Leão XIV publicou carta apostólica por ocasião do centenário do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã e destacou contribuição com a teologia
Da Redação, com Vatican News

Fotos: Aleksander Stypczynski na Unsplash | Alessia Giuliani/Hans Lucas via Reuters Connect
Nesta quinta-feira, 11, a Santa Sé divulgou uma carta apostólica do Papa Leão XIV. O texto aborda a importância da arqueologia e é motivado pelo centenário do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã.
O Pontífice destaca que matéria e mistério se cruzam na arqueologia cristã porque o cristianismo não nasceu de uma ideia, mas de uma carne. A fé cristã se apoia em eventos concretos, rostos, gestos, palavras pronunciadas em uma língua, em uma época, em um ambiente. “É isso que a arqueologia torna evidente, palpável”, observa.
“Deus escolheu falar em uma língua humana, caminhar sobre uma terra, habitar lugares, casas, sinagogas, ruas”, prossegue o Santo Padre. Por isso faz sentido continuar a investigar. “Não se pode compreender plenamente a teologia cristã sem a inteligência dos lugares e das marcas materiais que testemunham a fé dos primeiros séculos”, acrescenta.
Assim, a arqueologia e a teologia se entrelaçam no trabalho do arqueólogo, que deve ter uma sensibilidade especial ao lidar com “materiais da fé”. “Escavando entre pedras, ruínas, objetos”, explica Leão XIV, “aprendemos que nada do que foi tocado pela fé é insignificante”. Cada pequena evidência merece atenção, não deve ser descartada.
As tarefas da arqueologia cristã
Com o suporte de instrumentos tecnológicos cada vez mais refinados, mesmo materiais considerados irrelevantes podem revelar sentidos profundos, indica o Papa. A arqueologia não fala apenas de coisas, mas de pessoas; ajuda a compreender “como a revelação se encarnou na história, como o Evangelho encontrou palavras e formas dentro das culturas”.
Dessa forma, uma teologia que acolhe a arqueologia “escuta o corpo da Igreja, interroga suas feridas, lê seus sinais, deixa-se tocar por sua história”. Além disso, cita o Pontífice, é uma forma de caridade: “um modo de fazer falar os silêncios da história, devolver dignidade a quem foi esquecido, trazer à luz a santidade anônima de tantos fiéis que construíram a Igreja”.
É também tarefa da arqueologia, continua o Santo Padre, ajudar a Igreja a guardar viva a memória dos seus inícios, narrar a história da salvação também com imagens, formas e espaços. “Em um tempo que frequentemente perde as raízes, a arqueologia torna-se instrumento precioso de uma evangelização que parte da verdade da história para abrir à esperança cristã e à novidade do Espírito”, comenta.
Leão XIV ressalta que, ao olhar para o modo como o Evangelho foi acolhido no passado, a arqueologia impulsiona seu anúncio hoje. Trata-se de um “poderoso instrumento de diálogo; pode construir pontes entre mundos distantes, culturas diferentes, gerações; pode testemunhar que a fé cristã nunca foi uma realidade fechada, mas uma força dinâmica”.
Educar para a memória
Outra força da arqueologia citada pelo Papa é fazer perceber o vigor de uma existência que atravessa os séculos, ultrapassa a matéria e possui relevância específica na teologia da Revelação. Ela ilumina textos com testemunhos materiais, interroga fontes, completa-as e abre novas questões.
Segundo o Pontífice, uma teologia fiel à Revelação “deve permanecer aberta à complexidade da história”, feita de desafios, conflitos, momentos de luz e escuridão. Cada aprofundamento do mistério da Igreja é um retorno às origens: não um culto ao passado, mas “memória viva”, capaz de fazer o passado falar ao presente e discernir o que o Espírito Santo suscitou na história.
“A Igreja é chamada a educar para a memória”, prossegue o Santo Padre, “e a arqueologia cristã é um dos seus instrumentos mais nobres. Não para refugiar-se no passado, mas para habitar o presente com consciência, construindo o futuro com raízes.” Trata-se de um serviço, uma vocação, forma de amor pela Igreja e pela humanidade.
“Sede fiéis ao sentido profundo do vosso compromisso: tornar visível o Verbo da vida, testemunhar que Deus se fez carne, que a salvação deixou marcas, que o Mistério se fez narrativa histórica”, conclui Leão XIV.




