Em sua mensagem para 10º Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, Papa denuncia falta de consciência e convida cristãos a ações concretas
Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: GreenForce Staffing via Unsplash
Nesta quarta-feira, 2, a Santa Sé divulgou a mensagem do Papa Leão XIV para o 10º Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, comemorado em 1º de setembro. O tema deste ano, escolhido previamente pelo Papa Francisco, é “Sementes de Paz e Esperança”, estando relacionado ao Jubileu celebrado neste ano.
O Pontífice comenta que Jesus, em sua pregação, usa com frequência a imagem da semente para falar do Reino de Deus. Na véspera de sua Paixão, ele a aplica a si mesmo, comparando-se ao grão de trigo, que deve morrer para dar fruto. “A semente entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro”, afirma.
Diante disso, o Santo Padre pontua que todo fiel, em Cristo, é semente de paz e esperança. Ele também frisa que o Espírito de Deus é capaz de “transformar o deserto árido e ressequido num jardim, num lugar de repouso e serenidade”, recordando as palavras do profeta Isaías:
“Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos” (Is 32,15-18).
Tais palavras, aponta Leão XIV, acompanharão o Tempo da Criação entre 1º de setembro e 4 de outubro. Além disso, elas afirmam com força que, junto à oração, são necessárias vontades e ações concretas para tornar perceptível este cuidado de Deus sobre o mundo.
“Nossa terra está a cair na ruína”
“Com efeito”, prossegue o Papa, “a justiça e o direito parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio extraordinariamente atual. Em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda de biodiversidade”.
O Pontífice reflete ainda que os fenômenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas que são provocadas pelo homem, estão mais intensos e frequentes – e não se leva em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados.
“Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da natureza não afeta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. A este respeito, o sofrimento das comunidades indígenas é emblemático”, observa o Santo Padre.
Ele denuncia ainda que, por vezes, a própria natureza torna-se um instrumento de troca, uma mercadoria a negociar para obter ganhos econômicos ou políticos. “Nestas dinâmicas, a Criação transforma-se num campo de batalha pelo controle dos recursos vitais, como testemunham as zonas agrícolas e as florestas que se tornaram perigosas por causa das minas, a política da ‘terra queimada’, os conflitos que eclodem em torno das fontes de água, a distribuição desigual das matérias-primas, penalizando as populações mais fracas e minando a própria estabilidade social”, lista Leão XIV.
“Uma questão de fé e humanidade”
Tais feridas, explica, se devem ao pecado, uma vez que certamente não era isso que Deus tinha em mente quando confiou a Terra ao homem. A Bíblia não promove o domínio despótico do ser humano sobre a Criação, sinaliza o Papa, lembrando que o texto que convida o homem a “cultivar e guardar” o jardim do mundo (Gn 2,15) implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza.
Segundo o Pontífice, a justiça ambiental, implicitamente anunciada pelos profetas, não pode ser considerada um conceito abstrato. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente, tratando-se de uma questão de justiça social, econômica e antropológica.
“Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido”, acrescenta o Santo Padre. “Em um mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da Criação torna-se uma questão de fé e de humanidade”, destaca.
Ecologia integral, caminho a seguir
Leão XIV enfatiza que chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. “Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança”, escreve. “Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus”, complementa.
Neste contexto, o Pontífice recorda, entre as iniciativas da Igreja que são como sementes lançadas neste campo, o Borgo Laudato si’ – um projeto de educação para a ecologia integral pensado pelo Papa Francisco que visa a ser um exemplo de como se pode viver, trabalhar e fazer comunidade aplicando os princípios da carta encíclica lançada em 2015.
Sobre ela, o Santo Padre afirma que há 10 anos o texto escrito pelo seu predecessor acompanha a Igreja e muitas pessoas de boa vontade. “Que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem ‘guardadas e cultivadas’ com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado”, conclui.