode aumentar, já que não sabemos quantos corpos ainda estão enterrados sob os escombros. Disseram-me que, em muitos casos, crianças mais velhas estão cuidando de seus irmãos mais novos, assumindo as responsabilidades de um adulto. Uma das grandes tragédias desta guerra é que não conseguimos ajudar: a ajuda humanitária não consegue passar, e apenas alguns voluntários foram autorizados a entrar em Gaza — e apenas recentemente. É devastador estar tão perto, mas tão impotente.

L’Osservatore Romano — Na primavera passada, você trabalhou com o governo italiano para providenciar que mais de 200 crianças feridas ou doentes de Gaza recebessem tratamento médico em hospitais italianos. Você conseguiu tirá-las pelo Egito. Você acha que esforços semelhantes podem acontecer novamente?
Pe. Faltas — Desde o final de janeiro de 2024, mais de 200 crianças foram acolhidas em hospitais na Itália. Mesmo nas últimas semanas, graças ao cessar-fogo temporário, mais crianças de Gaza chegaram via Egito. Em novembro de 2023, após uma audiência matinal com o Santo Padre, visitei nossos amigos no Hospital Bambino Gesù. Sua generosidade — como pais primeiro, e depois como médicos e administradores — abriu a porta para ajudar esses pequenos. O governo italiano ativou todos os canais diplomáticos possíveis para que isso acontecesse. Nunca deixarei de agradecer ao povo italiano por sua generosidade. Sei que outros países europeus também acolheram crianças doentes de Gaza, e espero que mais o façam. A lista de crianças que precisam de tratamento é muito longa, mas tirá-las de lá não é fácil. Uma trégua — ou melhor ainda, o fim da guerra — poderia salvar a vida de crianças que já estão tão profundamente marcadas.

L’Osservatore Romano — Você ajudou pessoalmente muitas dessas crianças. Há alguma história em particular que ficou com você? Algum caso especialmente comovente que você gostaria de compartilhar?
Pe. Faltas — Junto com o Ministro das Relações Exteriores italiano Antonio Tajani, dei as boas-vindas à maioria das crianças quando elas chegaram à Itália. Nós tínhamos falado sobre as crianças enquanto esperávamos por elas no aeroporto, mas depois que ouvimos suas histórias dos pais e responsáveis, ficamos sem palavras. Mais tarde, visitei-os em hospitais e acompanhei sua recuperação. Conheci um menino que chegou com ferimentos graves nas pernas — eu o vi andar novamente após uma operação complexa. Uma jovem lutando contra o câncer agora está muito melhor, embora quando ela chegou, os médicos me avisaram que ela estava em estado crítico. Na Itália, essas crianças receberam tanto cuidados médicos quanto amor. Algumas já falam italiano. Quando me ligam, finalmente consigo ouvir paz em suas vozes — graças a Deus.

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