No primeiro discurso de sua viagem ao Marrocos, Papa também encorajou cristãos e católicos a promoverem a fraternidade
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
A promoção do diálogo inter-religioso, o aprofundamento dos laços de amizade, a fim de um futuro melhor para as novas gerações, além do olhar voltado para a situação dos migrantes. Esses foram alguns dos pontos destacados pelo Papa Francisco em seu primeiro discurso no Marrocos neste sábado, 30. A agenda de atividades começou no encontro com o povo marroquino e as autoridades do país.
“Esta visita é, para mim, motivo de alegria e gratidão, porque me permite, antes de tudo, descobrir as riquezas da vossa terra, do vosso povo e das vossas tradições e, depois, pela grande oportunidade de promover o diálogo inter-religioso e o conhecimento mútuo entre os fiéis das nossas duas religiões”.
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Francisco recordou os 800 anos do histórico encontro entre São Francisco de Assis e o Sultão al-Malik al-Kamil. Segundo ele, um evento profético que mostra que a coragem do encontro é caminho de paz e harmonia frente a situações de extremismo e ódio que dividem e destroem.
O Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado recentemente na viagem apostólica a Abu Dhabi, foi citado pelo Papa em seu discurso, mencionando a cultura do diálogo, a colaboração e o conhecimento mútuo. Trata-se de um caminho a percorrer, disse Francisco, para ajudar a superar tensões e mal-entendidos que levam ao medo e à contraposição.
“É indispensável contrapor ao fanatismo e ao fundamentalismo a solidariedade de todos os crentes, tendo como preciosas referências das nossas ações os valores que nos são comuns. Nesta perspetiva, sinto-me feliz por poder visitar, daqui a pouco, o Instituto Mohammed VI para imãs, pregadores e pregadoras, criado por Vossa Majestade para proporcionar uma formação adequada e sadia contra todas as formas de extremismo, que levam muitas vezes à violência e ao terrorismo e constituem, em todo o caso, uma ofensa à religião e ao próprio Deus”.
Outro evento citado pelo Papa foi a Conferência Internacional sobre os Direitos das Minorias Religiosas no Mundo Islâmico, realizada em Marraquexe, também no Marrocos, em janeiro de 2016. Francisco demonstrou seu contentamento pelo fato do evento ter permitido condenar a instrumentalização de uma religião para discriminar ou agredir outras. Também mencionou a criação do Instituto Ecumênico Al Mowafaqa, em Rabat, em 2012, por iniciativa católica e protestante, o que expressa a vontade dos cristãos que lá vivem de construir pontes para manifestar e servir a fraternidade humana.
Francisco recordou ainda a COP 22 (Conferência Internacional sobre as Alterações Climáticas) realizada também no Marrocos. Um evento que, segundo ele, comprovou a tomada de consciência por parte das nações sobre a necessidade de proteger o planeta e contribuir para a conversão ecológica e o desenvolvimento humano integral.
A situação dos migrantes
A crise migratória não ficou de fora do discurso de Francisco. Ele recordou, nesse sentido, a Conferência Intergovernamental sobre o Pacto Mundial para uma Migração Segura, Ordenada e Regular realizada em dezembro passado no Marrocos.
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O Santo Padre disse que ainda há muito a fazer sobre esse assunto, apontando a necessidade de passar dos compromissos assumidos a ações concretas, considerando os migrantes como pessoas, não como números.
“Trata-se dum fenômeno que nunca encontrará uma solução na construção de barreiras, na propagação do medo do outro nem na negação de assistência a quantos aspiram por uma legítima melhoria para si próprio e sua família. Sabemos também que a consolidação duma paz verdadeira passa pela busca da justiça social, indispensável para corrigir os desequilíbrios econômicos e as desordens políticas que foram sempre os principais fatores de tensão e ameaça para a humanidade inteira”.
Finalizando o discurso, o Papa falou do desejo dos cristãos de participar da edificação de uma nação solidária e próspera no Marrocos. Ele citou nesse ponto a colaboração da Igreja Católica no país com suas obras sociais bem como no campo da educação e encorajou os católicos e os cristãos a serem servidores, promotores e defensores da fraternidade humana.