Igreja celebra, nesta segunda-feira, 2, os Santos Anjos da Guarda; professor de História da Igreja comenta devoção e religiosa explica carisma da Congregação dos Santos Anjos
Julia Beck
Da redação
“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém!”. Essa é uma oração popular, passada de geração em geração entre os católicos, e que demonstra a devoção dos fiéis aos Santos Anjos da Guarda – celebrados nesta segunda-feira, 2, pela Igreja.
Os anjos são dogmas de fé e, segundo o professor de História da Igreja e autor de vários livros de formação católica Felipe Aquino, o catecismo da Igreja fala isso com muita clareza. “O parágrafo 336 do Catecismo diz que, desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e intercessão, ou seja, o Catecismo assegura a existência do anjo da guarda desde o início da vida até a morte”, explica.
Aquino sublinha que São Basílio Magno, doutor da Igreja, fala que cada fiel é ladeado por um anjo que é protetor e pastor. O professor reforça que o Catecismo, no parágrafo 350, fala que os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem aos seus desígnios salvíficos em relação às demais criaturas. Já no parágrafo 351, os anjos são definidos também como aqueles que cercam Cristo, Seu Senhor, e servem-no particularmente no cumprimento da sua missão salvífica para com os homens. “Eles intercedem na nossa salvação”, acrescenta.
Devoção reconhecida e incentivada
A partir do momento em que a Igreja celebra liturgicamente a festa dos Santos Anjos da Guarda, ela está reconhecendo e incentivando a sua devoção, comenta Aquino. “A Igreja reza conforme ela crê, e crê conforme ela reza (lex credendi, lex orandi), se a Igreja celebra, é porque ela acredita”, reforça. O professor recorda então o parágrafo 352, que afirma que a Igreja venera os anjos que ajudam em sua peregrinação terrestre e protegem cada ser humano.
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No livro do Êxodo, capítulo 23, do versículo 20 até o 23, é citada uma fala de Deus a Moisés: “Vou enviar um anjo que vá à tua frente, que te guarde pelo caminho e te conduza ao lugar que te preparei. Respeita-o e ouve a sua voz. Não lhe sejas rebelde, porque não suportará as vossas transgressões, e nele está o meu nome”. Aquino frisa que este trecho inicial destaca que a presença do anjo representa a presença de Deus.
Hierarquia dos anjos
“A Bíblia indica que os anjos têm características e encargos diferentes, conforme a sabedoria divina os criou”, comenta o professor. Ele sublinha que São Gregório Magno, doutor da Igreja, na sua homilia 34, dá uma ideia clara do ponto de vista dos doutores da Igreja sobre esse assunto: “Existem nove ordens de anjos, arcanjos, virtudes, potestades, principados, dominações, tronos, querubins e serafins”. Aquino revela então que existem anjos e arcanjos em quase todas as páginas da Bíblia.
O professor de História da Igreja prossegue lembrando que São Tomás de Aquino, na Suma Teológica dele, seguindo São Dionísio, divide os anjos em três hierarquias e cada uma delas contém mais três ordens. Na primeira hierarquia, ele coloca que estão os serafins, querubins e os tronos. Na segunda hierarquia, estão as dominações, virtudes e potestades. Na terceira, estão os principados, anjos e arcanjos.
“São Gerônimo diz que os anjos cuidam e zelam até pelos por menores do cosmo, ou seja, pela criação. Um outro doutor da Igreja, São João Crisóstomo, diz que os serafins louvam a Trindade, rodeiam o altar celestial do qual a Igreja é modelo neste mundo”, reforça.
Outro ponto importante destacado por Aquino é que São Roberto Belarmino fala dos cinco ofícios dos anjos. “O primeiro e mais importante é cantar continuamente louvores e hinos ao Criador. O segundo ofício dos anjos consiste em apresentar a Deus as preces dos homens e interceder por eles. O terceiro é de anunciar aos homens os assuntos mais importantes de Deus, como por exemplo, a redenção e a salvação eterna. O quarto é o de proteger os homens, isso pode dar-se individualmente ou em conjunto. O quinto ofício é o de serem soldados, chefes armados para tomarem vingança das nações e repreenderem os povos. Serão esses anjos que, no juízo final, irão separar os homens bons dos homens maus”.
Congregação dos Santos Anjos
Irmã Emiliana da Silva Faria, de 67 anos, é membro da Congregação dos Santos Anjos (fundada no dia 15 de outubro de 1831). A vocação das irmãs dos Santos Anjos é vivida, segundo a religiosa, através de carisma da congregação: “Nossa vocação é a dos Anjos: presença de Deus no serviço à Vida, por Amor”. Também a espiritualidade se inspira nos anjos – Adoração, Louvor, Contemplação, Serviço – e nas virtudes de Humildade, Simplicidade e Zelo.
A congregação tem como principais celebrações a Festa dos Santos Arcanjos (29 de setembro), a Festa de Nossa Senhora dos Anjos (2 de agosto) e a Festa dos Anjos da Guarda – celebrada nesta segunda-feira, 2. “Hoje é um dia de grande festa para todos os nossos Colégios, isto é, para todos os nossos alunos, professores, funcionários e tantos que formam nossa grande família dos ‘Santos Anjos’. Nós irmãs também celebramos esses nossos protetores diários, a quem procuramos imitar, rezando diariamente sua oração”, revela.
Por fim, a religiosa conta uma curiosidade: nesses 192 anos da congregação, não há nenhum registro de mortes por acidente de qualquer espécie envolvendo as irmãs, somente o registro de mortes causadas por questões de saúde. Irmã Emiliana atribui o fato à proteção de Deus por intermédio dos Santos Anjos.