MUDANÇAS CLIMÁTICAS

“A indiferença é cúmplice da injustiça”, afirma Cardeal Parolin na COP 29

Secretário de Estado do Vaticano pronunciou discurso preparado pelo Papa Francisco, que salienta urgência em desenvolver soluções em uma perspectiva global

Da Redação, com Vatican News

Cardeal Pietro Parolin durante discurso na COP 29 / Foto: REUTERS/Murad Sezer

Nesta quarta-feira, 13, a Santa Sé divulgou a mensagem enviada pelo Papa Francisco para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024 (COP 29). Em Baku, no Azerbaijão, o secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, foi o responsável por proferir as palavras do Pontífice.

No início de sua fala, o cardeal assegurou a proximidade, o apoio e o incentivo do Santo Padre para que a COP 29 consiga demonstrar que existe uma comunidade internacional “pronta a olhar para além dos particularismos e a colocar no centro o bem da humanidade e da nossa casa comum, que Deus confiou ao nosso cuidado e responsabilidade”.

O secretário de Estado indicou, em seguida, que os dados científicos deixam claro que a preservação da criação é uma das questões mais urgentes da atualidade e está intimamente ligada à promoção da paz. Além disso, apontou que a COP29 ocorre em um contexto de desilusão com as instituições multilaterais e “perigosas tendências de construir muros”.

Recordando as palavras do Papa na Audiência Geral de 2 de setembro de 2020, Parolin destacou que “o egoísmo – individual, nacional e dos grupos de poder – alimenta um clima de desconfiança e divisão que não responde às necessidades de um mundo interdependente no qual deveríamos agir e viver como membros de uma família que habita a mesma aldeia global interligada”.

Dívida ecológica

Da mesma forma, o desenvolvimento econômico não reduziu a desigualdade, sinalizou o cardeal. Pelo contrário, “favoreceu a priorização do lucro e dos interesses especiais em detrimento da proteção dos mais fracos, e contribuiu para o agravamento progressivo dos problemas ambientais”.

Para reverter este problema, é necessário compreender que as consequências nocivas deste estilo de vida afetam a todos e moldar o futuro em conjunto, prosseguiu o secretário de Estado, a fim de garantir que as soluções sejam propostas sob uma perspectiva global e criar uma cultura de respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana.

Neste contexto, o cardeal afirmou que esforços feitos para encontrar soluções não podem comprometer ainda mais o desenvolvimento de muitos países já sobrecarregados por dívidas. “Ao discutir o financiamento climático, é importante lembrar que a dívida ecológica e a dívida externa são dois lados da mesma moeda, hipotecando o futuro”, expressou.

Parolin recordou o apelo feito por Francisco, em vista do Jubileu 2025, que os países mais ricos “reconheçam a gravidade de muitas das suas decisões passadas e decidam perdoar as dívidas dos países que nunca serão capazes de pagá-las”. “Mais do que uma questão de generosidade”, acrescenta o Papa, “esta é uma questão de justiça”, ainda mais no contexto da chamada “dívida ecológica” que algumas nações têm devido ao uso desproporcional de recursos naturais durante muito tempo.

“A indiferença é cúmplice da injustiça”

Também foi apontada pelo secretário de Estado a necessidade de uma nova arquitetura financeira internacional, “que possa realmente garantir a todos os países, especialmente os mais pobres e os mais vulneráveis ​​a desastres climáticos, caminhos de desenvolvimento de baixo carbono e de alta participação que permitam que todos alcancem seu potencial máximo e vejam sua dignidade respeitada”.

“Temos os recursos humanos e tecnológicos para reverter o curso e prosseguir no círculo virtuoso de um desenvolvimento integral verdadeiramente humano e inclusivo”, salientou o cardeal, lembrando a Carta Encíclica Populorum progressio, de São Paulo VI.

Diante disso, exortou todos a trabalharem em prol do bem comum da humanidade e reiterou a dedicação e o apoio da Santa Sé neste esforço, especialmente no campo da educação ecológica integral e na conscientização sobre o meio ambiente como um problema humano e social em vários níveis.

“A indiferença é cúmplice da injustiça”, exprimiu Parolin, frisando que não há tempo para indiferença para os dias atuais. “Este é o verdadeiro desafio do nosso século (…) prestar um serviço eficaz à humanidade, para que todos possamos assumir a responsabilidade de salvaguardar não apenas o nosso próprio futuro, mas o de todos”, concluiu.

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