Francisco se manifestou nessa última semana sobre a reabertura das escolas em diferentes países
Vatican News
A maioria das escolas na Itália reabriram regularmente a partir desta segunda-feira, 14, depois de 6 meses fechadas por causa do lockdown imposto pela pandemia da Covid-19. Apesar do número de contágios continuar aumentando no país, mais de 5,5 milhões de estudantes retornaram às aulas, segundo dados do Ministério da Educação. “Se as regras forem respeitadas”, entre evitar aglomerações, manter distanciamento, usar a máscara e lavar sempre as mãos, afirma o presidente da Sociedade Italiana de Pediatria (SIP), Alberto Villani, em entrevista a Sky Tg24, o ambiente escolar é seguro e “o risco concreto de contágio é quase zero”.
O tom otimista para a volta às aulas também veio do Papa Francisco que, no último sábado, 12, por ocasião da Peregrinação Nacional das Famílias pela Família na Itália, fez votos para que o reinício do ano escolar seja vivido “com responsabilidade” por todos. Na última quarta-feira, 9, ao saudar os fiéis de língua árabe na Audiência Geral, no Vaticano, o Pontífice também se dirigiu ao universo estudantil:
“Em uma sociedade cada vez mais abalada por grandes desafios que o homem contemporâneo precisa enfrentar, vocês, estudantes e professores, que nestes dias voltaram à escola, sejam os verdadeiros artífices do futuro. Que o Senhor os ajude a se tornarem protagonistas de um mundo mais justo e fraterno, mais acolhedor e solidário, onde a paz possa triunfar na rejeição de qualquer forma de violência.”
Todos à escola: os heróis de hoje
O Vatican News entrevistou a neuropsicóloga e psicoterapeuta da Fundação Policlínico Universitário Agostino Gemelli, de Roma, Daniela Chieffo, sobre a implicação psicológica desse retorno às aulas com a presença invisível da Covid-19 que, inevitavelmente, deve mudar o comportamento de crianças, adolescentes e jovens. As máscaras e o distanciamento físico irão impedir as relações sociais fundamentais normais entre eles.
Daniela – “Para as nossas crianças e jovens, retornar, mesmo com medidas de distanciamento, significa, antes de tudo, retornar na proteção de relações que é a escola, então, retomar, de alguma forma, o relacionamento com os coetâneos. Com, claramente, um distanciamento que, no entanto, pode ser compensado com outras estratégias de comunicação. Portanto, certamente há necessidade de outras estratégias de contato físico, mas a proximidade e distância devem ser compensadas neste período com uma forma diferente de afeto, é necessário favorecer, acima de tudo, a comunicação.”
A especialista, então, afirma que, para não desenvolver certos medos, é importante que os estudantes “não sejam considerados veículos de contágio”:
Daniela – “Isso é um perigo especialmente para os pequenos, pensando que eles podem adoecer os próprios avós. Essas são mensagens que devem ser tranquilizadas, pois é claro que pode ser desenvolvida uma ansiedade, um medo do outro ao se relacionar. Acredito que, no contexto do crescimento, crianças e adolescentes devem receber informações com uma espécie de serenidade, sem colocar a ênfase em certos conceitos de contágio, com alarmismos ou um sentido militarista dessas medidas de cautela.”
Sobre o futuro e a recordação desse período de pandemia, sem abraços e com muitas máscaras de proteção, a especialista afirma:
Daniela – “Acredito que eles se lembrarão disso como pertencendo a um momento muito difícil que toda a humanidade viveu e está vivendo, portanto, serão crianças e jovens que já irão ter desenvolvido recursos em si mesmos em comparação àqueles que não viveram esse período e, provavelmente, acredito que devemos promover a resiliência nessas crianças. A recordação será uma recordação, certamente para alguns até traumática, mas também é verdade que acreditamos muito nas famílias, mas também nos professores, neste caso, na sociedade, para que este evento traumático possa se transformar em um evento de crescimento e até mesmo de partilha.”
“Estamos todos vivendo um período muito difícil, e as crianças e adolescentes estão vivendo com as suas famílias, portanto, superá-lo poderia fazê-los se sentir mais heróis e até mais maduros do que outras crianças e adolescentes que não viveram esse período.”