Na Missa de hoje, Francisco lembrou o martírio de São João, um grande homem e grande santo, que morreu no anonimato, mas soube apontar Jesus
Da redação, com VaticanNews
“A vida tem valor somente na doação ao outros, no amor, na verdade, na vida cotidiana, na família”, destacou o Papa Francisco na homilia da Missa celebrada nesta sexta-feira, 8, na Casa Santa Marta. O Santo Padre refletiu sobre o Evangelho do dia (cf. Mc 6,14-29) que fala do martírio de São João Batista, o “o maior homem nascido de mulher”, segundo Jesus.
Francisco convida a abrir o coração para que o Senhor fale a cada um. Na narrativa bíblica existem quatro personagens: o rei Herodes “corrupto e indeciso”, Herodíades, a mulher do irmão do rei, “que sabia somente odiar”, Salomé, “a bailarina vaidosa”, e “o profeta decapitado solitário na prisão”. Uma narração que Francisco descreve começando pelo fim, com os discípulos de João que pedem o corpo do profeta para sepultá-lo.
João mostra Jesus
“O maior terminou assim”, comentou o Papa. “Mas João sabia, ele sabia que deveria se aniquilar. Ele o havia dito desde o início, falando de Jesus: ‘Ele deve crescer, eu, ao invés, diminuir’. E ele diminuiu até a morte. Foi o precursor”, disse Francisco, o anunciador de Jesus, que disse “Não sou eu, este é o Messias”.
O Papa recordou que João mostrou Jesus aos primeiros discípulos e depois a sua luz se apagou aos poucos, até a escuridão daquela cela, na prisão, onde, solitário, foi decapitado.
Mas por que isso aconteceu?, perguntou Francisco. “A vida dos mártires não é fácil de contar. O martírio é um serviço, um mistério, é um dom da vida muito especial e muito grande”. E, no final, as coisas se concluem violentamente, por causa de “atitudes que levam a tirar a vida de um cristão, de uma pessoa honesta, e a fazê-lo mártir”.
Diferentes atitudes
O Papa então analisou as atitudes dos três protagonistas do martírio. Antes de tudo, o rei, que acreditava que João fosse um profeta, o ouvia de bom grado, a um certo ponto o protegia, mas o mantinha na prisão. Estava indeciso, porque João “repreendia o seu pecado”, o adultério.
No profeta, explicou o Papa Francisco, Herodes “ouvia a voz de Deus, que lhe dizia: ‘Muda de vida’, mas não conseguia fazê-lo. O rei era corrupto, e onde há corrupção, é muito difícil sair”.
Um corrupto que “buscava equilíbrios diplomáticos” entre a própria vida, não só adúltera, mas também de “tantas injustiças que levava em frente”, e a sua consciência, “que sabia que aquele homem era santo”. E não conseguia desfazer o nó.
Herodíades, a mulher do irmão do rei, morto por Herodes para ficar com ela. O Evangelho diz dela somente que “odiava” João, porque dizia as coisas claramente. “E sabemos que o ódio é capaz de tudo – comenta Francisco – é uma grande força. O ódio é o sopro de satanás. Pensemos que ele não sabe amar, não pode amar. O seu “amor” é o ódio. E essa mulher tinha o espírito satânico do ódio”, que destrói.
E por fim, o terceiro personagem, a filha de Herodíades, Salomé, brava em dançar, “que agradou tanto aos convidados, como ao rei”. Herodes, naquele entusiasmo, promete à moça “Eu te darei tudo”. “Usa as mesmas palavras – recorda o Pontífice – que usou Satanás para tentar Jesus.” Se você me adorar eu lhe darei tudo, todo o reino. ” Mas Herodes não o podia saber:
Por detrás desses personagens está satanás, semeador de ódio na mulher, semeador de vaidade na moça, semeador de corrupção no rei. E o “maior homem nascido de uma mulher” acabou sozinho, em uma cela escura da prisão, por capricho de uma dançarina vaidosa, o ódio de uma mulher diabólica e a corrupção de um rei indeciso. É um mártir, que deixou sua vida diminuísse, diminuísse, diminuísse, para dar lugar ao Messias.
O testemunho de um grande santo
João morre ali, na cela, no anonimato, “como tantos dos nossos mártires”, comenta o Papa Francisco, amargamente. O Evangelho diz somente que “os discípulos foram pegar o cadáver para sepultá-lo”. Pensemos todos, acrescenta o Papa, que este “é um grande testemunho, de um grande homem, de um grande santo”:
A vida só tem valor no doá-la, no doá-la no amor, na verdade, no doá-la aos outros, na vida cotidiana, na família. Sempre doá-la. Se alguém pega a vida para si mesmo, para guardá-la, como o rei em sua corrupção ou a senhora com o ódio, ou a menina, a jovem com sua própria vaidade – um pouco adolescente, inconsciente – a vida morre , a vida acaba murchando, não serve.
João, conclui Francisco, deu a sua vida: “Eu, pelo contrário, devo diminuir para que Ele seja ouvido, seja visto, para que Ele se manifeste, o Senhor”:
Eu só aconselho a vocês a não pensarem muito sobre isso, mas de recordar a imagem, os quatro personagens: o rei corrupto, a senhora que só sabia odiar, a jovem vaidosa que não tem consciência de nada, e o profeta decapitado, sozinho em uma cela. Olhar para isso, e cada um abra o coração para que o Senhor lhe fale sobre isso.