Exortação apostólica

Dilexi te: primeiro documento de Leão XIV reitera amor aos pobres

Exortação apostólica de Leão XIV sobre o amor para com os pobres foi publicada hoje; trabalho foi iniciado pelo predecessor, o Papa Francisco

Da Redação, com Santa Sé e Vatican News

Documento do Papa Leão XIV foi divulgado nesta quinta-feira, 9 / Fotos: Joyce Mesquita / REUTERS/Ciro De Luca

Dilexi te, “Eu te amei”, é o primeiro documento do pontificado de Leão XIV. A exortação apostólica apresentada nesta quinta-feira, 9, em coletiva de imprensa no Vaticano, relança o Magistério da Igreja sobre os pobres nos últimos cento e cinquenta anos.

O documento traz uma reflexão sobre o amor da Igreja para com os pobres, ilustrou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, que conduziu a apresentação do documento aos jornalistas. Ele também explicou que o documento é uma continuidade da encíclica Dilexit nos, “Amou-nos”, do Papa Francisco, que discorre sobre o amor humano e divino do coração de Jesus.

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.: Íntegra da exortação apostólica Dilexi te

Também presente na coletiva o esmoleiro pontifício, Cardeal Konrad Krajewski, nomeado pelo Papa Francisco e que continua na missão no pontificado de Leão XIV. Ele é o responsável, em poucas palavras, pela caridade do Papa. “Somos o socorro, a ambulância que está sempre pronta para partir, para ajudar os mais necessitados”, disse.

“Eu penso que este documento nos fala um pouco que, através dos séculos, vê-se que a Igreja sempre está pronta a ajudar os pobres. Foi isso que Jesus sempre fez. Da manhã à noite, buscava pessoas que precisam Dele. Ele próprio buscava as pessoas. Ele saía para procurar as pessoas”.

O cardeal lembrou que, no Evangelho, existe o “hoje”, amanhã não é seguro e ontem já é história, por isso a resposta aos pobres é no agora. Nas palavras dele, é bonito ver como o Papa Leão traz atenção a essa temática para mostrar que isso é parte essencial do caminho da Igreja.

Também participaram da coletiva o prefeito do dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny, s.j.; o provincial dos Frades Menores de França/Bélgica, frei Frédéric-Marie Le Méhauté; e a irmã Clémence, Irmãzinha de Jesus da Fraternidade das Três Fontes.

Coletiva de apresentação da Dilexi te / Foto: Joyce Mesquita

Trabalho iniciado por Francisco

Foi o próprio Francisco quem deu início ao trabalho sobre a exortação apostólica nos meses que antecederam sua morte. Assim como aconteceu com a Lumen Fidei, de Bento XVI, recolhida em 2013 por Jorge Mario Bergoglio, também desta vez é o sucessor que completa a obra, em continuidade à Dilexit nos. É forte a “ligação” entre o amor de Deus e o amor pelos pobres: através deles, Deus “ainda tem algo a nos dizer”, afirma o Papa Leão.

Em 121 pontos, o documento retoma o tema da “opção preferencial” pelos pobres, expressão nascida na América Latina (16) não para indicar “um exclusivismo ou uma discriminação em relação a outros grupos”, mas “a ação de Deus” que se move por compaixão pela fraqueza da humanidade.

“Rostos” da pobreza

Leão XIV analisa os “rostos” da pobreza em quesito material, mas também moral, espiritual, cultural, bem como a pobreza “de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade” (9). Diante desse cenário, o Papa considera “insuficiente” o compromisso de eliminar as causas estruturais da pobreza em sociedades marcadas por “numerosas desigualdades”, pelo surgimento de novas formas de pobreza “mais sutis e perigosas” (10) e por regras econômicas que aumentaram a riqueza, “mas sem equidade”.

