Mestre em Teologia, padre Vinicius Baquer explica características do Antigo Testamento, enfatiza centralidade de Jesus na Escritura e dá dicas de leitura
Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: Gabriel Fontana
Composto por 46 livros, o Antigo Testamento guarda a memória e os ensinamentos do Povo de Deus que esperava a vinda do Messias. Com uma grande riqueza a ser explorada, esta primeira parte da Bíblia é o tema da segunda matéria da série especial do noticias.cancaonova.com neste mês dedicado à Sagrada Escritura.
Leia também
.: Como surgiu a Bíblia: professor Felipe Aquino explica processos da Igreja
.: Padre: Mês da Bíblia é tempo de “graça especial” com a Palavra de Deus
Mestre em Teologia e membro do clero da Diocese de Diamantino (MT), padre Vinicius Baquer destaca que o Antigo Testamento tem uma longa história que antecede em séculos o nascimento de Jesus, ponto que o separa do Novo Testamento. “Nele é retratada, de maneira teológica, toda a história do Povo de Deus”, afirma.
Neste contexto, o sacerdote frisa que as características do texto são teológicas, não históricas. “Não é do interesse da Sagrada Escritura nos contar detalhes históricos ou narrar como relatos jornalísticos os acontecimentos do passado. Seu interesse fundamental é transmitir aos homens, de todos os tempos e lugares, os feitos salvadores de Deus na história humana, Sua Revelação e, também, a resposta humana, às vezes positiva, às vezes negativa”, explica.
Padre Vinicius também chama a atenção para a centralidade do nascimento de Jesus não apenas para a Sagrada Escritura, mas para a história como um todo. “Sendo Ele a plenitude da Revelação, ilumina todo o Antigo Testamento de maneira que, para os cristãos, o Antigo Testamento passa a ser lido não em si mesmo, mas sempre à luz do Cristo, morto e ressuscitado”, pontua. Desta forma, acrescenta, os cristãos devem ler o Antigo Testamento como uma preparação para a revelação plena e definitiva em Jesus.
Grupos de livros do Antigo Testamento

Padre Vinicius Baquer / Foto: Arquivo pessoal
O mestre em Teologia indica que o Antigo Testamento pode ser dividido em quatro grupos. O primeiro deles é o Pentateuco, composto pelos livros do Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Estes escritos tratam do princípio da Criação e do Povo de Deus, estendendo-se até a chegada às portas da Terra Prometida.
Os livros históricos retratam a chegada e posse da terra prometida até a sua perda, por ocasião do Exílio da Babilônia. Os livros proféticos, por sua vez, contêm as interpretações da Aliança durante os anos da monarquia, chamando o povo à fidelidade a Deus e advertindo sobre os perigos da idolatria e infidelidade.
Por fim, o sacerdote aponta os livros sapienciais como provavelmente o grupo mais diverso tanto no tempo quanto nos assuntos. Escritos em diversos momentos da história de Israel, sua origem remete ao reinado de Salomão, ao passo que há escritos próximos ao início do Novo Testamento. “Tratam, sobretudo, de uma reflexão à luz da fé das diversas realidades humanas, vendo nelas a ação providente de Deus que convida o ser humano à sabedoria”, acrescenta.
“O Antigo Testamento aponta para Cristo”
Para compreender melhor o Antigo Testamento, uma sugestão dada pelo padre Vinicius Baquer é a leitura das informações sobre cada livro antes de seu início. “Uma boa Bíblia possui introduções à cada livro com notas históricas, contexto da escrita e principais aspectos teológicos. Tais informações são importantes para uma melhor compreensão de passagens ou contextos difíceis”, observa.
O sacerdote recorda também que o texto bíblico é Palavra de Deus em palavras dos homens, ou seja, há na Bíblia muito daquilo que eram as perspectivas humanas. Assim, é preciso levar em conta estes contextos e a diferença entre as verdades da fé e as circunstâncias históricas.
“Lembre-se, para nós cristãos, o Antigo Testamento aponta para Cristo. Quando deparar-se com uma passagem difícil, pergunte-se: ‘de que maneira isso pode se relacionar com Cristo?’. Essa relação pode se dar por preparação, superação, assimilação”, complementa.
Dicas de leitura
O mestre em Teologia explica também que cada livro possui suas próprias características, tanto teológicas quanto literárias. Os salmos são poéticos e convidam à oração. Os provérbios costumam ser de fácil memorização e se relacionam com aspectos práticos da vida. Os relatos históricos são mais detalhados e contados de maneira narrativa, apresentando ainda o coração das pessoas envolvidas.
Padre Vinicius pontua, porém, que estas recomendações estão ligadas a uma leitura mais aprofundada da Bíblia, mas não devem impedir o contato dos fiéis com a Sagrada Escritura. “Ninguém precisa de um repertório acadêmico para se aproximar da Palavra de Deus, pois é a palavra do Pai aos seus filhos. A Bíblia deve ser lida e amada em todos os ambientes e por todas as pessoas”, expressa.
“Uma leitura mais atenta aos detalhes das Escrituras nos possibilita contemplar a beleza da verdade que se encontra na forma literária, a mão da providência que guia os seres humanos no correr da história e o mistério, incompreensível até mesmo para aqueles que foram inspirados por Deus, do único Verbo Eterno de Deus, que se fez homem para salvação”, conclui.