Papa vindo do "fim do mundo": impacto da eleição de Francisco

Especialistas recordam e comentam a repercussão da eleição do Cardeal Jorge Mario Bergoglio como Sucessor de Pedro

Liliane Borges
Da Redação

Papa vindo do "fim do mundo": impacto da eleição de Francisco

Com sorriso largo e espontaneidade, Papa Francisco conquistou os fiéis / Foto: L’Osservatore Romano

Argentino, 77 anos, religioso jesuíta e um “jeitão pra lá de espontâneo”. Esse é o Papa Francisco,  eleito no Conclave mais midiático da história. No dia 13 de março de 2013, após a 5ª votação,  a fumaça branca anunciava que a Igreja tinha um novo papa. E o mais inacreditável ainda estava por ser conhecido: Pela primeira vez era escolhido um latino-americano para assumir a Sé de Pedro.

“Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui” , declarou Jorge Mário Bergoglio, no primeiro discurso.

As primeiras palavras,  acompanhadas por uma multidão reunida na Praça São Pedro,  tiveram efeito imediato:  aceitação e empatia com o papa do “fim do mundo”.

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Nos primeiros dias após eleição rodaram pelo mundo as notícias dos gestos espontâneos e situações irreverentes do papa argentino. Desde andar de ônibus e sair para pagar a conta do hotel a conversas com jardineiros sobre futebol.

O especialista em comunicação,  padre Antônio Spadaro,  afirma que Francisco, além de ser “bom com as palavras, é bom com os gestos”. O jeito expansivo propicia às pessoas sentirem-se próximas a ele e “isso já faz com que todos parem para ouvi-lo” destaca.

Com 11 meses de pontificado, o impacto de Francisco sobre os católicos, sobre a sociedade, continua latente. Eleito personalidade do ano de 2013, por uma das revistas de maior circulação do mundo, a Times, o Pontífice é apontado como popular.

“O que torna este Papa tão importante é a velocidade com que ele tem capturado a imaginação de milhões de pessoas que tinham desistido de ter esperança na Igreja”, destacou a revista por ocasião da escolha.

O porta-voz do Vaticano, Padre Federico Lombardi, ao comentar o título, na ocasião, explicou que  Francisco não tem a mínima intenção “de se  tornar famoso ou receber honras, mas se a escolha ajudar a propagar o evangelho, ele certamente ficaria feliz”.

Querendo ou não, o Papa passou por 2013  mais famoso do que os famosos, tendo o seu nome em  primeiro lugar nas buscas na internet. Foram mais de  1.737.300  pessoas digitando Francisco, para obter alguma informação ou ler algum discurso do Pontífice. Foi o mais mencionado na web, com cerca de  49 milhões de citações.

O filósofo e especialista em Doutrina Social da Igreja, Evandro Gussi, destaca que os papas sempre causaram um impacto na sociedade, mostrando que a Igreja sempre  influenciou nos caminhos da sociedade. Além disso, o contexto midiático em que se vive atualmente, faz com que os gestos   de Francisco estejam em constante exposição.

“O que observamos de fundamental no Papa Francisco são as  virtudes que ele transmite com muita capacidade: a humildade e a busca por relações autênticas entre  as pessoas”,  destaca Evandro.

Segundo o especialista,  o  ponto de partida para a popularidade e impacto causado por Francisco, está alicerçado em seu modo de transmitir o que pensa. “O Papa Francisco é um homem autêntico e nessa autenticidade ele exprime aquilo de que está cheio , ou seja,  essa humildade, esse contato direto com as pessoas, é um ponto muito positivo”, afirma. .

Padre Spadaro comenta que a “normalidade” com que Francisco realiza seus compromissos chama a atenção. O especialista aponta que o tipo de comunicação do Papa, simples e direto, é responsável pelo impacto imediato.

Segundo Evandro, o perigo em tudo isso é separar Francisco da Igreja Católica, apontando-o como um reformador, dissociado da Tradição do Magistério.

“Há propagandas, parece- me  que até articuladas,  que colocam o Papa Francisco como um revolucionário que quer romper com a tradição, com a doutrina e a fé, o que não é o que o Papa Francisco vive. O seu modo de agir, muitas vezes irreverente, não significa de modo algum ruptura com a Igreja”, comenta o filósofo.

Os 338 dias de Francisco como sucessor de Pedro foram seguidos passo a passo, com as mais variadas opiniões e discursos sobre o seu “estilo” de governar. Porém o próprio Papa já deixou claro que não se trata de gerenciar ou algo do tipo, de modo que sua revolução é apresentar o Evangelho ao mundo.

“Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se transforme num canal adequado para a evangelização do mundo atual, mais do que para a autopreservação”, declarou na Exortação apostólica Evangelii Gaudium.

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