O Pontífice também denuncia a “ditadura de uma economia que mata”, referindo-se à disparidade do crescimento dos ganhos de ricos e pobres. Tudo isso sinais de que ainda persiste a “cultura do descarte”.

Tema das migrações

Um amplo espaço do documento é dedicado ao tema das migrações. Leão XIV ilustra suas palavras com a imagem do pequeno Alan Kurdi, o menino sírio de 3 anos que se tornou, em 2015, símbolo da crise europeia dos migrantes com a foto de seu corpinho sem vida em uma praia. “Infelizmente, à parte de alguma momentânea comoção, acontecimentos semelhantes estão a tornar-se cada vez mais irrelevantes, como notícias secundárias” (11), constata o Pontífice.

Ele recorda, então, a obra da Igreja em favor dos migrantes e retoma os famosos “quatro verbos” do Papa Francisco: “Acolher, proteger, promover e integrar”. E do Papa Francisco ele também toma emprestada a definição dos pobres não apenas como objeto de nossa compaixão, mas como “mestres do Evangelho”.

Mulheres, ideologias, orientações políticas

Leão XIV também olha para a atualidade marcada por milhares de pessoas que morrem, todos os dias, “por causas relacionadas com a desnutrição” (12). “Duplamente pobres”, acrescenta, são “as mulheres que padecem situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque, frequentemente, têm menos possibilidades de defender os seus direitos” (12).

O Pontífice traça uma reflexão profunda sobre as causas da pobreza. “Os pobres não existem por acaso ou por um cego e amargo destino. Muito menos a pobreza é uma escolha para a maioria deles. No entanto, ainda há quem ouse afirmá-lo, demonstrando cegueira e crueldade”, sublinha (14). “Obviamente, entre os pobres, há também aqueles que não querem trabalhar”, mas há também muitos homens e mulheres que, por exemplo, recolhem papelão de manhã à noite apenas para “sobreviver” e nunca para “melhorar” a vida. Em suma, lê-se em um dos pontos centrais da Dilexi te, não se pode dizer “que a maioria dos pobres estão nessa situação porque não obtiveram méritos, de acordo com a falsa visão da meritocracia, segundo a qual parece que só têm méritos aqueles que tiveram sucesso na vida” (14).

Em muitas ocasiões, observa o Papa Leão, são os próprios cristãos que se deixam “contagiar por atitudes marcadas por ideologias mundanas ou por orientações políticas e econômicas que levam a injustas generalizações e conclusões enganosas” (15).

Há quem continue a dizer: “O nosso dever é rezar e ensinar a verdadeira doutrina”. Mas, desvinculando este aspecto religioso da promoção integral, acrescentam que só o Governo deveria cuidar deles, ou que seria melhor deixá-los na miséria, ensinando-lhes antes a trabalhar (114).

A esmola frequentemente desprezada

Sintoma dessa mentalidade é o fato de que o exercício da caridade, às vezes, é “desprezado ou ridicularizado, como se fosse uma fixação somente de alguns e não o núcleo incandescente da missão eclesial” (15). O Papa detém-se longamente na esmola, raramente praticada e frequentemente desprezada (115).

Como cristãos, não renunciemos à esmola. Um gesto que pode ser feito de várias maneiras, e podemos tentar fazer da forma mais eficaz, mas que deve ser feito. E será sempre melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada. Em todo o caso, tocar-nos-á o coração. Não será a solução para a pobreza no mundo, que deve ser procurada com inteligência, tenacidade e compromisso social. Mas precisamos praticar a esmola para tocar a carne sofredora dos pobres (119)

Pobres, o centro da Igreja

O Papa exorta, no documento, que todos se deixem “evangelizar pelos pobres” (102). “O cristão não pode considerar os pobres apenas como um problema social: eles são uma questão familiar. Pertencem aos nossos”. Portanto, “a relação com eles não pode ser reduzida a uma atividade ou departamento da Igreja” (104). Os pobres ocupam um lugar central na Igreja (111)

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