Jornalistas da Canção Nova contam como foram os bastidores do anúncio do Papa Francisco na sacada da Basílica de São Pedro
Kelen Galvan
Da Redação
A fumaça branca e o anúncio do novo Papa são o ponto alto de um Conclave. Muitos já tiveram a oportunidade de ver esses momentos. Alguns, pessoalmente, no Vaticano; outros com a transmissão da mídia. O que poucos sabem é como são os bastidores do trabalho da imprensa nesse período.
A equipe da Canção Nova viveu momentos marcantes na eleição do Papa Francisco, no dia 13 de março de 2013.
O responsável da emissora pela cobertura, Gilberto Leandro Maia, recorda que, naquele dia, já estava programada uma entrada ao vivo às 20h30 (horário de Roma). “Pensamos: se a eleição do Papa acontecer às 19h, até ele se preparar, irá sair na sacada da Basílica no horário que estivermos ao vivo”, lembra.
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Na expectativa para a segunda fumaça, no segundo dia do Conclave, Gilberto deu suporte como cinegrafista para o repórter Ronaldo da Silva. “Naquele dia, estava chovendo e muito frio, e eu falei para o Ronaldo: vamos sair mais cedo para ficar bem na frente da Praça [de São Pedro] e pegar uma boa imagem [da chaminé]. Se a fumaça saísse branca, eu precisaria voltar rápido ao nosso estúdio para a transmissão ao vivo”.
Os dois estiveram entre as primeiras equipes a chegar na Praça de São Pedro, no Vaticano. “Uma multidão estava ali. Comecei a gravar o Ronaldo e, de repente, a fumaça branca. Eu dei sinal para ele. E, já na gravação, ele começou a falar: ‘Temos Papa!’. Terminada a gravação, eu disse ao Ronaldo: precisamos levar a matéria para editar e gerar para o Brasil”, relembra Gilberto.
Aqui no Brasil, o apresentador da cobertura da sucessão papal, padre Roger Araújo, na expectativa para a fumaça, disse não esperar que o Papa fosse eleito já no segundo dia de Conclave. “Eu não tinha expectativa de que, naquele escrutínio [votação], fosse eleito o Papa; afinal, fazia menos de 24 horas que o Conclave havia iniciado”.
“Quando começou a sair a fumaça, ela ficou branca de uma hora para outra, e não parava mais de sair. Aí, realmente, a emoção tomou conta de nós”, recorda padre Roger.
Ao vivo com o Papa
Com o grande número de peregrinos que lotavam a praça de São de São Pedro, transitar por ali ficou mais difícil. Gilberto conta que, quando chegou ao local reservado para o link ao vivo, já eram 20h20. “Montei rápido o equipamento, e tentava ligar para o Brasil para confirmar se eles estavam recebendo nosso sinal de Roma. Mas, com a eleição do Papa, nenhum telefone funcionava, estava tudo congestionado”, conta.
“E aí, meu filho, vamos entrar?”, perguntou o fundador da Comunidade Canção Nova, monsenhor Jonas Abib, que seria o entrevistado naquele momento. Sem conseguir contato com o Brasil, Gilberto tomou uma atitude inusitada.
“Já eram 20h31, e eu falei: ‘no ar, padre’, sem saber se estava realmente no ar. Mas, por incrível que pareça, naquele momento, o Brasil já estava recebendo nosso sinal. Nós entramos, ao vivo, dando a notícia com a imagem do novo Papa na sacada ao fundo. Foi uma atitude de fé”.
A jornalista Liliane Borges foi a apresentadora do link. “Junto de algumas TVs do mundo inteiro e ao lado do monsenhor Jonas Abib, pude mostrar aos telespectadores a grande alegria de toda a Igreja naquele momento. Um novo Papa, com o nome de Francisco!”.
“Foi o momento principal de toda a cobertura”, recorda a jornalista. “Pude narrar às pessoas que não somente tínhamos um Papa, mas que ele era do nosso continente. Alguém ‘perto de nós'”, descreve.
Simplesmente Francisco
Padre Roger relembra que quando o nome de Bergoglio, um cardeal argentino, foi anunciado como novo Papa, um silêncio inesperado fez-se no estúdio. A expectativa era grande, a mídia fez muitas especulações de possíveis candidatos, mas a escolha foi inusitada e surpreendeu a todos.
O nome que o Pontífice escolheu também foi uma grande novidade. “Estávamos acostumados com nomes acompanhados de números: Bento XVI, João Paulo II, João XXIII… e o dele era ‘Francisco’. Um nome nunca escolhido antes”.
Um dos enviados especiais do portal cancaonova.com a Roma, Daniel Machado de Assis, recorda que, ao ouvir o nome escolhido pelo novo Papa, lembrou-se de uma experiência pessoal que viveu em Assis, na Itália, dias antes do Conclave.
“Ao entrar na Porciúncula, aquela [igreja] que São Francisco reconstruiu, eu senti uma forte presença de Deus e um significado diferente das palavras: ‘reconstrói a minha Igreja’. Senti que esta ordem de Deus ao santo de Assis era algo para aquele momento da Igreja. (…) Quando ouvi o cardeal Tauran pronunciar ‘Franciscum’, como nome do novo Papa, me veio à mente, como num filme, a igrejinha da Porciúncula e, novamente, a voz de Deus: ‘Francisco, reconstrói a minha Igreja'”, explica Daniel.
O jornalista padre Roger lembra ainda a primeira aparição de Francisco após ser eleito. “No primeiro momento, parecia tímido, mas, quando começou a falar, nos cativou e nunca mais parou de nos cativar. Ele é cativante pelo que fala, pelo que faz, pelo que escreve e pela disposição que tem, apesar de sua idade”.
“Quando Bergoglio se inclinou, na sacada da Basílica, e pediu oração para o povo, fez-se silêncio na Praça de São Pedro. Para mim, foi algo profundo e inesquecível”, recorda Daniel.
“Um momento que nunca mais sairá do meu coração”, afirma padre Roger.