Dom Júlio Akamine reforçou que as mudanças climáticas são uma preocupação antiga da Igreja, que vê a natureza não na ordem da economia, mas na ordem do amor
Da Redação, com Vatican News

Foto: Matt Palmer na Unsplash
A cidade de Belém recebeu nas últimas duas semanas líderes mundiais e delegações de mais de 190 países para a Conferência sobre o Clima da ONU (COP30). A cidade se preparou para o evento da melhor maneira possível, como também a Arquidiocese de Belém, através de uma comissão especial que orientou e acolheu representantes da Igreja Católica do Brasil e da Santa Sé. O arcebispo de Belém (PA), Dom Júlio Endi Akamine (sucessor de Dom Alberto Taveira Corrêa) fez um balanço sobre as atividades.
O trabalho de preparação para o evento foi intenso, contou o arcebispo. Segundo ele, o bispo auxiliar de Belém, Dom Paulo Andreolli organizou muitos eventos paralelos à COP30 e Dom Alberto se encarregou da questão logística, hospedagem, acolhida da delegação da Santa Sé e do secretário de Estado da Santa Sé. “De fato, tivemos uma presença significativa da Igreja Católica na COP30, acho que até reconhecido por outras pessoas, e isso nos deixa muito contentes”, disse.
Dom Akamine também frisou o interesse e a participação de tantos bispos, cardeais, leigos e movimentos no evento. “Valeu a pena todo o trabalho realizado. E esperamos agora os frutos de tudo isso. (…) A gente espera que as decisões sejam mais corajosas. Mas mais importante do que as decisões é colocar em prática. Da parte da igreja, eu acho que a grande contribuição é o trabalho na conscientização das pessoas”.
Mudanças Climáticas
Há anos a Igreja no Brasil está engajada no enfrentamento das mudanças climáticas, explicou o arcebispo de Belém. Ele afirmou que a Igreja vê a natureza não na ordem da economia, mas na ordem do amor, como obra do Criador, destinada a todos.
“A Igreja participou de maneira muito ativa da COP30 aqui em Belém, marcou uma presença não só quantitativa, mas qualitativa. Isso se deve ao trabalho das gerações anteriores, que nós recebemos. Graças a Deus, acho que nós honramos também isto que nós recebemos, e esperamos transmitir isso para as próximas gerações”, desejou.
Dom Akamine recordou que o Papa Francisco chamou atenção para o fato de que as mudanças do modo de viver, do comportamento, dos hábitos de consumo e do uso dos bens da Terra, há longo prazo, está na base das grandes mudanças necessárias.
“Sem esse engajamento, esse comprometimento pessoal, consciente, responsável de cada um, as grandes mudanças não se farão. Podem até ser impostas, mas é muito melhor que as pessoas, de fato, assumam isso de maneira consciente e responsável”, enfatizou.
Simpósio Internacional
Durante os eventos que acompanharam a COP30, em Belém (PA), a Igreja Católica teve participação ativa em momentos de reflexão, diálogo e manifestação pública. Entre eles, destacou-se o Simpósio Internacional promovido pela Igreja, que reuniu representantes de diversos países para discutir responsabilidade ambiental, fé e ciência.
Segundo Dom Akamine, arcebispo de Belém, o encontro uniu reflexão teórica e gestos concretos. Além das conferências, os participantes realizaram uma procissão que culminou com a celebração da Eucaristia — gesto que, para o arcebispo, expressa a dimensão espiritual da missão de cuidar da criação.
“A Eucaristia é uma antecipação da obra de Deus. São Paulo diz que a criação geme esperando a manifestação da glória dos filhos de Deus. A natureza está destinada a participar dessa glorificação (…). As discussões, a responsabilidade, o gesto concreto e a celebração eucarística formaram um caminho muito significativo.”
Cúpula dos Povos e Marcha mobilizam milhares
Outro momento marcante foi a Cúpula dos Povos, que reuniu movimentos sociais, comunidades tradicionais e organizações ambientais. A grande marcha realizada pelas ruas de Belém reuniu entre 60 e 70 mil pessoas, chamando atenção para a urgência de decisões concretas em defesa do planeta.
Dom Akamine destacou tanto a dimensão impressionante da mobilização quanto a diversidade dos participantes. “A marcha surpreendeu. A diversidade de grupos mostra que a colaboração é possível. Iniciativas individuais têm efeitos limitados; quando cooperamos, os resultados são mais duradouros”, disse.
Para ele, o principal recado vindo da mobilização popular é a certeza de que somente a ação conjunta poderá gerar mudanças efetivas diante dos desafios climáticos.
Primeiro Círio como arcebispo de Belém
Vivendo seus primeiros meses como arcebispo da capital paraense, Dom Akamine também refletiu sobre sua experiência no Círio de Nazaré — uma das maiores manifestações religiosas do mundo. Ele afirmou sentir-se plenamente acolhido pelos paraenses.
“As pessoas perguntam se estou gostando. Eu não estou gostando, estou amando. Logo no primeiro dia, me senti em casa, acolhido como um dos seus”, contou.
Ao falar do Círio, o arcebispo descreveu o impacto espiritual e humano do encontro. “Sempre dizem que o Círio não se explica, se vive. É verdade. Ao ver aquela multidão, senti medo, porque é algo incontrolável. E mesmo assim, tudo ocorreu bem. Foram 14 procissões sem incidentes. Isso para mim foi um milagre possível pela grande devoção a Nossa Senhora.”
Com mensagens que unem fé, esperança e responsabilidade social, Dom Júlio reafirmou que os eventos realizados em Belém demonstram que a colaboração entre povos, instituições e comunidades é o caminho para cuidar da Casa Comum.




