Dia Mundial da Paz 2026

Papa: basta ao mal, o mundo precisa de uma paz que dure para sempre

Conheça a primeira mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz 2026, divulgada pela Santa Sé nesta quinta-feira, 18

Julia Beck
Da Redação

Papa em momento de oração, com as mãos postas, em gesto de recolhimento e fé

Papa Leão XIV /Foto: ALESSIA GIULIANIIPA/Sipa USA via Reuters

“A paz esteja convosco”, primeira frase dita por Leão XIV após sua eleição como Bispo de Roma, também se faz presente na primeira mensagem do Papa para o 59º Dia Mundial da Paz (celebrado em 1º de janeiro de 2026), divulgada nesta quinta-feira, 18. A saudação pascal como fonte da paz cristã foi reiterada pelo Pontífice. Ele destaca que ela é a palavra viva do Cristo ressuscitado, que não apenas deseja a paz, mas a realiza e transforma a realidade. 

O Santo Padre afirma que Cristo ressuscitado é o fundamento da verdadeira paz, pois venceu a morte e derrubou as barreiras entre os seres humanos, tornando-se Ele próprio “a nossa paz”. “Esta é a paz do Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante”, escreve.

Luz e esperança em meio às trevas do mundo atual

A paz é descrita por Leão XIV como uma luz que resiste à violência, ilumina a inteligência humana e se mantém viva mesmo em contextos de guerra e sofrimento. “Para não afundarmos na escuridão, é necessário ver a luz e acreditar nela. A paz existe, deseja habitar-nos, tem o poder suave de iluminar e alargar a inteligência, resiste à violência e a vence”, ressalta.

O Pontífice frisa que a paz, como presença e caminho, não é apenas um ideal. Antes de ser uma meta distante, ela é uma realidade que deseja habitar o coração humano e orientar escolhas concretas no cotidiano. Deste modo, o Papa indica que a não violência é o caminho de Jesus. Segundo ele, a paz de Cristo é desarmada, pois nasce da recusa da violência, mesmo diante da injustiça, convidando os cristãos a um testemunho profético.

Crítica à lógica da guerra e do rearmamento

“Quando tratamos a paz como um ideal distante, acabamos por não considerar escandaloso que ela possa ser negada e que até mesmo se faça guerra para alcançá-la. Os repetidos apelos para aumentar as despesas militares (…) são apresentados com a justificativa da periculosidade alheia”, alerta. A partir da denúncia do crescimento das despesas militares e a dissuasão nuclear, o Papa critica a cultura do medo que sustenta relações internacionais baseadas na força.

Na sequência, Leão XIV adverte para o risco ético das novas tecnologias militares, com o uso de inteligência artificial na guerra. Ele afirma que são graves ameaças, pois distanciam a responsabilidade humana das decisões sobre a vida e a morte e radicalizam a tragédia dos conflitos armados.

O Pontífice reforça, então, que a verdadeira paz exige um desarmamento interior, baseado na confiança mútua e não no equilíbrio de armas. “Não se pode levar a efeito o desarmamento se não se proceder a um desarmamento integral, que atinja o próprio espírito. A verdadeira paz entre os povos não se baseia no equilíbrio em armamentos, mas na confiança mútua”, reitera.

Papel das religiões na construção da paz

As tradições religiosas são chamadas pelo Papa a rejeitar qualquer instrumentalização da fé para justificar a violência, promovendo oração, diálogo e fraternidade. “As religiões devem vigiar sobre a crescente tentativa de transformar em armas até mesmo pensamentos e palavras. Os fiéis devem refutar ativamente (…) o uso da fé para justificar a violência e a luta armada”, alerta. A frase de Leão XIV também denuncia como blasfêmia a instrumentalização da fé para abençoar o nacionalismo e justificar a violência. De acordo com ele, isso obscurece o nome de Deus. 

O Santo Padre também convoca todos, comunidades e líderes políticos, a fortalecer a diplomacia, a justiça, a participação não violenta e a esperança ativa, especialmente no contexto do Jubileu da Esperança. “É necessário motivar e apoiar todas as iniciativas espirituais, culturais e políticas que mantenham viva a esperança”.

Sabedoria de Santo Agostinho

Na mensagem, o Papa agostiniano frisa alguns ensinamentos do seu santo de devoção que corroboram para a paz. Em sua primeira citação, Leão XIV indica que a paz deve ser cultivada interiormente antes de ser testemunhada externamente. Segundo ele, Santo Agostinho determina: “Se quereis atrair os outros para a paz, tende-a vós primeiro; sede vós, antes de tudo, firmes na paz. Para inflamar os outros, deveis ter dentro de vós a luz acesa”.

Em um paradoxo de possuir a paz, o Santo Padre comenta que a paz não é algo distante ou inalcançável, mas uma realidade acessível, embora frequentemente mal compreendida. “Não é difícil possuir a paz. É mais difícil, quando muito, louvá-la. Se quisermos louvá-la, precisamos de ter capacidades que talvez nos faltem; (…) Se, em vez disso, quisermos tê-la, ela está lá, ao nosso alcance, e podemos possuí-la sem qualquer esforço”, escreveu o Pontífice em alusão ao Doutor da Igreja.

Leão XIV recorda que o Bispo de Hipona indicava que o amor à paz implica na abertura ao diálogo, escuta e rejeição da destruição de pontes. “Quem ama verdadeiramente a paz ama também os inimigos da paz”, sublinha o Pontífice em outra citação. Por fim, o Papa faz uma referência ao santo, recomendando a via da escuta e, na medida do possível, do encontro com as razões dos outros.

Predecessores e a paz

Na sua mensagem, o atual Pontífice também “dialoga” com três grandes predecessores para aprofundar o tema da paz. Papa Francisco é citado ao denunciar a “terceira guerra mundial em pedaços”, ao alertar para a fragilidade humana como chave de discernimento moral e ao apresentar São Francisco de Assis, na Carta Encíclica Fratelli tutti, como modelo de desarmamento interior, fraternidade e rejeição de toda lógica de domínio.

São João XXIII é recordado pelo Santo Padre sobretudo pela Encíclica Pacem in terris, na qual afirma que a verdadeira paz não nasce do equilíbrio das armas, mas de um desarmamento integral do espírito, baseado na confiança mútua entre os povos e na superação do medo. Leão XIII, na Rerum novarum, é evocado para sustentar a importância da cooperação, da solidariedade e da vida social organizada, lembrando que o ser humano não se salva sozinho e que a paz se constrói também por meio da ajuda mútua e do compromisso comunitário.

Outro Papa citado é São Paulo VI, de forma indireta, por meio da referência ao Concílio Vaticano II, que ele conduziu até a sua conclusão, especialmente na Constituição pastoral Gaudium et spes. Leão XIV retoma o alerta conciliar sobre os perigos inéditos da guerra moderna, potencializados pelas armas científicas, e sublinha a grave responsabilidade moral dos governantes e chefes militares diante de Deus e da humanidade, reafirmando a necessidade do diálogo entre a Igreja e o mundo contemporâneo como caminho indispensável para a paz.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo
Skip to content