Leão XIV dirigiu uma reflexão aos participantes do Jubileu do Mundo Educativo; “a educação é um dos instrumentos mais poderosos para mudar o mundo”, disse
Julia Beck
Da Redação

Papa Leão durante discurso na Sala Paulo VI/ Foto: Filippo Monteforte / AFP
“Tenham a audácia de viver plenamente, não se contentem com aparências e modas, uma existência nivelada pelo passageiro nunca vai nos satisfazer”. Foi o que afirmou o Papa Leão XIV aos estudantes e participantes do Jubileu do Mundo Educativo reunidos na Sala Paulo VI nesta quinta-feira, 30. No início de sua reflexão, o Pontífice assinalou que esperou com grande emoção pelo momento e recordou o tempo em que ensinou matemática para jovens.
O estudante italiano São Pier Giorgio Frassati, que foi canonizado em setembro passado, foi citado pelo Santo Padre. O jovem, com sua alma apaixonada por Deus e pelo próximo, cunhou duas frases que repetia constantemente: “viver sem fé, não é viver” e “rumo ao alto”. As afirmações foram consideradas pelo Papa como muito verdadeiras e encorajadoras.
O Pontífice encorajou os jovens a pedir a Deus a graça de sonhar mais alto, desejar mais e deixar-se inspirar por Ele. “Este desejo é a força de vocês. Ele caracteriza bem o empenho dos jovens que almejam uma sociedade melhor, que se recusam a permanecer como expectadores”, afirmou.
Geração “plus”
“Maravilhoso seria se um dia a geração de vocês fosse conhecida como a geração ‘plus’”, disse Leão XIV. Ele frisou seu anseio para que os jovens deste tempo sejam lembrados pelo impulso extra que deram à Igreja e ao mundo. “Unamo-nos todos neste sonho e no testemunho da alegria de acreditar em Jesus”, pediu.
De acordo com o Papa, este impulso só é possível através da educação, que considera um dos instrumentos mais bonitos e poderosos para mudar o mundo.

Sala Paulo VI na manhã desta quinta-feira, 30/ Foto: Filippo Monteforte / AFP
Pacto Educativo Global
Há 5 anos, o Papa Francisco lançou o projeto do Pacto Educativo Global, recordou o Santo Padre. “[O pacto] é uma aliança de todos aqueles que trabalham na área da educação e da cultura, com o objetivo de envolver as novas gerações em uma fraternidade universal”, explicou.
A partir disso, Leão XIV indicou que os jovens não são apenas destinatários da educação, mas protagonistas. Deste modo, pediu aos mais novos que se unam na promoção de uma nova era educativa, no qual todos se tornam testemunhas críveis da verdade e da paz.
Constelações educativas
Os jovens “são chamados a serem pessoas de palavra e construtores de paz”, enfatizou o Papa. Citando o futuro Doutor da Igreja, São John Henry Newman (que será proclamado como tal neste sábado, 1º de novembro), o Pontífice destacou que o saber se multiplica quando é partilhado e que a verdadeira paz nasce quando muitas vidas se unem e formam um desenho, “constelações educativas” que orientam para um caminho futuro.
Na sequência, por curiosidade, Leão XIV indagou os estudantes: “Vocês sabem quantas estrelas existem no universo observável? ”. E respondeu: “1 sextilhão de estrelas” (1.000.000.000.000.000.000.000.000). O Papa afirmou que, caso as estrelas fossem divididas entre os habitantes da terra, cada um teria centenas de estrelas. “A olho nu, em noites límpidas, podemos ver cerca de 5 mil. Embora as incontáveis estrelas, vemos apenas constelações mais próximas, essas, porém, indicam uma direção, como quando se navega em alto-mar”, salientou.
“Desde sempre os navegantes encontravam uma rota nas estrelas (…). Até os reis magos seguiram uma estrela para chegar a Belém e adorar o menino Jesus. Tal como eles, vocês também têm “estrelas guia”: os pais, os professores, os sacerdotes, os bons amigos, todos são bussolas para vocês não se perderem na vida”, refletiu.
Uma estrela sozinha, observou o Santo Padre, permanece um ponto isolado, mas quando se une às outras, forma uma constelação. Assim são todos os jovens, cada um é uma estrela, mas juntos são chamados a orientar o futuro.
“A educação une as pessoas, mantém comunidades vivas e organiza as ideias (…). Somos estrelas porque somos “centelhas de Deus”, educar significa cultivar esse dom”, declarou. Leão XIV frisou então que a educação ensina a olhar cada vez mais para o alto e menos para os celulares.
Educar para a vida espiritual

Papa Leão com estudantes e participantes do Jubileu do Mundo da Educação/ Foto: Filippo Monteforte / AFP
Depois, ao contar o pedido dos jovens para que ele os orientasse espiritualmente, o Papa destacou que, de fato, não basta ter conhecimento científico quando não se sabe quem é e não há sentido na vida. Sem silêncio, sem escuta e sem oração, ele assegurou que até as “estrelas” se apagam.
“Muitos jovens se isolam e sofrem, por trás disso há uma sociedade incapaz de educar a dimensão espiritual, não apenas a social, ética e moral”, enfatizou. Foi então que o Pontífice citou Santo Agostinho que, segundo ele, era um jovem inteligente, mas totalmente insatisfeito.
Em seu livro Confissões, o Santo Padre recordou que Santo Agostinho revelou que “aprontava de tudo” e não conseguia encontrar a verdade e a paz. Até que conheceu Deus ao escrever uma frase profunda que serve para todos: “Fizeste-nos para Ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Ti.”
“Eis o que é educar para a vida interior: ouvir nossa inquietação e não fugir dela, nem a empanturrar com o que não sacia. Nosso desejo de infinito é a bússola que nos diz: “foste feito para algo maior, não se contente, não se limite a ir vivendo”, sublinhou.
Educar para o digital
Leão XIV pediu que os jovens não permitam que o algoritmo escreva a histórias deles, mas que sejam eles os autores de suas histórias. “Sirvam-se da tecnologia com sabedoria e não permitam que a tecnologia se sirva de vocês”, destacou.
A inteligência artificial (IA), grande novidade deste tempo, foi citada pelo Papa. A partir dela, ele enfatizou que não basta ser inteligente no mundo virtual; é preciso ter humanidade no relacionamento com os outros e cultivar as inteligências emocional, social e ecológica.
“Humanizar o digital, construir um espaço de amizade e criatividade, não uma prisão, dependência ou fuga. Sejam profetas no mundo digital”, foi a exortação do Papa. A este respeito, ele citou o exemplo de santidade de São Carlo Acutis (também canonizado em setembro passado). O jovem santo não se tornou um escravo da rede, mas a usou para o bem. O Santo Padre prosseguiu frisando que Acutis uniu fé e paixão pela informática ao criar um site sobre milagres eucarísticos, fazendo da internet um instrumento para evangelizar.
Educar para a paz
Por fim, o Pontífice encorajou a aplicação de uma educação voltada para uma paz desarmada e desarmante. Segundo ele, é preciso silenciar não apenas as armas, mas desarmar os corações, renunciando a qualquer tipo de violência, criando igualdade e crescimento para todos.
“Sejam construtores de paz na família, na escola, com os amigos e (…) olhem para Jesus, o sol da justiça, que os guiará sempre pelos caminhos da vida”, incentivou.




