Catequese

Papa: não há vida sem provações, o amor de Deus também habita na dor

Na catequese, Leão XIV frisou a “humildade” de Jesus, aspecto surpreendente de sua ressurreição; Pontífice frisou que a alegria não é isenta de feridas

Da Redação, com Vatican News

Papa na Audiência Geral desta quarta-feira, 8/ Foto: REUTERS/Yara Nardi

“Um aspecto surpreendente da Ressurreição de Cristo: a sua humildade” foi o tema da catequese do Papa Leão XIV desta quarta-feira, 8. Realizada na Praça São Pedro, a Audiência Geral contou com a participação de peregrinos do mundo todo. Em sua reflexão, o Santo Padre recordou que, segundo os Evangelhos, o Senhor ressuscitado não fez nada de espetacular para conquistar a fé dos seus discípulos.

“Não aparece rodeado de um exército  de anjos, não realiza gestos dramáticos, não profere discursos solenes para revelar os segredos do universo”, mas “se aproxima discretamente, como um viajante qualquer, como um faminto que pede para partilhar um pouco de pão”, prosseguiu.

O Pontífice observou que Maria Madalena confundiu Jesus com um jardineiro. Os discípulos de Emaús consideraram-no um forasteiro. Pedro e os outros pescadores consideraram-no apenas mais um transeunte. “Nós teríamos esperado efeitos especiais, sinais de poder, provas contundentes. Mas o Senhor não procura isso: Ele prefere a linguagem da proximidade, da normalidade, da mesa partilhada”.

Comunhão profunda com Deus

A Ressurreição não é uma reviravolta dramática, enfatizou o Papa, mas uma transformação silenciosa que dá significado a cada gesto humano. “Jesus ressuscitado come um pedaço de peixe diante dos seus discípulos: não é um pormenor marginal, é a confirmação de que o nosso corpo, a nossa história, as nossas relações não são uma embalagem a descartar. Estão destinados à plenitude da vida”, disse. Deste modo, Leão XIV assegurou que a ressurreição não significa que os homens se tornarão espíritos evanescentes, mas que entrarão em uma comunhão mais profunda com Deus e com os irmãos, em uma humanidade transfigurada pelo amor.

“Na Páscoa de Cristo, tudo se pode tornar graça. Até as coisas mais comuns: comer, trabalhar, esperar, cuidar da casa, ajudar um amigo. A Ressurreição não tira a vida ao tempo e ao esforço, mas muda o seu sentido e o seu ‘sabor’. Cada gesto realizado na gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus”, destacou.

Papa e os fiéis reunidos na Praça São Pedro para a Audiência Geral desta quarta-feira, 8/ Foto: REUTERS/Yara Nardi

A alegria não é isenta de feridas

Segundo o Santo Padre, existe um obstáculo, no entanto, que muitas vezes impede os homens de reconhecer esta presença de Cristo na vida Cotidiana: a pretensão de que a alegria deve ser isenta de feridas. Ele recordou que os discípulos de Emaús caminhavam tristes porque esperavam um final diferente, um Messias que não conhecesse a cruz. Mesmo sabendo que o túmulo estava vazio, os discípulos não conseguiam sorrir, observou o Pontífice. Jesus estava ao lado deles e, pacientemente, os ajudou a compreender que a dor não era uma negação da promessa, argumento o Papa, mas o caminho pelo qual Deus manifestou a medida do seu amor.

Quando os discípulos se sentaram à mesa com Jesus e partem o pão, os seus olhos se abriram, e eles perceberam que os seus corações já estavam ardendo, mesmo sem saber, indicou Leão XIV. “Esta é a maior surpresa: descobrir que, sob as cinzas da desilusão e do cansaço, há sempre uma brasa viva, à espera de ser reacendida”.

“A ressurreição de Cristo nos ensina que nenhuma história é tão marcada pela desilusão ou pelo pecado que não possa ser visitada pela esperança. Nenhuma queda é definitiva, nenhuma noite é eterna, nenhuma ferida está destinada a permanecer aberta para sempre. Por mais distantes, perdidos ou indignos que nos sintamos, não há distância que possa extinguir a força infalível do amor de Deus”, reiterou.

Senhor ressuscitado ao lado de cada um

O Pontífice sugeriu que por vezes, muitos pensam que o Senhor os visita apenas nos momentos de meditação ou de fervor espiritual, quando não se sentem dispostos, quando as vidas parecem ordenadas e luminosas. No entanto, ele explica que o Ressuscitado aproxima-se precisamente nos lugares mais sombrios: nos fracassos, nas relações desgastadas, nas fadigas cotidianas que  pesam, nas dúvidas que desanimam. Segundo o Santo Padre, nada do que o ser humano é, nenhum fragmento da sua existência é estranho para Deus.

“Hoje, o Senhor ressuscitado está ao lado de cada um de nós, enquanto percorremos os nossos próprios caminhos – o do trabalho e o do compromisso, mas também o do sofrimento e o da solidão – e, com infinita delicadeza, pede-nos que deixemos aquecer os nossos corações. Não se impõe em voz alta, não exige reconhecimento imediato. Aguarda pacientemente o momento em que os nossos olhos se abrirão para vislumbrar o seu rosto amigo, capaz de transformar a desilusão em expectativa confiante, a tristeza em gratidão, a resignação em esperança”, disse o Papa.

O convite foi para que os fiéis peçam a Deus a graça de reconhecerem a sua presença humilde e discreta, de não esperar uma vida sem provações, de descobrir que cada dor, se habitada pelo amor, pode tornar-se lugar de comunhão.

“Assim como os discípulos de Emaús, nós também voltamos para casa com o coração ardendo de alegria. Uma alegria simples, que não apaga as feridas, mas as ilumina. Uma alegria que nasce da certeza de que o Senhor está vivo, caminha conosco e nos dá a cada momento a possibilidade de recomeçar”, finalizou.

Papa abençoa criança presente na Audiência Geral desta quarta-feira, 8/ Foto: REUTERS/Yara Nardi

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