Em Castel Gandolfo, Leão XIV celebrou a Santa Missa com o novo formulário “Pela Proteção da Criação”, no Borgo Laudato Si’
Da Redação, com Vatican News

Papa durante celebração desta quarta-feira, 9/ Foto: POOL / Catholic Press Photo via Reuter
“Neste dia lindíssimo, antes de tudo, gostaria de convidar a todos — começando por mim mesmo — a viver aquilo que estamos celebrando, na beleza de uma catedral que poderíamos chamar de ‘natural’, com as plantas e tantos elementos da criação que nos trouxeram aqui para celebrar a Eucaristia, que significa: dar graças ao Senhor”. Foram estas as palavras que introduziram a homilia do Papa Leão XIV durante a missa privada no Borgo Laudato Si’, em Castel Gandolfo, onde o Pontífice passa um breve período de descanso.
O Santo Padre utilizou, pela primeira vez, o novo formulário litúrgico “Pela Proteção da Criação”. O texto, apresentado em 3 de julho pelo prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny, insere-se no compromisso da Igreja de viver a conversão ecológica de forma concreta e celebrativa, por meio de orações e leituras bíblicas específicas.
De forma espontânea, o Pontífice iniciou dizendo que esta Eucaristia traz muitos motivos de agradecimento ao Senhor, “como o uso da nova fórmula da Santa Missa para o cuidado da criação, que também foi expressão do trabalho de diversos Dicastérios no Vaticano”, e acrescentou: “Pessoalmente, agradeço a muitas pessoas aqui presentes, que trabalharam para esta liturgia. Como sabem, a liturgia representa a vida, e vocês são a vida deste Centro Laudato Si’.”
O agradecimento de Leão XIV estendeu-se a todos os que se dedicam diariamente à missão do Centro, inspirado na encíclica Laudato si’, publicada há dez anos pelo Papa Francisco: “Gostaria de agradecer a vocês, neste momento, nesta ocasião, por tudo o que fazem seguindo essa belíssima inspiração do Papa Francisco, que concedeu esta pequena porção — esses jardins, esses espaços — justamente para continuar a missão tão importante em relação a tudo o que conhecemos após dez anos da publicação da Laudato si’: a necessidade de cuidar da criação, da casa comum.”
É urgente cuidar da casa comum
O simbolismo do espaço, comparado às antigas igrejas dos primeiros séculos, inspirou o Santo Padre a um apelo à conversão: “Devemos rezar pela conversão de muitas pessoas, dentro e fora da Igreja, que ainda não reconhecem a urgência de cuidar da casa comum.”
E, em seguida, recordou os tantos desastres naturais que ainda são vistos no mundo, quase todos os dias, que são, em parte, causados também pelos excessos do ser humano, com seu estilo de vida. Por isso, pediu aos fiéis que se questionem se estão vivendo ou não essa conversão: “ela é necessária!”, afirmou.
Esperança e vida nova
O Pontífice uniu o clima de oração à dura realidade global: “Compartilhamos hoje um momento familiar e sereno, ainda que em um mundo em chamas — seja pelo aquecimento global, seja pelos conflitos armados —, que tornam tão atual a mensagem do Papa Francisco nas Encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti”.
Ao refletir o Evangelho proposto, o Papa Leão disse que o medo dos discípulos na tempestade é o mesmo que acomete grande parte da humanidade. No entanto, no coração do Jubileu, exortou: “há esperança! Nós a encontramos em Jesus, o Salvador do mundo”.
Jesus ainda hoje, soberanamente, acalma a tempestade, frisou o Santo Padre. Seu poder não arruína, mas cria; não destrói, mas faz existir, dando vida nova. “E também podemos nos perguntar: “Quem é este, que até os ventos e o mar obedecem?” (Mt 8,27).
Cuidar, reconciliar, transformar
O Papa destacou a sintonia entre Jesus e a natureza: “As parábolas com que anunciava o Reino de Deus revelam um profundo vínculo com aquela terra e aquelas águas, com o ritmo das estações e a vida das criaturas”. Ao citar o termo usado por Mateus para descrever a tempestade — a palavra seismós — que remete a outro momento decisivo, o terremoto na morte e ressurreição de Jesus, o Santo Padre sublinhou que o Evangelho permite entrever o Ressuscitado, presente na história da humanidade virada de cabeça para baixo.
“A repreensão que Jesus dirige ao vento e ao mar manifesta seu poder de vida e salvação, que domina essas forças diante das quais as criaturas se sentem perdidas”, enfatizou. Leão XIV recordou que a fé implica compromisso: “Nossa missão é cuidar da criação, levar a ela paz e reconciliação. Nós escutamos o clamor da terra e dos pobres, pois esse clamor chegou ao coração de Deus. Nossa indignação é a sua indignação, nosso trabalho é o seu trabalho”.
Ao citar o salmo 29, que fala da voz forte do Senhor, o Santo Padre sublinhou que essa voz compromete a Igreja com a profecia, mesmo quando isso exige a ousadia de opor os fiéis ao poder destrutivo dos príncipes deste mundo. A aliança indestrutível entre o Criador e as criaturas, complementou, mobiliza as inteligências e esforços para que o mal se transforme em bem, a injustiça em justiça, a avareza em comunhão.
Um olhar contemplativo para transformar a crise
“Com infinito amor, o único Deus criou todas as coisas, doando-nos a vida”, recordou o Papa, citando São Francisco de Assis. Essa verdade exige uma nova forma de ver o mundo: o olhar contemplativo. Segundo Leão XIV, é esse olhar que pode romper com a lógica do pecado e restaurar as relações com Deus, com os irmãos e com a terra.
O Papa também ressaltou a vocação do Borgo Laudato si’, que por intuição do Papa Francisco, quer ser um “laboratório” onde se viva aquela harmonia com a criação que é, para todos, cura e reconciliação, elaborando novas e eficazes formas de cuidar da natureza que foi confiada. “A vocês que se dedicam com empenho à realização deste projeto, asseguro, portanto, minha oração e meu encorajamento”, afirmou.
Eucaristia, coração da Criação
Por fim, Leão XIV situou a Eucaristia como o centro e o cume da ecologia integral, e citando novamente a Laudato si’, n. 236, destacou: “Na Eucaristia, já está realizada a plenitude, sendo o centro vital do universo, centro transbordante de amor e de vida sem fim”. Na conclusão de sua homilia, o Papa confiou aos presentes o “louvor cósmico” retirado das Confissões de Santo Agostinho.
“Senhor, ‘as tuas obras te louvam para que te amemos, e nós te amamos para que as tuas obras te louvem’. Seja esta a harmonia que difundimos no mundo”, afirmou.
Sobre o Borgo Laudato Sì
Ao redor do lago de Albano, de formação vulcânica, encontra-se a Vila Pontifícia, que inclui construções históricas e um extenso jardim. Ali, foi criado em 2023 o Borgo Laudato Sì, que cedeu essas imagens, por desejo do Papa Francisco. Trata-se de um espaço de formação e conscientização sobre os temas da proteção da Casa Comum.
O projeto foi confiado ao Centro de Ensino Superior Laudato Sì, criado na mesma ocasião como um organismo científico, educativo e de atividade social, que trabalha pela formação integral. O Borgo Laudato Sì foi pensado como um sinal concreto da aplicabilidade dos princípios ilustrados por esta Encíclica, que está completando 10 anos. Leão XIV quis conhecer de perto esta iniciativa, ao visitar Castel Gandolfo em 29 de maio.