Leão XIV deu continuidade às catequeses sobre o itinerário jubilar, desta vez em uma nova fase: sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus
Da Redação, com Vatican News

Papa abençoa um bebê durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 6/ Foto: REUTERS/Remo Casilli
“Irmãos e irmãs, bom dia!”. Com essas palavras proferidas em português, o Papa Leão XIV iniciou a Audiência Geral desta quarta-feira, 6, na Praça de São Pedro. O Pontífice deu continuidade às reflexões sobre o itinerário jubilar e propôs uma nova etapa de meditação sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
O Santo Padre indicou aos fiéis uma leitura espiritual do verbo “preparar”, a partir de um trecho do Evangelho de Marcos. “Continuamos a nossa caminhada jubilar para descobrir o rosto de Cristo, em quem a nossa esperança toma forma e substância”, afirmou.
Partindo do episódio evangélico em que os discípulos perguntam a Jesus onde desejava celebrar a Páscoa, Leão XIV destacou a importância dos pequenos detalhes: “No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, disseram-lhe os seus discípulos: ‘Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?’” (Mc 14,12). Segundo o Papa, a resposta de Jesus pareceu quase enigmática: ‘Ide à cidade, e virá ao vosso encontro um homem carregando uma bilha de água’ (v. 13)”.
Os elementos aparentemente banais da cena – como o homem com o cântaro ou a sala no andar superior – revelam uma realidade mais profunda: “Com efeito, é exatamente assim. Neste episódio, o Evangelho revela-nos que o amor não é fruto do acaso, mas de uma escolha consciente. Não é uma reação simples, mas uma decisão que exige preparação”.
Deus sempre nos precede
O Santo Padre ressaltou que a imagem da “sala já pronta no andar superior” mostra como Deus se antecipa às necessidades. “Antes mesmo de percebermos que precisamos ser acolhidos, o Senhor já preparou um espaço para nós, onde podemos reconhecer e sentir seus amigos”, frisou. Esse espaço, segundo o Santo Padre, é o coração de cada um, muitas vezes vazio, mas chamado a ser preenchido pela presença divina.
“Jesus não enfrenta a sua paixão pelo destino, mas pela fidelidade a um caminho que abraçou e percorreu com liberdade e cuidado. É isso que nos consola: saber que o dom da sua vida vem de uma intenção profunda, não de um impulso imediato”, disse.
Neste caminho, destacou o Pontífice, “a graça não elimina a nossa liberdade, mas desperta-a”, o dom de Deus não anula a responsabilidade, mas torna-a fecunda.
Celebrar a Eucaristia na vida cotidiana
Leão XIV advertiu para a tentação de confundir os preparativos com ativismo ou expectativas vazias. Segundo ele, preparar-se para celebrar esta ação de graças não significa fazer mais, mas deixar espaço. Significa remover o que é pesado, baixar as exigências e deixar de cultivar expectativas irrealistas.
“Ainda hoje, como então, há uma ceia a preparar. Não se trata apenas da liturgia, mas da nossa disponibilidade para participar num gesto que nos transcende. A Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida cotidiana, onde é possível experimentar tudo como oferta e ação de graças”, ressaltou.
Para o Papa, a cena do Cenáculo revela o verdadeiro amor de Cristo, que prepara um banquete mesmo diante da traição e da negação dos discípulos: “Enquanto eles ainda não compreendiam, enquanto um estava prestes a traí-lo e outro a negá-lo, Ele preparava uma ceia de comunhão para todos.”
Preparar a Páscoa da vida
O Pontífice também fez um convite concreto aos fiéis e peregrinos: “Também nós somos convidados a ‘preparar a Páscoa do Senhor’. Não só a Páscoa litúrgica, mas também a Páscoa das nossas vidas.” E sugeriu uma reflexão:
“Que espaços da minha vida preciso reorganizar para estar pronto para acolher o Senhor? O que significa ‘preparar’ para mim hoje? Talvez signifique renunciar a uma exigência, deixar de esperar que o outro mude, dar o primeiro passo. Talvez signifique ouvir mais, agir menos ou aprender a confiar no que já foi predisposto.”
Mistério de um amor infinito
Ao concluir a catequese, Leão XIV sublinhou que, se os fiéis aceitarem o convite para preparar o lugar da comunhão com Deus e uns com os outros, irão descobrir que todos estão rodeados de sinais, encontros e palavras que indicam aquela sala espaçosa e já pronta, onde o mistério de um amor infinito, que sustenta e sempre precede, é incessantemente celebrado.
“Que o Senhor nos conceda ser humildes preparadores da sua presença. E, nesta disponibilidade diária, cresça em nós aquela confiança serena que nos permite enfrentar tudo de coração aberto. Pois, onde o amor estiver pronto, a vida pode verdadeiramente florescer.”