Em audiência com professores e alunos na Praça São Pedro, Leão XIV destacou missão dos educadores à luz de quatro aspectos da doutrina agostiniana
Da Redação, com Vatican News

Papa Leão XIV discursa a fiéis na Praça São Pedro / Foto: Vatican Media/IPA/Sipa USA via Reuters Connect
Em meio ao Jubileu do Mundo da Educação, o Papa Leão XIV encontrou-se com os educadores nesta sexta-feira, 31. Cerca de 15 mil pessoas entre professores e alunos estiveram presentes na Praça São Pedro.
Em sua fala, o Pontífice expressou sua alegria em se reunir com educadores vindos de todo o mundo e envolvidos em todos os níveis de ensino. “Como sabemos, a Igreja é Mãe e Mestra, e vós contribuís para encarnar o seu rosto para tantos alunos e estudantes a cuja educação vos dedicais”, afirmou.
O Santo Padre destacou a diversidade de carismas, metodologias, pedagogias e experiências na educação, garantindo a milhões de jovens uma formação adequada. Ele recordou que foi professor nas instituições educativas da Ordem de Santo Agostinho e partilhou sua experiência.
Interioridade
Neste contexto, Leão XIV retomou quatro aspectos da doutrina agostiniana que considera fundamentais para a educação cristã: a interioridade, a unidade, o amor e a alegria. “São princípios que gostaria que se tornassem os pilares de um caminho a percorrer juntos, fazendo deste encontro o início de um percurso comum de crescimento e enriquecimento recíprocos”, sublinhou.
O Papa pontuou que o mundo atual é dominado por telas e filtros tecnológicos, por isso os alunos precisam de ajuda para entrar em contato com a sua interioridade. O mesmo vale para os educadores que, frequentemente cansados e sobrecarregados com tarefas burocráticas, podem se esquecer do ensinamento de São John Henry Newman sintetizado na expressão cor ad cor loquitur (“o coração fala ao coração”).
Da mesma forma, Santo Agostinho recomendava: “Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem”. “São expressões que convidam a olhar para a formação como uma estrada na qual professores e discípulos caminham juntos, conscientes de não procurar em vão, mas, ao mesmo tempo, de ter de continuar a procurar, depois de ter encontrado”, sinalizou o Pontífice.
Unidade
Em seguida, o Santo Padre também recordou o seu lema de pontificado, In Illo uno unum (“Em Cristo, somos um”), frisando o aspecto da unidade. “Só em Cristo encontramos verdadeiramente a unidade, como membros unidos à Cabeça e como companheiros de viagem no caminho de contínua aprendizagem da vida”, pontuou.
Segundo Leão XIV, tal dimensão é fundamental nos contextos educativos, desafiando a “descentrar-se” e estimulando o crescimento. “Por esta razão, decidi retomar e atualizar o projeto do Pacto Educativo Global, que foi uma das intuições proféticas do Papa Francisco, meu venerado predecessor. Afinal, como ensina o Mestre de Hipona, o nosso ser não nos pertence (…). E se isso é verdade em sentido geral, é-o ainda mais na reciprocidade típica dos processos educativos, nos quais a partilha do saber não pode deixar de se configurar como um grande ato de amor”, explicou.
Amor e alegria
Além disso, o Papa refletiu sobre a dimensão do amor na educação. “Partilhar o conhecimento não é suficiente para ensinar: é preciso amor. Só assim o conhecimento, não apenas em si mesmo, mas sobretudo pela caridade que transmite, será proveitoso para quem o recebe. O ensino jamais pode ser separado do amor”, salientou.
O Pontífice reconheceu a dificuldade das sociedades atuais em não saber valorizar a grande contribuição que professores e educadores oferecem à comunidade. “Estejamos atentos: desmerecer o papel social e cultural dos formadores é hipotecar o próprio futuro, e uma crise na transmissão do saber traz consigo uma crise de esperança”, alertou.
Por fim, ao falar sobre a alegria, o Santo Padre ressaltou que os verdadeiros mestres educam com um sorriso, tendo como desafio despertar sorrisos no fundo da alma dos seus discípulos. “A inteligência artificial”, pontuou, “com o seu conhecimento técnico, frio e padronizado, pode isolar ainda mais os alunos já isolados, dando-lhes a ilusão de não precisarem dos outros ou, pior ainda, a sensação de não serem dignos de estar com eles”.
“O papel dos educadores, por outro lado, é um compromisso humano”, acrescentou Leão XIV, “e a própria alegria do processo educativo é totalmente humana”. Ele concluiu convidando os presentes a fazer da interioridade, unidade, amor e alegria os “pontos cardeais” de sua missão para com os seus alunos.
 
					



