Prefácio do Papa no livro “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática” cita e adapta frase de Shakespeare
Da redação, com Vatican News
Na manhã desta terça-feira, 30, foi realizada uma coletiva de imprensa para a apresentação do livro “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática”.
A iniciativa é da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A obra tem o prefácio do Papa Francisco. A coletiva contou com a presença dos subsecretários da Seção Migrantes e Refugiados, cardeal Michael Czerny S.I e padre Fabio Baggio, C.S.
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Ver ou não ver, eis a questão!
O prefácio do livro escrito pelo Papa Francisco apresenta a obra como um guia repleto de fatos, interpretações políticas e propostas relevantes. ” Desde logo, sugiro que adaptemos o famoso “ser ou não ser” de Hamlet e afirmemos: ‘Ver ou não ver, eis a questão!’ Tudo começa com a capacidade de ver de cada um, sim, a minha e a vossa”.
Francisco destaca a indiferença da sociedade: “Somos submersos por notícias e imagens de povos inteiros desenraizados devido a cataclismos climáticos e forçados a migrar. Mas o efeito que estas histórias produzem em nós e a nossa resposta (…) dependem da nossa capacidade de ver o sofrimento contido em cada história.”
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Não é algo inevitável
“O fato de as pessoas se deslocarem porque o seu habitat local se tornou inabitável pode parecer um processo natural, algo inevitável. No entanto, a deterioração climática resulta muito frequentemente de escolhas erradas e atividade destrutiva, egoísmo e negligência que colocam a humanidade em conflito com a criação, a nossa casa comum”.
O Pontífice pondera que a pandemia “nos atingiu sem aviso”, enquanto que a crise climática manifesta-se desde a Revolução Industrial e não atinge de modo uniforme, mas o maior efeito é sentido pelos que menos contribuíram para elas.
Números crescentes de deslocados
O Papa alerta ainda que “números impressionantes e crescentes de deslocados pela crise climática estão rapidamente a tornar-se uma emergência grave do nosso tempo”.
“Forçadas a abandonar campos e zonas costeiras, casas e aldeias, as pessoas fogem às pressas, levando consigo apenas algumas lembranças e tesouros, fragmentos da sua cultura e patrimônio. Partem com a esperança de recomeçar as suas vidas num local seguro. Mas, na maioria dos casos, acabam em favelas perigosamente sobrepovoadas ou em alojamentos precários, à mercê do destino”.
Apelo do Papa
“As pessoas expulsas dos seus lares pela crise climática necessitam ser acolhidas, protegidas, promovidas e integradas. Elas querem recomeçar. Para criar um novo futuro para os seus filhos, precisam ter condições e ser ajudadas. Acolher, proteger, promover e integrar são verbos que implicam uma ação útil. Retiremos, uma a uma, as barreiras que bloqueiam o caminho dos deslocados, o que os reprime e marginaliza, impede-os de trabalhar e ir à escola, tudo o que os torna invisíveis e nega a sua dignidade.”
Não podemos regressar e não podemos começar de novo
Francisco recorda que as Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática exigem um novo olhar sobre este drama do tempo atual.
“Não podemos regressar e não podemos começar de novo.” Convidam a tomar consciência da indiferença das sociedades e governos para com esta tragédia. Pedem para ver e cuidar. Convidam a Igreja e outros participantes a agir em conjunto e especificam o modo de o fazer”.
Por fim, o Pontífice afirma: “Não vamos superar crises como as alterações climáticas ou a covid-19 refugiando-nos no individualismo, mas apenas com o esforço de muitos em conjunto, através do encontro, do diálogo e da cooperação.”
O Papa disse que se alegrou pelo fato de as Orientações Pastorais terem sido elaboradas pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, juntamente com a Seção Migrantes e Refugiados e pelo Setor de Ecologia Integral.
“Esta colaboração é, em si mesma, um sinal do caminho a seguir. Ver ou não ver é a questão que nos conduz à resposta numa ação conjunta. Estas páginas mostram-nos o que é preciso e, com a ajuda de Deus, o que fazer”.