Em sua reflexão na Audiência Geral, Leão XIV meditou sobre as palavras de Jesus na cruz, manifestação de humanidade e abertura ao próximo
Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Papa Leão XIV saúda fiéis durante giro do papamóvel / Foto: Isabella Bonotto/Anadolu via Reuters Connect
Na Audiência Geral desta quarta-feira, 3, o Papa Leão XIV refletiu sobre as últimas palavras de Jesus na cruz. Diante dos fiéis reunidos na Praça São Pedro, ele prosseguiu com a etapa de reflexões sobre a paixão e morte de Cristo em meio ao ciclo de catequeses sobre a esperança.
O Pontífice concentrou sua reflexão em duas expressões de Jesus durante sua crucificação: “tenho sede” (Jo 19,28) e “tudo está consumado” (Jo 19,30). São as últimas palavras do Messias, mas carregadas de uma vida inteira, revelando o sentido da existência de Cristo.
“Na cruz, Jesus não aparece como um herói vitorioso, mas como um mendigo de amor. Não proclama, não condena, não se defende. Pede, humildemente, aquilo que sozinho não pode de modo algum dar a si mesmo”, declarou o Santo Padre.
Leão XIV comentou que a sede de Jesus não corresponde apenas à necessidade fisiológica: é também uma expressão de um desejo profundo por amor, relação e comunhão. “É o grito silencioso de um Deus que, tendo desejado partilhar tudo da nossa condição humana, se deixa atravessar também por esta sede. Um Deus que não se envergonha de mendigar um gole, porque nesse gesto nos diz que o amor, para ser verdadeiro, também deve aprender a pedir e não apenas a dar”, afirmou.
Ao dizer “tenho sede”, Cristo manifestou sua humanidade e a de todos os homens. “Nenhum de nós pode bastar a si mesmo. Ninguém pode salvar-se sozinho. A vida ‘realiza-se’ não quando somos fortes, mas quando aprendemos a receber”, frisou o Papa.
Salvação não está na autonomia
Neste momento, prosseguiu, após ter recebido uma esponja embebida em vinagre, Jesus exprimiu: “tudo está consumado”. O Pontífice explicou que, com esses gesto, o amor tornou-se necessitado e, precisamente por isso, levou a cabo a sua obra.
“Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal com a força, mas aceitando até ao fim a fraqueza do amor. Na cruz, Jesus ensina-nos que o homem não se realiza no poder, mas na abertura confiante ao outro, mesmo quando este nos é hostil e inimigo. A salvação não está na autonomia, mas em reconhecer com humildade a própria necessidade e saber expressá-la livremente”, destacou Leão XIV.
O Santo Padre pontuou que Jesus salvou a humanidade com confiança, não com força, pedindo algo que sozinho não se pode dar. “E aqui se abre uma porta para a verdadeira esperança: se até o Filho de Deus escolheu não ser suficiente para si mesmo, então também a nossa sede – de amor, de sentido, de justiça – não é um sinal de fracasso, mas de verdade”, sinalizou.
Fragilidade humana, ponte para o céu
O Papa reconheceu que esta verdade, apesar de simples, é difícil de acolher. Em uma época que valoriza a autossuficiência e a eficiência, o Evangelho revela que a medida da humanidade não se dá pelo que se pode conquistar, mas pela capacidade de deixar-se amar e, quando necessário, também ajudar.
“Jesus salva-nos mostrando-nos que pedir não é indigno, mas libertador. É o caminho para sair do escondimento do pecado, para reentrar no espaço da comunhão. Desde o início, o pecado gerou vergonha. Mas o perdão, o verdadeiro, nasce quando podemos olhar de frente para a nossa necessidade e não temer ser rejeitados”, enfatizou o Pontífice.
Leão XIV ressaltou que a sede de Jesus na cruz é também a da humanidade que, ferida, ainda busca água viva. “Esta sede não nos afasta de Deus, mas une-nos a Ele”, frisou. A coragem de reconhecê-la leva à descoberta de que a fragilidade humana é uma ponte para o céu.
“Na fraternidade, na vida simples, na arte de pedir sem vergonha e de oferecer sem cálculo, esconde-se uma alegria que o mundo não conhece. Uma alegria que nos devolve à verdade original do nosso ser: somos criaturas feitas para dar e receber amor”, afirmou o Papa. “Na sede de Cristo podemos reconhecer toda a nossa sede. E aprender que não há nada mais humano, nada mais divino, do que saber dizer: eu preciso. Não tenhamos medo de pedir, sobretudo quando nos parece que não o merecemos. Não nos envergonhemos de estender a mão. É precisamente aí, nesse gesto humilde, que se esconde a salvação”, concluiu.