“O povo precisa de alguém que lhe dê esperança e que o anime a avançar, a construir perspetivas de vida”, afirma Dom Zuanna sobre visita do Papa
Da redação, com Agência Ecclesia
O arcebispo de Beira, em Moçambique, Dom Cláudio Dalla Zuanna afirmou nesta quarta-feira, 3, que o Papa Francisco não poderá visitar o local atingido diretamente pelo ciclone Idai, em março passado, e apelou para uma maior consciência sobre o impacto das alterações climáticas.
“Todos esperávamos que o Papa chegasse, pelo menos à Beira. Teria sido um gesto de consolação para as pessoas e uma forma de chamar a atenção para as mudanças climáticas e para esta cidade, que está a tentar reerguer-se”, disse o arcebispo, a três meses da viagem que o Papa Francisco vai realizar a Moçambique, Madagáscar e Maurício, entre 4 e 10 de setembro.
.: Programação da viagem do Papa a Moçambique, Madagascar e Maurício
Dom Zuanna nota que a capital assistiu a um “movimento de solidariedade”, mas regista que “as pessoas não sentiram na pele a situação do ciclone, como se sentiu em Sofala, e no norte, em Cabo Delgado”. A atenção do Papa para as alterações climáticas e para o desenvolvimento limitado que os países em vias de desenvolvimento estão voltados são consequência dos comportamentos dos países desenvolvidos, e tem sido uma constante no atual pontificado, afirmou o arcebispo.
“Somos um país muito exposto a mudanças climáticas, aos seus efeitos, devido à posição geográfica. Há um conjunto de elementos que já fazem parte da experiência. As problemáticas da florestação, do uso da terra, dos recursos do país entram neste contexto de respeito da terra e das mudanças climáticas que parecem estar ligadas à atitude do homem”, indica Dom Zuanna que espera uma palavra do Papa sobre estas questões.
A três meses da chegada de Francisco a Maputo, onde permanecerá entre 4 e 6 de setembro sob o lema ‘Esperança, paz e reconciliação’, nas ruas da capital moçambicana já se sentem os preparativos; foi também difundida uma oração para ser rezada todos os domingos e há uma reflexão a desenvolver-se sobre o papel e missão do Papa, adiantou o responsável eclesial.
“Não faltarão também as capulanas, um pano tão útil. Está a ser produzido e vendido nas cidades, para preparar a visita”, conta Dom Zuanna que assegura a participação massiva da população de Maputo. “Das províncias as viagens são difíceis e caras, e daqui o número será reduzido, possivelmente mais representado por delegados. Na cidade de Maputo haverá uma participação massiva, e estarão presentes outros países, África do Sul, Zimbabué, Lesoto”, salienta.
Uma terra “ameaçada por diferentes fatores a marcar a vida das pessoas” aguarda uma palavra de esperança vinda do Papa. “A esperança está ameaçada: os ciclones que afetaram o país nos últimos meses, a (falta) de perspetiva de trabalho (para) a juventude, a maioria da população de Moçambique é jovem, está abaixo dos 20 anos e precisa ter uma perspetiva de vida”, destacou o responsável eclesial.
No encontro onde estarão presentes representantes políticos Dom Zuanna espera ouvir palavras de “boa governação”.“A paz e a reconciliação são elementos fundamentais, o povo moçambicano há tanto tempo sofre por falta de paz e precisa ser ajudado a percorrer os caminhos da reconciliação. O uso dos recursos naturais em que Moçambique é rico, precisa ser canalizados para criar esperança, lugares de trabalho e perspetivas para a juventude”, adianta.
“Ele não irá desperdiçar esta ocasião para indicar o caminho e rumo para uma boa governação”, expressou o arcebispo. Dom Zuanna participará do encontro agendado para o dia 6 de setembro com os bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, consagrados e seminaristas, catequistas e animadores, na Catedral da Imaculada Conceição. “O povo precisa de alguém que lhe dê esperança e que o anime a avançar, a construir perspetivas de vida” são os apelos que o arcebispo da Beira gostaria de endereçar ao Papa Francisco.
O presidente de Moçambique Filipe Nyusi está em Portugal para uma visita oficial de quatro dias, onde irá abordar a reconstrução das áreas atingidas pelos ciclones que atingiram Moçambique, em particular as consequências do Idai, que em março vitimou 600 pessoas e afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, sobretudo na região da Beira.