Mensagem

Papa às empresas: o cuidado com o trabalhador deve estar acima do lucro

Em mensagem, Leão XIV frisou que economia e negócios devem visar o bem comum dos trabalhadores; produção e lucro não devem ser buscados isoladamente

Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: Joyce Mesquita

A 31ª Conferência Industrial Argentina, iniciada nesta quinta-feira, 13, recebeu uma mensagem do Papa Leão XIV. Na mensagem, o Pontífice assinalou que o evento, realizado no contexto do Jubileu da Esperança, oferece uma profunda oportunidade para reconhecer que a economia e os negócios, quando orientados para o bem comum, podem e devem ser motores do futuro, da inclusão e da justiça.

Em 1891, o Santo Padre recordou que a carta encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, denunciou as condições injustas de muitos trabalhadores e afirmou com veemência “que nem a justiça nem a humanidade podem tolerar a exigência de um desempenho tal que a mente se embota pelo excesso de trabalho e, ao mesmo tempo, o corpo sucumbe à fadiga” (n. 31). O documento também frisou o direito a um salário justo, à formação de associações e a uma vida digna.

“Esses ensinamentos, nascidos em um tempo de profundas transformações industriais, permanecem surpreendentemente relevantes no mundo globalizado em que vivemos, onde a dignidade do trabalhador ainda é frequentemente violada”, alertou o Papa.

Bem comum

Leão XIV sublinhou que a Igreja lembra que a economia não é um fim em si mesma, mas um aspecto essencial, ainda que parcial, do tecido social, no qual se desdobra o plano de amor de Deus por cada ser humano. Desse modo, ele explicou que o bem comum exige que a produção e o lucro não sejam buscados isoladamente, mas sim direcionados para o desenvolvimento integral de cada homem e mulher.

“Leão XIII nos lembrou que se os trabalhadores recebem um salário justo, isso lhes permite não só sustentar suas famílias, mas também aspirar a possuir uma pequena propriedade e amar mais profundamente a terra, que trabalham com as próprias mãos, da qual esperam sustento e dignidade, abrindo-se assim a aspirações mais elevadas para suas vidas e para as vidas de suas famílias (cf. n. 33)”, comentou.

Nessa mesma linha, o Pontífice ressaltou que Leão XIII também advertiu que aqueles que desfrutam de abundância material devem evitar cuidadosamente prejudicar minimamente o sustento dos menos afortunados, o qual — por mais modesto que seja — deve ser considerado sagrado, precisamente por constituir o suporte indispensável de sua existência (cf. n. 15).

“Essas palavras ressoam como um desafio constante, pois nos convidam a não medir o sucesso de uma empresa apenas em termos econômicos, mas também em sua capacidade de gerar desenvolvimento humano, coesão social e cuidado com a criação”, defendeu.

Servo de Deus Enrique Shaw

Na Argentina, o Santo Padre revelou que essa visão encontra um exemplo brilhante e inspirador no Venerável Servo de Deus Enrique Shaw, um empresário que compreendeu que a indústria não era meramente uma máquina produtiva ou um meio de acumular capital, mas uma verdadeira comunidade de pessoas chamadas a crescer juntas.

“Enrique promoveu salários justos, implementou programas de treinamento, cuidou da saúde dos trabalhadores e apoiou suas famílias em suas necessidades mais concretas. Ele não concebia a lucratividade como um absoluto, mas como um aspecto importante para sustentar uma empresa humana, justa e solidária”, assinalou.

A vida do Servo de Deus, pontuou o Papa, demonstra que é possível ser tanto um homem de negócios quanto um santo, que a eficiência econômica e a fidelidade ao Evangelho não são mutuamente excludentes e que a caridade pode permear até mesmo as estruturas industriais e financeiras.

Por fim, Leão XIV salientou que a santidade deve florescer precisamente onde são tomadas as decisões que afetam a vida de milhares de famílias. “O mundo precisa urgentemente de líderes empresariais e executivos que, por amor a Deus e ao próximo, trabalhem por uma economia que sirva ao bem comum”, exortou.

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