Francisco destaca que ser humano precisa vencer lógica das divisões e viver dignidade de filhos de Deus
Da redação, com Boletim da Santa Sé
O Papa Francisco encerrou, neste domingo, 31, sua viagem ao Marrocos com a Santa Missa junto à comunidade católica de Rabat. A celebração, em espanhol, foi realizada no Parque Esportivo Príncipe Moulay Abdellah, com a presença de cerca de 10 mil pessoas, e concelebrada por dois cardeais e 24 bispos e arcebispos da região.
Na homilia, o Santo Padre refletiu sobre o Evangelho de hoje, que narra a parábola do Filho Pródigo (cf. Lc 15, 1ss). E apontou que a leitura bíblica apresenta o comportamento do pai quando vê regressar o seu filho: comovido até às entranhas, não espera que ele chegue a casa, mas surpreende-o correndo ao seu encontro. Um filho ansiosamente esperado. Um pai comovido ao vê-lo regressar.
Em contrapartida, o comportamento do filho mais velho, que não se alegra com a volta do seu irmão. “Para ele, o irmão continua perdido, porque já o perdera no seu coração. Incapaz de participar na festa, não só não reconhece o irmão, mas tão-pouco reconhece o pai. Prefere ser órfão à fraternidade, o isolamento ao encontro, a amargura à festa”, relembra Francisco.
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O Papa explicou que esta narrativa manifesta o mistério da humanidade, por um lado a festa do filho reencontrado, por outro um certo sentimento de indignação por se festejar seu regresso.
“Deste modo, mais uma vez vem à luz a tensão que se vive no meio da nossa gente e nas nossas comunidades, e até dentro de nós mesmos. Uma tensão que, a partir de Caim e Abel, mora em nós e que somos convidados a encarar: Quem tem direito a permanecer entre nós, ocupar um lugar à nossa mesa e nas nossas assembleias, nas nossas solicitudes e serviços, nas nossas praças e cidades? Parece continuar a ressoar aquela pergunta fratricida: Porventura sou eu o guardião do meu irmão?”, refletiu o Santo Padre.
Segundo ele, no limiar daquela casa, surgem as divisões e desencontros que sempre atingirão as portas dos grandes desejos do ser humano, de suas lutas pela fraternidade e pela possibilidade de cada pessoa experimentar sua condição e dignidade de filho. Mas também, brilhará em toda a sua claridade o desejo do Pai:
“Que todos os seus filhos tomem parte na sua alegria; que ninguém viva em condições desumanas como seu filho mais novo, nem na orfandade, isolamento ou amargura como o filho mais velho. O seu coração quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”, enfatizou.
Vencer as divisões
Francisco destacou que há tantas circunstâncias que podem alimentar a divisão e o conflito entre as pessoas. E o ser humano está sempre ameaçado pela tentação de crer no ódio e na vingança como formas legítimas de obter justiça de maneira rápida e eficaz.
“Mas a experiência diz-nos que a única coisa que conseguem o ódio, a divisão e a vingança é matar a alma da nossa gente, envenenar a esperança dos nossos filhos, destruir e fazer desaparecer tudo o que amamos”, afirmou.
Ciente desta realidade, Jesus convida a fixar e contemplar o coração do Pai, explicou o Papa. “Só a partir dele poderemos, cada dia, redescobrir-nos como irmãos. Só a partir deste horizonte amplo, capaz de nos ajudar a superar as nossas míopes lógicas de divisão, é que seremos capazes de alcançar um olhar que não pretenda obscurecer ou desmentir as nossas diferenças, buscando talvez uma unidade forçada ou uma marginalização silenciosa. Só se formos capazes diariamente de levantar os olhos para o céu e dizer Pai Nosso, é que poderemos entrar numa dinâmica que nos possibilite olhar e ousar viver, não como inimigos, mas como irmãos”.
Ser filhos amados pelo Pai
Francisco explicou que a frase dita pelo pai ao filho mais velho “Tudo o que é meu é teu” (Lc 15, 31), não se refere apenas aos bens materiais, mas a ser participante também do seu próprio amor e compaixão.
“Esta é a maior herança e riqueza do cristão. Com efeito, em vez de nos medirmos ou classificarmos com base numa condição moral, social, étnica ou religiosa, podemos reconhecer que existe outra condição que ninguém poderá apagar ou aniquilar, pois é puro dom: a condição de filhos amados, esperados e festejados pelo Pai”, destacou.
O Pontífice alertou ainda os presentes a não cairem na tentação de reduzir sua filiação a uma questão de leis e proibições. E explicou que a filiação e missão de cada pessoa nascerá, a partir da imploração feita por pessoas crentes que diariamente rezam com humildade e constância: ‘Venha a nós o vosso Reino’.
Por fim, Francisco recordou que a parábola deixa o final em aberto, pois não fala da decisão tomada pelo filho mais velho, ao ouvir o apelo do pai para que entre e participe da festa.
“Podemos pensar que este final aberto sirva para cada comunidade, cada um de nós o escrever com a sua vida, o seu olhar e atitude para com os outros. O cristão sabe que, na casa do Pai, há muitas moradas; de fora, ficam apenas aqueles que não querem tomar parte na sua alegria”, ressaltou.
Cultura da misericórdia
O Papa concluiu sua homilia, agradecendo ao povo de Marrocos pela forma como dão o testemunho do Evangelho da misericórdia e animou-os a continuar a fazer crescer a cultura da misericórdia.
“Uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem desvie o olhar ao ver o seu sofrimento. Continuai ao lado dos humildes e dos pobres, daqueles que são rejeitados, abandonados e ignorados; continuai a ser sinal do abraço e do coração do Pai”, encorajou.
Após a Missa, Francisco dirigiu-se ao Aeroporto Intenacional de Rabat/Salé para a cerimônia de despedida. O Pontífice deve deixar o país às 17h15 (hora local – 13h15 em Brasília), e a previsão de chegada no aeroporto de Roma é 21h30 (hora local – 16h30 em Brasília).