Bispos da Pan-Amazônia comentam como evento em Bogotá ajuda a perceber que o Sínodo é uma realidade viva
Da Redação, com Vatican News

Foto: Ceama
O encontro que reuniu em Bogotá, na Colômbia, mais de 90 bispos da Pan-Amazônia foi concluído nesta quarta-feira, 20. O bispo auxiliar da arquidiocese de Manaus e vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia, Dom Zenildo Lima, participou do evento e reafirmou o “grande potencial sinalizador” do mesmo.
Dom Lima enfatizou o “cansaço histórico” vivido por quem habita nesta região, marcada por “contextos tão violentos, tão intolerantes e que produzem, geram relações de descarte”. “Por isso mesmo, tão agressivas com a nossa região da Amazônia, com a ausência de experiências, espaços de convivências que sejam sadias e esperançosas”, prosseguiu.
Caminho de construção de novas relações
Há alguns anos, consciente do de seu papel evangelizador e de sua missão de anunciar Jesus Cristo, a Igreja católica tem assumido o caminho de aproximação e construção de novas relações, afirmou o bispo auxiliar de Manaus, um caminho que está sendo chamado de “sinodalidade.”
Ele recordou o Sínodo para a Amazônia, que aconteceu em 2019, “como um grande sinal” que provocou o surgimento de novos sinais, sendo a Conferência Eclesial como “a visibilização desse sinal de relações novas, de relações de cuidado, de experiência religiosa que seja esperançosas”.
Nessa perspectiva, o bispo destacou como muito oportuno perceber que as igrejas locais são “espaço por excelência da experiência da sinodalidade”, e que é aí que “estas experiências novas estão acontecendo”, o que faz da Igreja que está na Amazônia “um grande sinal da presença de Deus junto ao seu povo, tão machucado por essas relações violentas”.
Dom Lima frisou que foi um encontro de igrejas, dado que os bispos trouxeram consigo, de suas igrejas locais, o testemunho desta sinodalidade. Um encontro que tem ajudado a perceber que o Sínodo e a sinodalidade é uma realidade viva, latente nas igrejas, sendo o encontro uma oportunidade para perceber os avanços e a unidade.
Povos amazônicos condutores da história
O bispo ressaltou o saber e conhecimento dos povos amazônicos, assim como sua consciência muito clara das relações que se estabelecem, sendo assim “construtores e condutores de história.” Diante da reunião dos presidentes da região amazônica, ele disse que “muito além de correspondências formais que podem receber dentro de um protocolo”, estes povos são muito bem conhecedores dos grandes processos, das grandes tensões, dos grandes desafios e das grandes responsabilidades que têm em mãos.
Ao comentar sobre os governantes, Dom Lima disse esperar uma capacidade de escolha, de decisão política, a partir de suas consciências, pela vida, pelas relações, pelo bioma. Ele pediu decisões para o bem dos povos, dado que as populações indígenas, os povos tradicionais, continuam inspirando e oferecendo os elementos para que o discernimento coletivo se faça também segundo uma grande sabedoria que paira sobre esse continente.
Escutar, discernir e compartilhar a caminhada
Um encontro que voltou a evidenciar o compromisso da Igreja da Amazônia de levar “este anúncio do evangelho de Jesus para descobrir a grande riqueza das culturas indígenas, e também o grande desafio (…) diante dos efeitos das mudanças climáticas e do desmatamento”, é o que destacou o arcebispo emérito de Huancayo (Peru) e presidente da CEAMA, Cardeal Pedro Barreto. O purpurado vê o encontro como um momento para assumir o compromisso de trabalhar de forma unificada, além das fronteiras.
O cardeal peruano insistiu que o encontro foi uma oportunidade para “escutar, discernir e compartilhar” a caminhada de todos como pastores das Igrejas Particulares que peregrinam na Amazônia. Da mesma forma, ele afirmou que “a Igreja com rosto amazônico anuncia Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, a partir da Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, acompanha e serve às Igrejas particulares em sua missão evangelizadora”.
“O anúncio, a organização e o compromisso eclesial devem ser acompanhados por um verdadeiro encontro”, chamando a não viver como ilhas, a não se fechar em si mesmo, mas a “amar e ser amado”, ser sinais da “ternura de Jesus, nosso Bom Pastor, que nos chama a participar de sua missão, não por nossos méritos nem pelo tempo que estamos em seu rebanho, mas por sua bondade e misericórdia”, observou.
Momento de amadurecimento
Uma experiência de escuta que tem a ver com o bioma amazônico, nas palavras da vice-presidente da CEAMA, Patricia Gualinga, bem como com a realidade dos povos indígenas, as ameaças que sofrem e a evangelização a partir da inculturação. Uma dinâmica que levou à descoberta de que “todos estamos compartilhando realidades comuns”, segundo a indígena equatoriana, que insistiu na crise climática, que levou a Amazônia a um ponto sem volta, com muitas violações aos povos.
O prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, Cardeal Michael Czerny, felicitou a CEAMA pela iniciativa desta reunião dos bispos. Ele disse esperar que este encontro “seja um momento de amadurecimento, um novo começo”, que produzirá coisas novas e interessantes sobre “como a Igreja continua tentando acompanhar o povo de Deus e o grande dom de Deus que é a Amazônia”.