Segundo sacerdote, gesto simbólico na primeira aparição pública já revelou o núcleo do pensamento de Francisco: a cultura do encontro
Jéssica Marçal
Da Redação
“Irmãos e irmãs, boa noite! Vocês sabem que o dever do Conclave é dar um bispo a Roma. Parece que meus irmãos cardeais foram buscá-lo no fim do mundo, mas estamos aqui”. Com jeito simples e até brincalhão, essas foram as primeiras palavras pronunciadas pelo Papa Francisco após sua eleição como Bispo de Roma em 13 de março de 2013.
No segundo dia de Conclave, iniciado em virtude da renúncia de Bento XVI, surgiu o nome do novo Papa: um cardeal argentino, primeiro Papa latino-americano.
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Padre João Carlos Almeida, o padre Joãozinho, scj, acompanhou tudo pela televisão e conta que não identificou, em um primeiro momento, quem era Jorge Mario Bergoglio. Só depois ele se lembrou do arcebispo de Buenos Aires e de um livro de sua autoria, sobre o diálogo dele com o Rabino Abraham Skorka.
“Imediatamente eu pensei: é um Papa do diálogo (…) A primeira coisa que me chamou à atenção foi que ele não se apresentou como Papa, mas como Bispo de Roma; depois, entendemos que é um bispo vem para confirmar os irmãos na fé, fortalecendo a dimensão colegial da Igreja. Hoje, essa é a palavra de ordem: colegialidade”.
A eleição de Francisco causou surpresa, principalmente tendo em vista que circulavam, na mídia, vários outros nomes de cardeais “mais cotados” para o papado. “É claro que um Papa vindo, como ele mesmo disse, ‘do fim do mundo’, não cai na vista de uma imprensa que tem um olhar muito central, às vezes eurocêntrico”.
Gesto simbólico
Em sua primeira aparição pública, Francisco também chamou a atenção por um gesto simbólico: reclinar-se e pedir a oração do povo antes mesmo de ele dar sua bênção como Bispo de Roma. Para padre Joãozinho, olhando do primeiro momento até hoje, vê-se que o núcleo do pensamento e da mística do Papa Francisco se resume na cultura do encontro.
“A cultura do encontro sempre começa com a disposição de sair de si e ouvir o outro. Antes de falar, o missionário precisa ouvir. Assim fazia Jesus. (…) O nosso Papa Francisco nos ensina essa dinâmica do encontro, a começar pelo silêncio referente ao outro, à atenção ao outro. Então, naturalmente, antes de ele dizer qualquer coisa, ele pede: ‘Rezem por mim’. Não é uma coisa que ele começou como Papa, ele já era assim”.
A linguagem de Francisco
Desde o primeiro momento como Papa, Francisco também tem se caracterizado por adotar uma linguagem bem simples, próxima do coloquial.
Padre Joãozinho explica que cada pessoa tem sua ênfase, seu “jeitão”. João Paulo II, por exemplo, foi um Papa missionário, que surpreendeu pelo número de viagens. João Paulo I encantou o mundo com apenas um sorriso. Bento XVI foi um Papa mestre. Francisco é, segundo padre Joãozinho, um “Papa mártir”, no sentido de “martiria”, testemunho.
“Ele (Francisco) fala com suas palavras apenas 10% do que ele quer dizer. Os outros 90% ele fala com o gesto. Então, há coisas que Francisco nem disse, mas o mundo entendeu, pelo modo como ele abraçou a todos, pela maneira como ele agiu firme na reforma da Cúria. (…) Ele consegue essa junção rara entre vigor e ternura”.
Até 13 de março, você confere no especial papa.cancaonova.com matérias especiais recordando momentos marcantes desse primeiro ano de pontificado de Francisco.
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